2. Relembremos aqui que a comunhão conjugal, união de amor do homem e da mulher, é a mais forte expressão da imagem de Deus que trazem gravada no seu coração. Por isso esse amor participa da fecundidade do amor de Deus. Essa fecundidade é total. Não só participam espiritualmente desse amor divino, entrando na comunhão trinitária e semeando, com o seu amor, a alegria noutros corações, mas partilham com Deus a alegria da criação, gerando filhos, outros homens e mulheres, também eles imagens de Deus e vocacionados para o amor. Ao gerar filhos, o homem e a mulher participam no poder criador de Deus.
Diz o Santo Padre o Papa João Paulo II na Familiaris Consortio: na sua realidade mais profunda, o amor é essencialmente dom. o amor conjugal, levando os esposos ao conhecimento recíproco que os torna «uma só carne», não se esgota no interior do próprio casal, já que os habilita para a máxima doação possível, pela qual se tornam cooperadores de Deus no dom da vida a uma nova pessoa humana. Deste modo os esposos, enquanto se dão entre si, dão, para além de si mesmos, um ser real o filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do seu ser de pai e mãe 2.
Segundo o Livro do Génesis, a procriação de um filho constitui a plenitude do dinamismo da criação. Do mesmo modo que a criação do homem só ficou completa com a criação da mulher, assim a do casal só atingiu a sua plenitude no nascimento de Caim. Eva, depois de ter concebido e dado à luz exclama: adquiri um homem pelo poder de Deus (Gen. 4,1).
Na sua fecundidade o par humano atinge a sua plenitude enquanto imagem de Deus. A alegria da maternidade é a mais bela exultação pelo dom da vida. Eva reconhece duas coisas fundamentais no dom da fecundidade: o filho que gerou é um homem, igual ao que saiu das mãos de Deus, e ela gerou-o com o poder de Deus, não um poder mítico e factual, mas dinamismo inserido na força da criação. A procriação é a plenitude da criação.
Leiamos, a este propósito, mais um texto da Familiaris Consortio: Deus, com a criação do homem e da mulher à Sua imagem e semelhança, coroa e leva à perfeição a obra das suas mãos. Chama-os a uma participação especial do seu amor e poder de Criador e Pai, mediante a sua cooperação livre e responsável na transmissão do dom da vida humana. (…) A fecundidade é o fruto e o sinal do amor conjugal, o testemunho vivo da plena doação recíproca dos esposos 3, e da sua disponibilidade para realizarem na vida a obra fecunda do próprio Deus.