Um caso raro na Igreja: Padre Pio faleceu aos 23 de setembro de 1968 e já aos 16 de junho de 2002 foi canonizado solenemente pelo Papa João Paulo II. Talvez nunca na história houve tanto povo na Praça São Pedro e na via Conciliação, anexa à Praça, como nesta oportunidade. O que fez de tão extraordinário este frade capuchinho para ser tão popular e amado pelo povo?
Na verdade, Frei Pio ficou toda a vida no mesmo mosteiro (San Giovanni Rotondo), dedicado à oração, ao atendimento espiritual de quantos o procurassem, de modo especial para a confissão, e ajudava os pobres e os doentes. Criou ainda inúmeros grupos de oração, como centros de irradiação espiritual e afervoramento do povo.
Entre seus penitentes ainda vivos, está o próprio Papa, que, como padre novo, foi procurar o santo capuchinho para se confessar. Também meus colegas seminaristas do colégio Pio Brasileiro iam com freqüência procurar o santo para se confessar, pedir conselhos e orações. Sempre voltavam radiantes de alegria.
Qual o segredo que fazia o povo acorrer aos milhares ao convento capuchinho? Um dos seus admiradores João Paulo II diz que foi a espiritualidade da cruz. Como diz o Apóstolo Paulo: Quanto a mim, não pretendo gloriar-me a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo (Gal 6,14).
No plano de Deus, a Cruz constitui o verdadeiro instrumento de salvação para a humanidade inteira e a proposta explícita do Senhor para quantos queiram ser seus discípulos. O próprio santo frei escreveu em 1914: Para chegar a nosso objetivo último é preciso seguir nosso chefe, que trilhou o caminho da abnegação e da cruz.
Quase sempre São Pio é fotografado com mãos discretamente enfaixadas, porque tinha, além da espiritualidade da cruz, as dores do cristo crucificado em seu corpo: carregava os estigmas do Crucificado. Quando celebrava a Missa com as mãos livres, via-se suas mãos sangrando, que causavam dores pungentes.
Também no peito, a exemplo de Cristo transpassado pela lança, Padre Pio tinha uma ferida sempre viva. Por isso é chamado de Santo Frade Estigmatizado. Ele se considerava chamado a colaborar intimamente com Cristo na salvação da humanidade.
Diz-se que o amor se prova no sofrimento. Quando a dor nos visita é o momento de progredir no amor. É o momento de colocar-se ao pé da cruz do Senhor. Está próxima alguma forma de ressurreição. Está em gestação uma nova esperança, uma grande alegria. Foi o que Cristo ensinou. Padre Pio aprendeu, viveu e testemunhou para nosso tempo.