Pobreza

A riqueza e a pobreza não se distinguem apenas por elementos econômicos; sem dúvida, esses elementos constituem referências básicas, porém, há outros aspectos a considerar como, por exemplo, a face social, a expressão ética, o caráter moral e a dimensão religiosa. Com efeito, riqueza e pobreza situam pessoas, grupos e povos em lugares e posições muito diferentes, criando, em muitos casos, um verdadeiro fosso que, socialmente, os distancia. De conformidade com a concepção ética que têm as pessoas, a luta pelo aumento da riqueza e o interesse pela manutenção da pobreza são considerados totalmente normais; sem o alicerce dos valores morais, justifica-se “a exploração do homem pelo homem”; se faltar a dimensão religiosa na vida das pessoas, o materialismo e o consumismo levam à exclusão social.

A intervenção dos poderes públicos, por intermédio de políticas públicas pertinentes, faz avançar a qualidade de vida da população; sua omissão nessa matéria deixa marcas comprometedoras. Embora se constate, no Brasil dos últimos, um índice de crescimento da qualidade de vida da população, ainda permanece muito distoante o quadro da realidade social, de modo que muitos se encontram “abaixo da linha da pobreza”. No Brasil: conforme o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), “a proporção de brasileiros em pobreza absoluta (…) é de 28,8%. Segundo a regra adotada pelo referido instituto, estão em pobreza absoluta os membros de famílias com rendimento médio por pessoa de até meio salário mínimo mensal”. Segundo as estatísticas sociais e econômicas, “A taxa de pobreza está caindo desde 2003 no Brasil”. Conforme relatório do Banco Mundial (Bird), “Enquanto as desigualdades de renda se agravaram na maioria dos países de renda média, o Brasil assistiu a avanços dramáticos tanto em redução da pobreza quanto em distribuição de renda”(…). “A desigualdade permanece entre as mais altas do mundo, mas os avanços recentes mostram que nem sempre o desenvolvimento precisa vir acompanhado de desigualdade”.

O magistério da Igreja tem clareza sobre o que é a pobreza, como ensina João Paulo II: “O espírito de pobreza vale para todos e cada um necessita colocá-lo em prática, de acordo com o Evangelho”. Bento XVI diz o que não é a pobreza: “É este ponto decisivo, que nos faz passar ao segundo aspecto: há uma pobreza, uma indigência, que Deus não quer e que é ‘combatida’ – como diz o tema da atual Jornada Mundial da Paz; uma pobreza que impede as pessoas e as famílias de viverem segundo sua dignidade; uma pobreza que ofende a justiça e a igualdade e que, como tal, ameaça a convivência pacífica. Nesta acepção negativa cabem também as formas de pobreza não material que se reencontram justamente nas sociedades ricas e progredidas: marginalização, miséria relacional, moral e espiritual” (cf. Mensagem para a Jornada Mundial da Paz 2008, 2). Na Sagrada Escritura, veem a pobreza, diferentemente, os bons e os maus: “É boa a fortuna, quando não há pecado na consciência; mas péssima é a pobreza, na opinião do ímpio” (Eclo, 13,30). Jesus considera bem-aventurados os pobres (cf. Mt 5,3).

A pobreza tem sua dignidade; há pobres, por convicção, que também a têm porque assimilam o valor da pobreza, incorporando-a ao seu “modus vivendi”. A pobreza não pode ser considerada tão somente como antônimo de riqueza; por conseguinte, ela não é definida, propriamente, como falta de dinheiro e de bens. É claro que a face econômico-financeira é a identificação mais imediata da pobreza. Torna-se antievangélico, em qualquer tempo e lugar, o estado de pobreza que chega ao nível da miséria porque atinge a dignidade humana.