Depois de mais de 10 anos que a deusa Internet invadiu o mundo e está em pleno poder, trazendo tudo para dentro de nós e nas nossas casas, invadindo a privacidade mais profunda do nosso coração, das famílias, trazendo tudo o que de melhor e pior, manifestando os seus poderes quase incontroláveis, a Igreja decidiu escrever um documento sobre a ética da Internet. Entendi o seguinte: que a máquina Internet é inocente, e pode ser usada para evangelizar, transformando-se em novo areópago, novas praças públicas que a Igreja deve saber freqüentar para que o anúncio da boa nova chegue até os últimos confins com uma rapidez nunca vista.
Faz tempo que os jornais apresentaram o Santo Padre João Paulo II diante de um pequeno computador, clicando uma tecla e enviando a todos os bispos do mundo a sua mensagem. Nada mais bonito que ele um dia, recebendo uma mensagem eletrônica, responda-me pessoalmente, agradecendo pelas orações que todos os dias faço pela sua saúde e que outro dia me dê um puxão de orelhas pelas besteiras que digo e escrevo.
A Internet, dizia-me alguém, é a nova besta da apocalipse. Estas palavras quase me fizeram cair de costas, mas depois, refletindo com calma e serenidade, dias e dias a fio, vi que esta expressão um tanto exagerada e escandalosa tinha o seu fundo de verdade e muita. Depende de como se usa e aí vem toda a formação, a educação pessoal e ética, os interesses pessoais e tendências da nossa natureza humana que nem sempre são as melhores. É bem difícil ter um alcoólatra como chefe de adega. Com a adega cheia, é necessário um grande auto controle e domínio ou, como diria Santa Teresa de Ávila, uma determinada determinação.
Nada de mais bonito que a Internet. Ela nos leva, com um simples clique, a visitar os sites mais bonitos, instrutivos, ricos. Sem sair de casa visitamos museus, fazemos compras, entramos dentro do Vaticano e contemplamos todas aquelas maravilhas que pouquíssimas pessoas poderiam ter acesso. Podemos aumentar o nosso conhecimento bíblico e teológico, e conhecer os caminhos de Deus na nova evangelização, sermos missionários e enviar todos os dias mensagens de uma beleza nunca vista, sermos novos evangelizadores do terceiro milênio.
Não há dúvida de que a Internet nos coloca nas mãos o mundo com toda sua grandeza, mas ao mesmo tempo ninguém pode duvidar que a Internet é disputada entre Deus e o diabo. Deus a usa para fazer o bem, e o diabo, que também é inteligente e faz o seus cursos de reciclagem, usa-a para fazer o mal e distorcer a verdade. A Internet é uma máquina divina mas que pela inteligência e uso que o homem dela faz, pode tornar-se o instrumento colocado a serviço do bem e do mal. A vida e a morte, a pureza e a vergonha entram pelos mesmos canais da comunicação.
O que fazer diante de tudo isso? Tentar educar a nós mesmos e aos outros nos verdadeiros valores da vida, ajudar-nos a sermos senhores de nós mesmos e não permitir que o pecado novo da nova cobiça entre na nossa vida e destrua o que temos de mais precioso: a nossa consciência.
Não duvido que o meu irmão tinha razão quanto à sua definição da Internet como a nova besta do apocalipse. Mas eu acrescentaria: é a mais nova maravilha do gênio humano e Deus deu ao ser humano uma potência chamada liberdade. A ele cabe usar tudo o que inventa a serviço do bem e não do mal.