Quando as religiosas, recolhidas e silenciosas, desceram para se reunir no coro, ficaram estupefatas ao encontrar a santa mulher que tinha sido insistentemente rejeitada! Como entrara ela, pois que o mosteiro estava completamente fechado e não havia sinal algum de abertura ou arrombamento? Rita, com toda a simplicidade, contou o fato milagroso que recompensará a sua fé e constância, e elas tiveram de inclinar-se reverentes, tão evidente era a prova de sua sinceridade. Rita, por um motivo, e as religiosas por outro, renderam vivas ações de graças ao Senhor: aquela por se ver milagrosamente atendida, estas por haverem adquirido, como se costumava dizer, um elemento que já estavam prevendo, haveria de dar novo brilho à sua Ordem.
A superiora, como é de costume, não terá deixado de falar a tão idosa noviça a respeito dos deveres das religiosas e dos votos que formam a essência da virtude própria desse estado. Mas, a esse respeito eram tão grandes os conhecimentos da noviça que não se tardou a descobrir que Rita não tinha muito que aprender, porque muito já avançara no caminhada perfeição.
Desde a infância aprendera a obedecer em tudo a seus velhos pais, e sabemos por experiência quanto é difícil satisfazer pessoas idosas, cheias de enfermidades e necessitando de contínua assistência. Obedecera depois a um marido brutal que a maltratava e descarregava nos inocentes a cólera de não se poder vingar dos inimigos.
Rita muito conhecia também a pobreza, porque, tendo nascido de modesta condição, cresceu numa vida austera e laboriosa e, embora não se podendo dizer pobre no sentido estrito da palavra, voluntariamente se fizera pobre, privando-se de alimento e de roupas para saciar os famintos e vestir os infelizes.
Era viúva, mas muito havia amado a virgindade e vivera sempre em imensa castidade. Disto são evidente prova as graças extraordinárias de que Deus a cumulou e o dom da contemplação, que o Senhor só concede às almas profundamente humildes e ciosas de sua pureza.
Entretanto, apesar de todos esses grandes favores, dizem certos autores que Rita não poderia ser admitida entre as religiosas coristas, porque não sabia ler e não poderia como as outras recitar o Ofício divino. Deveria ter sido irmã de segunda ordem, como que uma serva das religiosas. Mas, como se depreende de tradição,de acordo com as vestes que ela usava quando inumada, foi superado esse obstáculo. Rita foi corista e a obrigação do Ofício divino foi permutada por outras orações.
Isso demonstra o discernimento da superiora e das conselheiras, que reconheceram o tesouro que Deus lhes confiara, e demonstra também a grande estima que adquiria a humilde mulher de Rocca Porena desde a sua entrada nesse lugar sagrado.