Sonhar é um ato de coragem, e uma escolha necessária principalmente em nossos dias, se quisermos continuar vivendo com sentido. Porque quando o coração sonha, dá espaço para que a esperança se renove em nossa alma, nos levando a reencontrar nossa essência e florescer.

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Os sonhos não são apenas desejos passageiros ou fantasias guiadas por impulsos de emoções momentâneas; eles são sementes do futuro que almejamos, inspirações profundas plantadas por Deus em nosso interior. Por isso, não podem ser simplesmente ignorados, devem ser cultivados com esperança, regados com perseverança e conduzidos pela fé, para que um dia possam se tornar realidade. Acontece que quando alimentamos nossos sonhos, cultivamos também as virtudes da paciência, da confiança e da esperança, que por sua vez, é o solo fértil onde os sonhos crescem, florescem e frutificam. Inclusive, é a esperança que nos dá forças para recomeçar quando os planos não saem como esperávamos e para acreditar que o difícil pode se tornar realidade, “porque para Deus nada é impossível” (Lc 1,22).
No cultivo de sonhos e esperança é importante: o tempo
Mas quando falamos de cultivo, sonhos e esperança nos deparamos com um aspecto muito importante: o tempo. O bem mais precioso e fugaz que possuímos, e que inclusive é considerado a “moeda de ouro” em nossos dias.
Santa Teresinha escreve em uma das suas poesias:
“A minha vida é um só instante, uma hora passageira,
um só dia que me escapa e me foge…
Tu bem sabes, ó meu Deus!”
Ela tinha clareza de que cada segundo que passa, nunca mais voltará, e é justamente essa irreversibilidade que dá ao tempo seu autêntico valor e nos causa tanto desassossego para de algum modo possuí-lo.
Mas é libertador perceber que o tempo não se mede apenas em relógios ou calendários, mas está distribuído nas experiências vividas e compartilhadas com quem amamos. Descobrimos assim que, valorizar o tempo é escolher viver com consciência, priorizar o que realmente importa e não se perder em distrações que consomem nossas forças sem trazer crescimento ou alegria. É investir em relações, em aprendizados e em pequenas ações que fazem sentido para nós, porque cada instante bem vivido é um recorte da história que estamos escrevendo com nossas escolhas. Neste sentido, perder tempo é perder a própria vida e valorizar o tempo é valorizar a vida! Então podemos nos perguntar: temos de fato valorizado nossa vida, ou temos nos deixado arrastar pela pressa que nos impele a fazer tudo que as circunstâncias exigem, mesmo que para isso corramos dia e noite contra o tempo como se ele fosse nosso rival?
Precisamos repensar nossas escolhas
Quando a pressa se torna regra, não existe tempo para cultivar a esperança e muito menos para sonhar. Mensagens chegam e queremos respostas em segundos, decisões são cobradas no instante em que surgem e opiniões precisam ser dadas sem o mínimo de reflexão. O mundo pede urgência, é verdade, mas o coração tem seu próprio ritmo e é necessário respeitá-lo se quisermos continuar vivendo com sentido. Basta refletir um pouco, para perceber que as coisas mais importantes da vida pedem calma, silêncio, espera e com nossos sonhos não é diferente, precisamos mais do que nunca repensar nossas escolhas e darmos passos em direção ao real sentido da vida, antes que seja tarde demais.
Não existe um controle remoto que faça o sol se pôr mais rápido só porque você quer, uma criança por mais desejada que seja, precisa esperar o tempo certo para nascer e uma semente não vira flor de um dia para outro mesmo que a gente queira. Tudo tem seu tempo debaixo do céu lembra o Eclesiástico, “e não há nada melhor para o homem do que viver bem cada coisa no seu devido tempo”, (Eclesiastes 3).
Dar respostas imediatas pode até parecer eficiência, mas nem sempre é sabedoria. Há perguntas que só o tempo revela a resposta, há situações que pedem discernimento e há sentimentos que precisam ser amadurecidos antes de serem expressos. Sendo assim, escolher o tempo certo para agir e regar a espera com o silêncio é uma sábia escolha. Até porque, o silêncio é o início da paz, como ensina Madre Teresa: “O fruto do silêncio é a oração; o fruto da oração é a fé; o fruto da fé é o amor; o fruto do amor é o serviço; o fruto do serviço é a paz. ”
E para vivermos em paz, precisamos ter a coragem de cultivar nossos sonhos, amadurecer nossas respostas e aprendemos a enxergar melhor as situações que nos cercam. O que nos levará naturalmente a ouvir com mais atenção e a falar com mais profundidade nos garantindo a leveza de uma vida real, vivida no presente. Neste sentido, desacelerar um pouco e cultivar a esperança sem se deixar levar pela pressa, não é perda, é ganho: de clareza, de serenidade e de verdade. Se prestarmos atenção a nossa história vamos perceber que nossas descobertas mais importantes, foram geradas no tempo da espera, muitas vezes marcado por um processo silencioso vivido “no vale”, sem plateia nem aplausos, onde enfrentamos nossa verdade e ela nos tornou mais livres. Livres inclusive para sonhar e lutar por nossos sonhos sem nos prendermos à “ditadura da mídia”, que insiste em dizer até onde podemos ir.
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A falta de sonhos nos torna inseguros, vazios e ansiosos
Tenho percebido que, à medida em que alguém abandona seus sonhos, deixando-se arrastar pelo comodismo e torna-se uma pessoa insegura, vazia e mais ansiosa. Porque de certa forma perde a graça de viver. Quem sonha caminha sempre com um brilho diferente no olhar, tem palavras de gratidão nos lábios e não para na dor porque carrega dentro de si a certeza de que o amanhã pode ser melhor. Entusiasma-se pela vida e não fica na indiferença em relação a tudo que acontece a sua volta.
Ruben Alves diz que quem faz a beleza de um jardim são os sonhos do jardineiro e explica em metáfora uma lição que vale para toda vida: “O que é que se encontra no início? O jardim ou o jardineiro? É o jardineiro. Havendo um jardineiro, mais cedo ou mais tarde um jardim aparecerá. Mas, havendo um jardim sem jardineiro, mais cedo ou mais tarde ele desaparecerá. O que é um jardineiro? Uma pessoa cujo os sonhos estão cheios de jardins. O que faz um jardim são os sonhos do jardineiro.”
Voltemos, portanto, a cultivar nossos sonhos como dedicados jardineiros, para que eles floresçam e nos levem além das exigências deste mundo urgente que quer nos fazer viver tudo ao mesmo tempo, e tem nos roubado a leveza de viver bem cada tempo. Os sonhos nos recordam que a existência não se limita ao presente imediato, mas se projeta para horizontes mais amplos, e nossa alma suspira por isso. Portanto, sonhar é, um gesto de fé, uma declaração silenciosa de que a vida vale a pena ser vivida e compartilhada no presente, ser valorizada com gratidão em relação ao passado e cultivada com esperança em relação ao futuro.
É por isso que quando o coração sonha, a alma floresce. Floresce em esperança, em gratidão e em coragem. Floresce em gestos de amor que celebram as pequenas vitórias a cada dia. E é nesse florescer interior que encontramos a força para transformar não só a nossa história, mas também inspirar outros a acreditar na beleza de seus próprios sonhos e cultivá-los com esperança, porque “a esperança não decepciona”.
Dijanira Silva, é casada, Membro Definitivo, na pertença do Segundo Elo dá Comunidade Canção Nova.