1. «Venit Iesus (…) et dixit eis: ‘Pax vobis!’» «Veio Jesus (…) e disse-lhes: ‘A paz esteja convosco’» (Jo 20, 19). Ressoa hoje, neste dia soleníssimo, o auspicioso voto de Cristo: A paz esteja convosco! A paz esteja com os homens e as mulheres de todo o mundo! Cristo ressuscitou verdadeiramente, e a todos traz a paz! É esta a «boa notícia» da Páscoa. Hoje é o dia novo, que «o Senhor fez» (Sal 117,24) em que, no corpo glorioso do Ressuscitado, se restitui ao mundo, ferido pelo pecado, a sua beleza inicial, radiante de novo esplendor.
2. ‘Morte e vida combateram num prodigioso duelo‘ (Sequência) Após a duríssima batalha, Cristo regressa vencedor e apresenta-se no palco da história, proclamando a Boa Notícia: «Eu sou a ressurreição e a vida» (Jo 11, 25) «Eu sou a luz do mundo» (Jo 9, 5), A sua mensagem resume-se numa palavra: «Pax vobis – A paz esteja convosco!» A sua paz é o fruto da vitória, que Ele conquistou por caro preço sobre o pecado e a morte.
3. «Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá» (Jo 14, 27). A paz «à maneira do mundo» – prova-o a experiência de todos os tempos – reduz-se frequentemente a um precário equilíbrio de forças, que mais cedo ou mais tarde voltam a contrapor-se. A paz, dom de Cristo ressuscitado, é profunda e completa, e pode reconciliar o homem com Deus, consigo mesmo e com a criação. Muitas religiões proclamam que a paz é dom de Deus. Foi esta precisamente a experiência do recente encontro de Assis. Oxalá todos os crentes do mundo
conjuguem os seus esforços para construir uma humanidade mais justa e fraterna;
possam trabalhar incansavelmente para que as convicções religiosas nunca sejam
causa de divisão e ódio, mas sempre e só fonte de fraternidade e concórdia, de amor.
4. Comunidades cristãs de todos os Continentes, peço-vos, com ansiedade e esperança, que testemunheis que Jesus ressuscitou verdadeiramente, e que trabalheis para que a sua paz bloqueie a dramática espiral de abusos e matanças,
que ensanguentam a Terra Santa, mergulhada uma vez mais, nestes últimos dias,
no horror e no desespero. Parece que foi declarada guerra à paz! Mas a guerra nada resolve, só acarreta maior sofrimento e morte, de nada servem retorsões ou represálias.
A tragédia è realmente enorme: ninguém pode permanecer silensioso e inerte;
nenhum responsável político ou religioso! Às denúncias acompanhem atos concretos de solidariedade que ajudem todos a encontrar o mútuo respeito e a leal negociação. Naquela terra onde Cristo morreu e ressuscitou, e deixou o túmulo vazio, como testemunho silencioso mas eloquente. Destruindo em si mesmo a inimizade,
muro de separação entre os homens, Ele reconciliou todos através da Cruz (cf. Ef 2,14-16), e agora obriga-nos a nós, seus discípulos, a afastar qualquer causa de ódio e de vingança.
5. Quantos membros da família humana ainda estão oprimidos pela miséria e pela violência! Em quantos pontos do mundo ressoa o grito de quem implora ajuda, porque sofre e morre: do Afeganistão, provado duramente nos meses passados e agora flagelado por um desastroso terremoto, e tantos outros Países do Planeta,
onde desequilíbrios sociais e ambições opostas agridem numerosos irmãos e irmãs.
Homens e mulheres do terceiro milênio!
Deixai que vos repita: Abri o coração a Cristo crucificado e ressuscitado, que vem oferecer a paz! Onde entra Cristo ressuscitado, com Ele entra a verdadeira paz! Entre, antes de mais, em todo o coração humano, abismo profundo, não fácil de curar (cf. Jer 17, 9). Permeie também as relações entre categorias sociais,
povos, línguas e mentalidades distintas, comunicando em toda a parte o fermento da solidariedade e do amor.
6. E Vós, Senhor ressuscitado, que vencestes a tribulação e a morte,
dai-nos hoje a vossa paz! Sabemos que ela se há-de manifestar plenamente no fim,
quando vierdes na glória. A paz, todavia, onde vos encontrais, já agora está em acção no mundo. Esta é a nossa certeza, que se funda sobre Vós, hoje ressuscitado da morte, Cordeiro imolado pela nossa salvação!
Pedis-nos para manter acesa no mundo a chama da esperança. Com fé e alegria a Igreja canta, neste dia esplendoroso: «Surrexit Christus, spes mea!» Sim, Cristo ressuscitou e, com Ele, ressuscitou a nossa esperança! Aleluia!