Maria Madalena é citada nos quatro evangelhos, sempre em primeiro lugar, entre as mulheres que vão até o sepulcro para preparar o corpo de Jesus. As demais variam de um texto ao outro, sendo que em João, ela é a única que vai até lá.
A cena é sempre a mesma: o túmulo vazio, e um ou dois anjos em vestes alvas e resplandecentes, que anunciam que o Senhor está vivo e pedem às mulheres que contem a boa nova aos demais apóstolos. Quando são avisados da ressurreição, os doze discípulos não acreditam. No evangelho de João, Maria vai até Pedro e João alertá-los que o corpo de Jesus desapareceu. Os dois encontram o túmulo vazio, e apenas João tem a absoluta certeza que o Cristo renasceu dos mortos, cumprindo o que dissera. No evangelho de Lucas, apenas Pedro vai até o sepulcro.
De qualquer maneira, nos evangelhos sinópticos, podemos notar a proeminência que Maria Madalena tem sobre as demais mulheres, sendo as transmissoras da Boa Nova, ou o Evangelho, aos demais discípulos que se tornarão os apóstolos do Cristo.
Marcos, Mateus e João tem em comum o fato de que Jesus aparece a Maria Madalena após a ressurreição, sendo que em Mateus, está presente também Maria mãe de Tiago. A cena em João é a mais significativa, pois o Mestre aparece a Maria que chorava a desaparição de seu corpo, sendo que, esta não O reconhece. Apenas quando ouve Ele pronuncia seu nome, é que ela percebe de quem era e exclama ‘Rabbuni!’. Nesse momento o Cristo pede a ela que não O toque pois ainda não havia subido até o Pai.
Muitos exegetas católicos viram no fato de Maria Madalena não ter reconhecido o Cristo e não ter permissão para toca-lo, a comprovação de que ela, por causa de seus pecados e de sua mente pequena, não estava preparada para receber o evangelho.
Porém, pelo uso que ela faz do termo Rabbuni, que é uma forma mais solene de se dirigir ao mestre, usado quando os judeus se referiam a Deus, vemos que Maria compreendeu, antes de todos, o papel que agora o Cristo estava exercendo. Ele não era mais apenas Jesus Cristo, mas era a Segunda pessoa da Trindade manifestada e, portanto, Deus.
Maria Madalena, por ter sido escolhida como a mensageira da Ressurreição para os discípulos, representa o fato de que, apenas pela Alma eles poderiam receber o Evangelho. Como figura feminina arquétipica, ela representa a recuperação da via feminina, ou da Sofia, como forma de reintegração à Divindade.
O Cristo passa a nascer, não mais numa alma concebida virgem, mas em toda alma que se purifique e que se torne virgem. Conforme dizia Gustav Jung, a encarnação de Deus na humanidade envolve a elevação do princípio feminino e seu retorno ao status divino ou semidivino. Nesse contexto, a Virgem Maria e Maria Madalena representam os dois aspectos encarnados pela Sofia dos Gnósticos, para que o Cristo pudesse se manifestar na matéria e na alma de todos os homens: a mãe do Cristo e a noiva do Cristo.
Cristo trouxe novamente a oportunidade dos mistérios femininos se manifestarem no mundo, renovados e reformados, assim como fizera com a tradição mosaica. Este pilar era necessário como forma de equilibrar a excessiva rigorosidade do judaísmo. A fertilidade e a divindade da mulher foram demonstradas, nos seus aspectos ativos e passivos, através dos mistérios do Cristo: A Natividade é passiva, quando a alma é imbuída do Espírito Santo; a Concepção é ativa quando dá a luz à Criança Sagrada dentro do coração de cada homem; a Paixão é passiva quando a alma assiste com pesar a crucificação do divino na matéria; e a Ressurreição é ativa quando a alma percebe o Cristo Glorioso se manifestar ao Adão caído, permitindo a sua reintegração à Divindade. A Virgem Maria e Maria Madalena representam então, a redenção da Eva original, e como veremos adiante, principalmente com Madalena, a possibilidade de restauração do ser andrógino original.
Esta é a imagem de Maria Madalena que é assumida pelas comunidades cristã. A Apóstola, discípula do Cristo, testemunha de sua Paixão e Ressurreição.
Fonte: sca