O tempo está no homem e o homem está no tempo. E para melhor precisar o verbo, o homem “é no tempo”.
A temporalidade – como condição inerente ao homem – carrega consigo o limite e a finitude, categorias essas que acabam condicionando os nossos sonhos e a nossa visão.
Contudo, em virtude da nossa vocação à Eternidade, somos constantemente impulsionados pela Graça a sermos pessoas que estão/são no tempo, mas, que sonham e que tudo contemplam com a lógica da Eternidade.
Pelo fato de sermos no tempo, estaremos sempre sujeitos às precariedades próprias da temporalidade. O desgaste, a fadiga, o envelhecimento, tudo isso se tornará concretude em nossa existência e, com a dureza peculiar à sua aplicabilidade.
O desafio/chamado acontece precisamente neste paradoxo: A virtude – a que somos vocacionados – consiste em ser no tempo, inserindo-se concretamente nele (sem alienação), mas, “já” vivendo tudo com a mentalidade que transpassa a faticidade do transitório e, assim, pautando os próprios sonhos e escolhas em valores que não se resumem ao “aqui”.
Quem contempla o real com essa lógica é capaz de construir a felicidade atemporal, já aqui, no solo de nosso tempo. Aquele que se aventura a ser assim já no tempo, não para nas esquinas das próprias dores e fragilidades, mas descobre que foi feito para ser mais e para transcender o puramente finito.
Fomos criados com a possibilidade de sempre superar e crescer. As fragilidades do temporal existem para se tornarem escada para nossa ascese e impulso para nossa superação, e não para nos encerrarem no limite da dor/finitude.
O tempo é sempre “presente”, é sempre condição de possibilidade para a construção de uma nova e encarnada realização. Ele não é nosso inimigo, mas um amistoso parceiro na estrada da existência com o qual precisaremos constantemente nos reconciliar.
Tal é o desafio a nós proposto: convivamos com o tempo e, no arquipélago de nossas experiências, o utilizemos na concretude de nossas lutas para a construção de uma Acompanhada Eternidade.
Trilhando as sendas dessa prática o ser se descobrirá no tempo, contudo, perenemente vocacionado a transcendê-lo, dando significado às dores temporais por meio de elementos que constituem a Eternidade.