O dom divino da amizade
Amizades que edificam a fé: o dom de caminhar juntos é uma experiência profundamente humana e espiritual. Como recorda o nosso saudoso Padre Jonas Abib, “precisamos do amor puro uns dos outros, porque fomos criados à imagem e semelhança de Deus, e para amar e receber amor. Amar e ser amado faz parte da essência do ser humano. O amor é a essência da vida”. Desde o início da criação, Deus afirma que “não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18), revelando que a amizade nasce do desejo de comunhão e partilha.
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No caminho da fé, a amizade torna-se ainda mais preciosa, pois sustenta a esperança, fortalece a perseverança e ajuda a manter vivo o amor a Deus e aos irmãos. A Sagrada Escritura confirma esse valor ao afirmar: “Amigo fiel é uma poderosa proteção: quem o encontrou, encontrou um tesouro. Ao amigo fiel não há nada que se compare, pois nada equivale ao bem que ele é. Amigo fiel é o bálsamo da vida; os que temem o Senhor vão encontrá-lo. Quem teme o Senhor, orienta bem sua amizade: como ele é, tal será o seu amigo.” (Eclo 6,14-17). A amizade saudável não é posse nem dependência, mas cuidado mútuo, respeito e busca sincera do bem do outro.
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A amizade como caminho de crescimento espiritual
Na vida cristã, a amizade pode tornar-se verdadeiro caminho de santificação. Amigos que rezam juntos, que partilham a Palavra de Deus e que se apoiam nas provações ajudam a permanecer firmes no seguimento de Cristo. O próprio Jesus eleva a amizade a uma dimensão espiritual profunda quando diz: “Já não vos chamo servos… chamo-vos amigos” (Jo 15,15). Nessa relação, Ele revela que a amizade verdadeira nasce do amor e da doação.
A tradição da Igreja oferece belos exemplos de amizades que edificaram a fé.
São Francisco de Assis e Santa Clara viveram uma profunda amizade espiritual, marcada pela busca radical de Deus e pela fidelidade ao Evangelho. Unidos pelo mesmo ideal de pobreza, simplicidade e amor a Cristo, sustentaram-se mutuamente no discernimento e na missão. A amizade entre eles mostra que caminhar juntos na fé fortalece a vocação, ilumina as escolhas e ajuda a perseverar mesmo em tempos difíceis.
Por outro lado, testemunham para o mundo a sadia convivência entre o homem e a mulher.
Padre Jonas Abib afirma:
“Precisamos do amor puro uns dos outros. Nós, homens, precisamos do amor puro das mulheres. As mulheres precisam do amor puro dos homens.”
Benefícios da amizade saudável para a vida
A amizade saudável traz benefícios concretos para toda a vida da pessoa. Ela favorece o equilíbrio emocional, oferece apoio nos momentos de dor e multiplica a alegria nas conquistas. Ter amigos verdadeiros ajuda a enfrentar os desafios cotidianos com mais serenidade. A Palavra de Deus ensina: “Assim como o ferro afia o ferro, o homem afia o seu companheiro” (Pr 27,17), indicando que a convivência fraterna promove crescimento e amadurecimento.
Padre Jonas Abib expressa com profundidade essa realidade ao afirmar: “O amigo pode nos transformar. E por que nos transforma? Porque, antes de tudo, o amigo nos ama como somos”. Essa experiência de ser acolhido e amado gera segurança interior e liberdade para crescer. Na vida espiritual, isso se traduz em maior abertura à ação de Deus e em perseverança na caminhada cristã.
O que caracteriza uma boa amizade cristã
Uma boa amizade se reconhece pelos frutos que produz. Ela gera paz, confiança, liberdade interior e crescimento humano e espiritual. Não manipula, não isola nem afasta da família, da comunidade ou de Deus. Pelo contrário, ajuda a viver os valores do Evangelho, como recorda São Paulo: “Tudo o que é verdadeiro, nobre, justo, puro… seja isso que ocupe o vosso pensamento” (Fl 4,8).
Por outro lado, é necessário discernir as amizades que não fazem bem. Relações marcadas por interesse, controle, inveja ou afastamento da fé precisam ser revistas com maturidade e oração. Amar cristãmente não significa aceitar tudo, mas buscar o verdadeiro bem do outro e de si mesmo. Às vezes, colocar limites também é um gesto de amor.
Amizade, comunidade e missão
A amizade vivida à luz da fé não se fecha em si mesma, mas se abre à comunidade e à missão. Os Atos dos Apóstolos mostram que os primeiros cristãos “perseveravam na comunhão” (At 2,42), e essa fraternidade fortalecia o testemunho do Evangelho. Amizades saudáveis dentro da Igreja tornam-se sinal de unidade em um mundo marcado pelo individualismo.
O Papa Francisco retoma essa dimensão comunitária ao falar da amizade social na encíclica Fratelli Tutti, lembrando que caminhar juntos é essencial para uma vida cristã autêntica. A amizade, nesse sentido, torna-se um dom e também uma responsabilidade: cuidar do outro, escutar, perdoar e seguir juntos rumo à santidade.
O dom de caminhar juntos na fé
Cultivar amizades que edificam a fé é acolher um presente de Deus. Exige diálogo, paciência e oração, mas gera frutos duradouros. Caminhar juntos ajuda a carregar as cruzes e a reconhecer as ressurreições do cotidiano. Como ensina São João: “Quem ama o seu irmão permanece na luz” (1Jo 2,10). Assim, fortalecidos pela amizade e pela fé, seguimos unidos no caminho do Senhor.
Recordemos juntos Padre Jonas Abib com parte da música “ Senhor meu Amigo”:
Senhor meu amigo,
Assim lado a lado eu caminho confiante,
onde fores eu vou.
Senhor não pergunto,
pra onde me levas.
Se tu queres eu quero, se tu fores eu vou…”
Desejo, de coração, que encontre em Deus sempre amizades verdadeiras e que o console nos momentos de dor, mas também se rejubile nos teus momentos de vitória.
Com carinho,
Ana Maria Coli de Freitas
Missionária Canção Nova
