‘Maria, tu, a abençoada, a quem vou aperfeiçoar em todos os mistérios do alto, fala com franqueza, tu, cujo coração está mais voltado ao reino do céu, do que todos teus irmãos’ (Pistis Sophia, livro 1, cap. 17).
A vida de Maria Madalena só é possível ser traçada através das fontes que nos foram deixadas pela tradição cristã. Estas fontes são os textos canônicos e os chamados apócrifos, principalmente os de cunho gnóstico. Estas fontes eram orais e únicas desde os primeiros tempos do cristianismo, até que no Concílio de Nicéia, em 325, houve a separação que era oficialmente aceito pela Igreja de Roma, os textos canônicos.
Maria Madalena é, com certeza, uma das personagens mais enigmáticas do Novo Testamento. Existem poucas citações diretas sobre ela nos quatro evangelhos, porém ela está nominalmente presente nas passagens mais marcantes na vida do Cristo, como a Paixão e a Ressurreição. Ela é a discípula que ama o mestre acima de tudo e é testemunha da Sua Ressurreição, sendo a portadora da Boa Nova. Por isso ela pode ser considerada a primeira apóstola.
Também dentro da tradição gnóstica ela possui um papel de suma importância como transmissora da Gnose, como portadora da Luz e como símbolo do verdadeiro adepto.
Para muitas seitas cristãs originais, Maria Madalena era uma Mestra e seus ensinamentos eram oralmente transmitidos.
Apesar disso, ela teve toda uma simbologia gerada em torno de si, que acabou velando o verdadeiro significado de sua participação na vida e na obra de Jesus Cristo, e ocultando o real arquétipo que ela representa.
A imagem que foi sendo formada através dos séculos foi a da mulher pecadora, provavelmente uma prostituta, que foi purificada pelo Cristo, e como prova de seu amor espiritual, lavou os pés do Senhor e os enxugou com os próprios cabelos. Como mulher cheia de pecados, ela representou o arquétipo feminino tradicional, a transmissora do pecado original, que após ser curada, passou sua vida em penitência e arrependimento.
Uma das mais importantes figuras femininas dos evangelhos, Maria Madalena acabou tendo adulterado o significado de seu papel e de sua obra, sendo relegada a um segundo plano dentro da tradição cristã católica romana.
Contar a sua história é resgatar a profunda história de amor espiritual ao Cristo e aos Seus ensinamentos, representado pelos atos de Sua discípula mais amada.
Fonte: sca