‘A vida do homem consiste no afeto que principalmente o sustenta e no qual encontra sua maior satisfação‘ (São Tomás de Aquino). O que na nossa vida procuramos é a satisfação mais completa possível dos anseios do coração e das perguntas da nossa razão. Quando acontece um encontro que carrega o indício de uma resposta real e plena, nós, particularmente nos anos da nossa juventude, dedicamos a este encontro a vida toda.
O celibato, que normalmente é entendido no sentido negativo de não se casar, está ligado a uma paixão dominante, que é suscitada por um encontro excepcional e fascinante. Trata-se da experiência que os apóstolos fizeram quando encontraram a pessoa de Jesus pelas estradas da Palestina, e que nós podemos fazer encontrando hoje o seu anúncio e as suas testemunhas. A Igreja chama essa experiência de doação total a Cristo, que inclui a forma concreta de não contrair matrimônio. Esta experiência entra no mundo não por razões éticas ou sociais, mas como fascínio pela pessoa de Cristo e como desejo de segui-Lo plenamente. Ele chama alguns para que testemunhem no mundo a sua própria maneira de amar: um amor gratuito e não possessivo. Isso implicou o sacrifício e a cruz.
A virgindade, assim, não é uma experiência de frustração, de medo, ou de renúncia a amar; é, pelo contrário, o relacionamento com as pessoas e a posse das coisas segundo o estilo e a sensibilidade de Cristo. A virgindade comporta um desapego e um sacrifício, mas, na sua raiz, é uma posse nova das coisas; é a maneira de amar própria de Cristo. O celibato dos padres se fundamenta sobre essa experiência de vocação e de doação, e é uma profunda escolha de liberdade, de resposta ao dom que Cristo faz por meio do seu chamado.
A Igreja dá o sacerdócio ministerial a pessoas que livremente escolhem dedicar-se a Cristo e à felicidade dos irmãos com toda a sua vida. Celibato e ministério estão intimamente unidos na pessoa de Cristo. A relação entre ministério sacerdotal e celibato, portanto, apresenta-se não apenas como disposição eclesiástica, mas como uma profunda conveniência de ordem substancial e teológica que, por sua vez, deu origem à própria decisão eclesiástica.
Quem quer rever esta decisão simplesmente está retrocedendo no tempo, pagando uma inadmissível dívida ao exasperado permissivismo sexual da nossa sociedade secularizada. Nesse contexto, é claro que é necessária uma formação adequada que cultive a afetividade e a própria sexualidade como elementos essenciais da pessoa, e valorize a capacidade de doação total e gratuita.