A palavra vocação vem do latim ‘vocatione’ e significa ato de ‘chamar ou chamamento’. O termo é utilizado também no sentido de aptidão, ou seja, tendência ou disposição inata dos seres humanos.
Quais são nossas aptidões? Em nossas vidas, a que somos chamados? Refletir sobre estas questões significa pensar em profundidade sobre qual seria o sentido último de nossa existência.
Para que possa estabelecer uma convivência harmônica com a sociedade, com a natureza e consigo próprio, o homem necessita conhecer e desenvolver suas aptidões, o que somente é possível mediante um projeto existencial fundamentado na justiça, na fraternidade, na vivência do amor ao próximo.
Lembra-nos o filósofo grego Aristóteles que o homem é um animal social, possui uma tendência gregária, ou seja, não consegue viver isolado. Em outras palavras, é a vida em sociedade que nos possibilita tomar consciência de nossas aptidões e desenvolvê-las em benefício próprio e daqueles com quem convivemos. E, para viver bem em sociedade, precisamos reconhecer e valorizar nossos semelhantes. É pelo outro, com o outro e no outro que conseguimos reconhecer a nós mesmos e realizar nossas mais profundas e legítimas aspirações. O outro é essencial à nossa felicidade. Para uma vida saudável e prazerosa em sociedade, o homem precisa também conhecer a si mesmo. A qualidade de nossos relacionamentos depende diretamente do conhecimento e do trabalho que fazemos com nossas virtudes e limitações.
Todo esse processo de conhecimento de nós mesmos, de nossos semelhantes e do meio em que vivemos é desencadeado pela busca incessante que o homem faz de sua vocação fundamental e originária. Segundo a fé cristã, essa vocação é o amor. Recorda-nos o magistério da Igreja que Deus inscreveu na humanidade do homem e da mulher a capacidade e a responsabilidade do amor. Deus é amor e nós fomos por Ele criados para amarmos. Somos, portanto, filhos do amor. Quando agimos por egoísmo, por ódio, por inveja e por outros sentimentos negativos, afastamo-nos de Deus, prejudicamos a nós mesmos, ao nosso próximo e ao meio em que vivemos, negamos nossa condição de filhos do amor e traímos nossa vocação primordial. E, como conseqüência, construímos uma sociedade violenta, cruel, materialista, incapaz de superar seus conflitos e de viver em paz.
No limiar do terceiro milênio, reanimada pelo sopro inefável do Espírito Santo, a Igreja Católica, através de seus trabalhos pastorais e de seus sacramentos, convida-nos a assumirmos nossa fé como elemento essencial à descoberta e à vivência de nossa vocação para o amor. Essa descoberta e essa vivência expressam-se com perfeição na luta por trabalho e salários dignos, por moradia, por saúde, por educação, por liberdade política e por outros direitos fundamentais do homem. A prática constante da oração, da justiça e da caridade permite-nos a fidelidade à nossa autêntica vocação para o amor e abre-nos as portas do Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo, com sua vida, morte e ressurreição.
O mês de agosto é um tempo especial de reflexão sobre a importância das vocações. Aproveitemos esse tempo para, à luz da Palavra de Deus, refletirmos sobre nossa vocação cristã. Somos chamados por Deus para seguirmos a Cristo. Ser cristão é responder a este chamado com fé e coragem.
Fonte: rainhadapaz