Hoje eu sei que meu primeiro Batismo no Espírito Santo não foi aquele do grupo de oração de minha Paróquia. Hoje eu sei que foi há algum tempo quando ainda era criança. Naquela época eu e minha família morávamos no Rio de Janeiro. O apartamento era espaçoso, principalmente para uma criança. Eu tinha um quarto só para mim ao lado do quarto dos meus pais. Mas a maior parte do tempo eu ficava em frente à televisão que ficava num outro quarto distante do meu. Entre eles havia uma longa sala de jantar.
Já era noite; muito tarde. Meu pai estava estudando e minha mãe na cozinha que ficava na outra extremidade do apartamento. A longa sala de jantar estava escura. Eu estava no quarto de televisão assistindo um filme. Não me lembro exatamente o enredo mas era um filme de terror. Em algum momento o artista principal retirava uma carta de baralho do bolso. Dependendo da carta um personagem era morto friamente. Não preciso nem dizer o quanto estava apavorado. Mas hoje eu entendo que eu não tinha forças para sair daquela sala. O mal faz isso conosco.
Não gostamos da situação mas o medo de deixar tudo para trás acaba sendo maior do que o medo de continuar ali; e com isso acabamos permanecendo na mesma, dominados pelo mal.
Ao final do filme o assassino retirou a tal carta do bolso e mostrou para a câmera dizendo que o telespectador seria o próximo a morrer. Rapidamente me levantei e saí daquele quarto chorando, com muito medo, e chorando baixinho, com vergonha de que meus pais ouvissem. O mal joga tão baixo que além de nos aprisionar no medo ainda oprime o nosso choro. Sabia que, se meus pais viessem em meu socorro, o medo se dissiparia e eu estaria livre daquela situação. Atravessei aquela longa sala de jantar na completa escuridão e, chegando em meu quarto, me deitei e me cobri. Mas não consegui conter meu choro e meus pais acabaram ouvindo.
Os dois juntos vieram até meu quarto e perguntaram o que houve. Não consegui dizer uma só palavra. O mal ainda me oprimia. Minha mãe se sentou na beirada da minha cama e meu pai pegou sua pequena imagem de Nossa Senhora das Graças e colocou na minha mão. Minha mãe me disse: Seja lá o que for meu filho, pede a ela que converse com Jesus para o medo ir embora.
Imediatamente segurei firme naquela imagem, e mesmo sem entender depositei nela toda a minha confiança. Era o que Deus precisava. Um filho seu aprisionado pelo mal, sem condições de recorrer a nenhuma solução humana para o problema e sob a poderosa intercessão de Nossa Senhora. Imediatamente o medo se dissipou, a lágrima secou e onde habitava medo nasceu uma coragem que me permitia levantar dali, voltar ao quarto da televisão e dar uma língua para o tal filme.
Essas crianças…
O que eu sei é que meu primeiro batismo no Espírito Santo não veio como os outros que tive, com orações em línguas, profecias, passagens bíblicas do amor que Deus tem por mim ou outras manifestações do Espírito. Mas veio com o principal. Jesus gritando dentro de mim: Eis que faço novas todas as coisas. (Ap 21,5)
Meu desejo é que você experimente nestes dias de Pentecostes a libertação que o Senhor pode fazer na sua situação. Medo, opressão, desânimo, prisão, sei lá, tantas coisas. Mas acredite, o Senhor gritará pra você como gritou pra mim: Eis que faço novas todas as coisas. Amém.