Jesus vem buscar sua mãe!!!

Uma das passagens que mais me tocam é o final do Evangelho de Lucas, falando da ascensão de Jesus: “Aí, ergueu as mãos e os abençoou. Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu “uma nuvem o encobriu…” Jesus – Homem e Deus – voltava para junto do Pai na glória da Trindade, dignificando a humanidade pela natureza humana, unida à sua divina pessoa e nela agora glorificada.

Maria, sua querida Mãe, ficara cá embaixo conosco, perpassada de saudades do Filho… que partira. Apesar disso, ela ajuda a Igreja primitiva a caminhar, a acertar o passo, a iniciar a sua história sob a chefia de Pedro, como prometera Jesus: “Sobre ti edificarei a minha Igreja”. Maria está junto aos apóstolos, como Mãe da Igreja nascente, como conselheira e consolação, na ausência visível de Jesus. A sua vida ficou marcada pelo desejo de reencontrar o Filho, mas se confortava com a celebração da “fração do pão”, em que o recebia invisivelmente, misteriosamente sob a forma de pão e de vinho:”Isto é meu Corpo… Isto é meu Sangue: tomai e comei”.

Aos poucos, dias e anos foram passando, enquanto a sua vida em Éfeso continuava cheia de trabalhos, de obras evangélicas, de recordações vivas do Filho amado. Certo dia, o mais ansiado por ela, seu querido Jesus veio buscá-la com o simples toque: “Mamãe, eu vim buscá-la!” Imagino, como os grandes pintores, tais como Murillo, uma enorme procissão de Anjos e Santos que a rodeiam para que vá – convidada com gesto divinal – ao encontro do Pai e do Espírito Santo. O Verbo Eterno, Jesus, seu Filho podia dizer: “Eis, a mais preciosa de nossas obras e o fruto mais bonito da eficácia da Redenção”. Maria, elevada aos céus, a assunta, talvez entoasse naquela hora, no seu íntimo, mais uma vez a sua mais bela oração:

“Minha alma proclama a grandeza do Senhor.
Meu Espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
O Todo Poderoso fez em mim – pequena escrava –
Grandes obras, porque
Seu nome é Santo,
Sua misericórdia é sempiterna.
Quando – falamos da Assunção de Maria ao Céu, em corpo e alma, isto é, plenamente glorificada, pensamos na eficácia da Redenção. Cristo, em sua Mãe, nos dá uma amostragem de seu poder redentor, para suscitar a confiança de todos os remidos por seu sangue. Sabemos, que “para Deus nada é impossível”, como afirma o Arcanjo da Anunciação.
Maria, elevada ao céu pelo amor poderoso de seu Filho, é o primeiro membro da Igreja, plenamente realizado na teofania final e definitiva. Desta forma, suscita a esperança escatológica: seremos como ela é desde a hora em que seu Filho a veio chamar para a Eternidade, porque “ocupa o lugar mais alto depois de Cristo e o mais perto de nós”
(Lumen Gentium, nº54).

Ela é como a Estrela da Manhã, que desponta radiosa em nossas vidas para nos aclarar o caminho trilhado por seu amado Filho e seguido por ela. Será o caminho Evangélico das Bem-Aventuranças, sempre novas e sempre atuais. Olhamos para ela, ainda, como Estrela da Evangelização, porquanto foi a que melhor entendeu e vivenciou o Evangelho, pautando sua vida pela ordem que, um dia, dera aos serventes das bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Ela – em Jesus – nos deu a Palavra – síntese do Evangelho: “…falou a nós (falando do Pai) falou a nós pelo seu Filho“ (Hb 1,1), herdeiro de tudo o que antecedera. Só Jesus podia afirmar – além de qualquer profeta: “Eu Sou a verdade” (Jo 14,6).

Quando – na “Salva Rainha” – nos lamentamos do “vale de lágrimas” em que vivemos, olhamos para Maria Assunta como a nossa suave esperança que nos conduz ao vale da beatitude, da alegria sem termo, ao encontro de nossa verdadeira realização e … atual saudade.

Maria, sendo Imaculada, não teve que passar pelas sombras da morte, mas teve apenas o dado da Páscoa: a passagem da vida terrena e mortal para a glória sem fim. Essa passagem ou Páscoa foi como um adormecer para este mundo e um despertar para Eternidade feliz. Assim se expressam muitos dos doutores e Santos Padres da Igreja.

Atualmente na glória, Maria nossa Mãe e Mãe da Igreja intercede pelos seus filhos ainda peregrinos, esperando acolhê-los, um a um, quando Cristo nos chamar para o definitivo encontro: “Eu vou adiante, disse Ele, para vos preparar um lugar. Venho buscar-vos, pessoalmente, no último dia de vossa vida” (cf Jo 14,2; 6,54), para vos premiar com a ressurreição.

Maria, elevada ao céu, olha para nós
com carinhos de Mãe.
Penamos nos dês-encontros desta vida complexa,
buscando acertar “nossos passos nos de teu Filho”…
para não perdermos o definitivo encontro marcado.
Como Mãe da divina Esperança,
faze com que os sonhos de alcance transcendente
se concretizem na ressurreição feliz…
Tu que tens personalidade glorificada,
tira o peso opressor de nosso corpo,
para a leveza do caminhar.
Não nos assuste a distância do destino final.
Olha para nós como “desterrados”:
Efetivamente “não temos aqui cidade permanente,
Mas buscamos a que há de vir…”
Nessa busca sê nosso amparo, arrimo e proteção!

Dom Eusébio Oscar Scheid
Arcebispo do Rio de Janeiro