O dia das mães se faz presente, como referência necessária deste segundo domingo de maio. Ele traz fortes marcas de promoção comercial. Mas carrega consigo um significado mais profundo, que a crise cultural de nosso tempo começa a decifrar com nitidez. O que está em questão é a importância da família, de que a mãe é sempre o símbolo mais eloqüente e a figura mais central. Mas não só. O domingo das mães aponta para a importância da mulher em todas as instâncias da vida humana. Uma importância que precisa ser afirmada pela superação de preconceitos culturais que ainda pesam sobre ela, e pela urgência dos valores que lhe são característicos.
Em meio a uma sociedade que se apavora com o crescimento da violência e com a perda do sentido da vida, a presença da mulher se torna imprescindível. A humanidade tem hoje urgência de ternura. Sem ela, as relações se deterioram, os problemas se complicam, e a sociedade caminha para um impasse crescente.
Na figura da mãe, como num espelho, a humanidade procura reencontrar o seu próprio rosto. E percebe que ele precisa reassumir os traços de bondade, que são o apanágio característico do rosto da mulher, sobretudo quando identificado com a postura da mãe solícita e compreensiva, capaz de transmitir carinho e de suscitar confiança.
Este contexto de bondade é indispensável, em primeiro lugar, no ambiente da família. Pois é ali que as pessoas forjam a sua personalidade, e se munem de valores que vão determinar a sua convivência na sociedade. Por isto, a convocação que a sociedade está fazendo, para a mulher estar mais presente em suas diversas instâncias, não pode significar o abandono da presença da mulher na família.
O domingo das mães tem o seu contexto mais intenso de celebração, portanto, no seio das famílias. Ali também, a ternura faz falta. Não uma ternura possessiva, que abafa e oprime. Mas aquela que o salmo descreve como sendo a de Deus, que acompanha solícito o seu povo, como a águia que incita os seus filhotes a voar. Mas é toda a realidade que precisa revestir a dimensão feminina.
A própria imagem que temos de Deus precisa superar o conceito masculino com que fomos habituados a projetá-lo, de maneira antropomórfica, por influência de uma cultura machista que carimbou toda a nossa maneira de pensar. Não é só o homem que pode servir de analogia para pensarmos em Deus. A mulher nos sugere uma preciosa riqueza de valores que encontram em Deus a sua realização transcendental, de tal modo que a imagem que resulta de Deus se torna, para nós, muito mais adequada e conveniente.
Apesar dos recentes avanços, a sociedade ainda carrega um forte peso machista. A preponderância do masculino sobre o feminino pode ser constatada em toda parte. Também a Igreja carrega o peso secular de uma estrutura muito calcada sobre o masculino. Sacudir os condicionamentos culturais que determinaram esta deformação, é uma causa difícil, mas urgente.
Na verdade, o mundo está precisando de uma profunda inversão cultural. A mulher precisa assumir mais os destinos da humanidade. Todas as grandes questões internacionais teriam solução diferente se contassem mais com a presença da mulher. Fica difícil imaginar um diálogo de paz, por exemplo, entre Sharon e Arafat. De sobrancelhas carregadas de truculência, diante de um rosto marcado pela amargura e ressentimento, que se pode esperar? Diferente seria se suas mulheres dialogassem, sentindo a responsabilidade de preservar vidas inocentes, e garantir a segurança de todas as famílias. O mundo precisa da ternura feminina. Mulher não é problema. Mulher é solução.
Dom Luiz Demétrio Valentini
Bispo da Diocese de Jales SP
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