Preparai o caminho do Senhor

Nada incomodava tanto um casal de judeus do que não ter filhos. E não ter filhos era uma humilhação (Gn 30,23; 1Sm 1,5-11) e até mesmo um castigo para esta gente (2Sm 6,23; Os 9,11). Mas a resignação e a esperança estavam com eles. Certo dia o marido entrou no Templo, como de costume, e um anjo apareceu e disse: “Não tenhas medo, porque foi ouvida tua oração. Tua mulher, vai te dar um filho a quem darás o nome de João. Ficarás alegre e muito feliz, e muitos se alegrarão com seu nascimento. Ele será grande diante do Senhor. Não beberá vinho nem licor e desde o ventre de sua mãe estará cheio do Espírito Santo. Reconduzirá muitos israelitas para o Senhor, seu Deus. Caminhará diante dele no espírito e no poder de Elias para reconduzir os corações dos pais para os filhos e os rebeldes para a sabedoria dos justos, a fim de preparar para o Senhor um povo bem disposto” (Lc 1,13-17).

Este é o anúncio da vinda de João Batista a seu pai, Zacarias. São João nasceu, cresceu e foi educado (Lc 1,80) ouvindo que sua mãe era estéril e que ficou grávida na velhice, que sua gestação foi anunciada pelo anjo Gabriel, sua concepção foi por milagre, que recebeu o Espírito Santo ainda no ventre de sua mãe, que muitos se alegrariam com sua vinda e que teria a grande missão de reunir o povo Judeu. Seu anúncio, concepção, gestação e nascimento foram repletos de motivos de glória. Certamente seus pais lhe contavam todas as noites a conversa com o anjo, lá no Templo. Lembravam-no sempre de sua missão: “preparar ao Senhor um povo bem disposto”.

Não teria sido assim também o nascimento da renovação espiritual dos últimos anos? Em tantos lugares vimos ser anunciados vários “João Batista”, que significa “Deus é favorável”. Quantas igrejas repletas, padres e bispos vibrantes, estádios lotados de gente com sede de Deus, comunidades se formando, anúncio do evangelho em meios de comunicação de massa. Todos “preparando ao Senhor um povo bem disposto”. Esta é ou não a vocação da Renovação Carismática Católica? O Senhor está próximo e fomos todos constituídos como João. Quando a humanidade estéril e caduca já se encontrava sem esperança e sem possibilidades de gerar uma descendência que transformasse as realidades deste mundo, o Senhor mandou anunciar a mãe Igreja: “Não, não tenhas medo, a sua oração foi ouvida. As súplicas de teu papa foram ouvidas. A Igreja vai gerar filhos que terão o nome de seu próprio ministério: “Deus é favorável”. Sim, porque este é o tempo favorável. Estes filhos hão de te renovar. E cantarão a minha glória, muitos se alegrarão com seu nascimento, lotarão espaços abertos só para me adorar na Eucaristia. E estes filhos serão grandes diante do Senhor. Se furtarão da vida depravada que o mundo propõe, não terão vícios, se afastarão da maldade, e, desde a concepção, estarão cheios do Espírito Santo. Esta será inclusive sua marca, seu selo, sua identidade. Em tudo conduzidos pelo Espírito Santo desde a concepção e nascimento. Eles conduzirão o povo oprimido a mim. Reconduzirão muitos que agora estão distantes, ao Senhor seu Deus. Eles caminharão diante do povo, curando suas dores, restaurando suas famílias, resgatando seus jovens, aproximando os corações dos pais e dos filhos e trazendo os ‘rebeldes para a sabedoria dos justos’, a fim de preparar, para o meu louvor, um povo renovado, santo, enfim, bem disposto”. Esta é ou não a missão da Renovação Carismática Católica?

Mas não termina aí. Assim com João Batista, não devemos nos esquecer do verdadeiro anúncio que fomos chamados a dar: “Virá aquele do qual não sou digno de desatar as sandálias” (Mt 3,11). Reconhecer o Senhor, apontar quem é Ele, anunciar que Ele está próximo. Esta é nossa vocação.

Recebemos do Senhor esta missão? Certamente, Ele nos constituiu e nos enviou – “preparai o caminho do Senhor” (Mt 3,3).

Recebemos do Senhor seu reconhecimento? Claro que sim, Ele testemunha em nosso favor – “entre os nascidos de mulher, não surgiu nenhum maior que João” (Mt 11,11a).

Somos diferentes dos que nos precederam? Não, Ele, o Senhor, nos coloca no devido lugar – “o menor no reino dos céus é maior que João” (Mt 11,11b).

Mas então, em que devemos nos gloriar? No martírio, é claro. Pois foi para lá que foi João e será para lá que iremos nós. Nos últimos dias.