A instituição da Eucaristia, o sacrifício de Melquisedec e a multiplicação dos pães: é o que nos é apresentado pela Liturgia da Palavra na solenidade do Corpus Christi.
No centro, a instituição da Eucaristia. Na primeira Carta aos Coríntios, São Paulo evocou com palavras específicas este evento, acrescentando: ‘Sempre que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que Ele venha‘ (1 Cor 11, 26). Conscientes da esperança do encontro definitivo com Ele, após a consagração, como que respondendo ao convite do Apóstolo, proclamamos: ‘Anunciamos a vossa morte, Senhor, proclamamos a vossa ressurreição, enquanto aguardamos a vossa vinda’.
A primeira narração, brevíssima, mas de grande relevo, é tirada do Livro do Gênesis e foi proclamada na primeira Leitura. Ela nos fala de Melquisedec, ‘rei de Salém’ e ‘sacerdote do Deus altíssimo’, o qual abençoou Abrão e ‘ofereceu pão e vinho’ (Gn 14, 18). A esta passagem faz referência o Salmo 109, que atribui ao Rei-Messias um singular caráter sacerdotal por direta investidura de Deus: ‘Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec’ (v. 4).
Na vigília da sua morte na cruz, Cristo instituiu no Cenáculo a Eucaristia. Também Ele ofereceu pão e vinho, que ‘nas suas mãos santas e veneráveis’ (Cânone Romano) se tornaram o seu Corpo e o seu Sangue, oferecidos em sacrifício. Deste modo, Ele cumpria a profecia da antiga aliança, ligada à oferenda sacrifical de Melquisedec. Precisamente por isso recorda a Carta aos Hebreus ‘Ele… tornou-se para todos os que lhe obedecem fonte de salvação eterna, tendo sido proclamado por Deus Sumo Sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec’ (5, 7-10).
No Cenáculo é antecipado o sacrifício do Gólgota: a morte na cruz do Verbo Encarnado, Cordeiro imolado por nós, Cordeiro que tira os pecados do mundo. Na dor de Cristo é remida a dor de todo o homem; no seu sofrimento é o sofrimento humano que adquire um valor novo; na sua morte é vencida para sempre a nossa morte. Na multiplicação dos pães o evangelista Lucas ajuda-nos a compreender melhor o dom e o mistério da Eucaristia.
Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos ao céu, abençoou-os, partiu-os e deu-os aos Apóstolos, para que os distribuíssem ao povo (cf. Lc 9, 16). Todos observa São Lucas comeram e ficaram saciados e ainda se encheram dozes cestos de fragmentos que sobraram (cf. ibid., v. 17).
Trata-se de um prodígio surpreendente, que constitui como que o início de um longo processo histórico: o constante multiplicar-se na Igreja do pão da vida nova para os homens de toda a raça e cultura. Este ministério sacramental foi confiado aos Apóstolos e aos seus sucessores. E eles, fiéis à recomendação do divino Mestre, não cessam de partir e de distribuir o Pão eucarístico de geração em geração.
O povo de Deus recebe-o com devota participação. Deste pão de vida, remédio de imortalidade, nutriram-se inúmeros santos e mártires, tirando dele a força para resistir também a duras e prolongadas tribulações. Eles acreditaram nas palavras que um dia Jesus pronunciou em Cafarnaum: ‘Eu sou o pão vivo, descido do céu. Se alguém comer deste pão, viverá eternamente‘ (Jo 6, 51).
Cristo quis unir a sua presença salvífica no mundo e na história ao sacramento da Eucaristia ‘Eu sou o pão vivo, descido do céu!’. Jesus define-se ‘o pão da vida’, e acrescenta: ‘O pão que hei de dar é a minha carne pela vida do mundo‘ (Jo 6, 51).
Mistério da nossa salvação! Cristo único Senhor ontem, hoje e sempre quis unir a sua presença salvífica no mundo e na história ao sacramento da Eucaristia. Quis fazer-Se pão partido, para que todo o homem pudesse nutrir-se da sua própria vida, mediante a participação no Sacramento do seu Corpo e do seu Sangue. Assim como os discípulos, que escutaram admirados o seu discurso em Cafarnaum, também nós percebemos que esta linguagem não é fácil de ser entendida (cf. Jo 6, 60). Poderíamos às vezes ser tentados a dar-lhe uma interpretação relativa. Mas isto levar-nos-ia para longe de Cristo, como aconteceu para aqueles discípulos que ‘a partir de então já não andavam com Ele’ (Jo 6, 66).
Nós queremos ficar com Cristo e, por isso, dizemos-lhe com Pedro: ‘Senhor, para quem havemos nós de ir? Tu tens palavras de vida eterna’ (Jo 6, 68). Com a mesma convicção de Pedro, ajoelhamo-nos hoje diante do Sacramento do altar e renovamos a nossa profissão de fé na presença real de Cristo. Este é o significado da celebração nos dias de hoje.
Fonte: Terra