5. Permiti-me, pois, caríssimas irmãs, que juntamente convosco, medite uma vez mais aquela página bíblica maravilhosa que mostra a criação do homem, e na qual se exprime bem a vossa dignidade e missão no mundo.
O Livro do Gênesis fala da criação, de modo sintético e com linguagem poética e simbólica, mas profundamente verdadeira: «Deus criou o homem à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou varão e mulher» (Gn 1, 27). O ato criador de Deus desenvolve-se segundo um preciso projeto. Antes de mais, diz que o homem é criado «à imagem e semelhança de Deus» (cf. Gn 1, 26), expressão que esclarece logo a peculiaridade do homem no conjunto da obra da criação.
Depois, diz que ele, desde o início, é criado como «varão e mulher» (Gn 1, 27). A mesma Sagrada Escritura fornece a interpretação deste dado: o homem, mesmo encontrando-se rodeado pelas inumeráveis criaturas do mundo visível, dá-se conta de estar só (cf. Gn 2, 20). Deus intervém para fazê-lo sair desta situação de solidão: «Não é conveniente que o homem esteja só; vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele» (Gn 2, 18). Portanto, na criação da mulher está inscrito, desde o início, o princípio do auxílio: auxílio note-se não unilateral, mas recíproco. A mulher é o complemento do homem, como o homem é o complemento da mulher: mulher e homem são entre si complementares. A feminilidade realiza o «humano» tanto como a masculinidade, mas com uma modulação distinta e complementar.
Quando o Génesis fala de «auxiliar», não se refere só ao âmbito do agir, mas também do ser. Feminilidade e masculinidade são entre si complementares, não só do ponto de vista físico e psíquico, mas também ontológico. Só mediante a duplicidade do «masculino» e do «feminino», é que o «humano» se realiza plenamente.
Depois de criar o homem, varão e mulher, Deus diz a ambos: «Enchei e dominai a terra» (Gn 1, 28). Não lhes confere só o poder de procriar para perpetuar no tempo o género humano, masconfia-lhes também a terra como tarefa, comprometendo-os a administrar os seus recursos com responsabilidade. O homem, ser livre e racional, é chamado a transformar a face da terra. Nesta tarefa, que é essencialmente a obra da cultura, tanto o homem como a mulher têm, desde o início, igual responsabilidade. Na sua reciprocidade esponsal e fecunda, na sua tarefa comum de dominar e submeter a terra, a mulher e o homem não reflectem uma igualdade estática e niveladora, mas tampouco comportam uma diferença abissal e inexoravelmente conflituosa: a sua relação mais natural, conforme ao desígnio de Deus, é a « unidade dos dois », ou seja, uma « unidualidade » relacional, que permite a cada um de sentir a relação interpessoal e recíproca como um dom enriquecedor e responsabilizador.
A esta « unidade dos dois », está confiada por Deus não só a obra da procriação e a vida da família, mas a construção mesma da história. Se durante o Ano Internacional da Família, celebrado em 1994, a atenção se concentrou sobre a mulher como mãe, a Conferência de Pequim torna-se ocasião propícia para uma nova tomada de consciência da múltipla contribuição que a mulher oferece à vida inteira das sociedades e nações. É uma contribuição, inicialmente de natureza espiritual e cultural, mas também sócio-política e econômica. Devem realmente muito ao subsídio da mulher, os vários setores da sociedade, os Estados, as culturas nacionais, e, em última análise, o progresso de todo o gênero humano!