Qual é o sentido da vida? Essa é uma pergunta natural em uma hipotética reflexão social ou transcendental. No entanto, as respostas que ela suscita podem ser complexas demais para uma compreensão imediata. Porém, ao segmentar essa questão para uma área específica da vida, é possível esclarecer algumas dúvidas de forma mais objetiva — especialmente quando essa reflexão se orienta pelo exemplo de santos da Igreja. Assim, uma nova pergunta surge, mais concreta e igualmente profunda: Qual é o sentido da minha vida profissional?

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O sentido moral da vida profissional
O exemplo de São Bento colabora para a compreensão:
“Bento tanto pela graça quanto pelo nome, que desde a infância possuía um coração maduro. Superior, pelo seu modo de proceder, ao verdor da idade a nenhuma volúpia entregou seu coração, e assim, enquanto se achava nesta terra, da qual por algum tempo pudera gozar livremente, desprezou, como já murchas, as flores do mundo.
Oriundo de nobre estirpe da província de Núrsia, fora encaminhado a Roma para o estudo das belas letras. Vendo, porém, muitos nesses estudos rolarem pelo despenhadeiro do vício, recolheu logo o pé que quase pusera no limiar do mundo, no temor de que, tocando algo da sua ciência, viesse também ele a despenhar-se por inteiro no tremendo abismo.
Desprezando, pois, tais estudos, deixou a casa e os bens paternos, e, no desejo de agradar somente a Deus, procurou o santo hábito do monaquismo. Retrocedeu, assim, doutamente ignorante e sabiamente insensato.” (São Gregório Magno)
Diante do choque com a sociedade de seu tempo, São Bento tomou a decisão de dedicar sua vida ao que realmente tinha valor. À primeira vista, seu exemplo pode parecer extremo, mas a lição que ele nos deixa é, na verdade, ordinária: não é necessário abandonar tudo e seguir uma vida monástica — a menos que essa seja a sua vocação. O essencial é escolher, no dia a dia, empregar o tempo naquilo que possui valor moral.
Nem sempre o trabalho trará um retorno imediato ou evidente. Ainda assim, seus frutos devem repercutir positivamente em outras dimensões da vida: seja no sustento da família, na prática da caridade ou em outras formas de bem. Como ensina o Evangelho: “Toda árvore boa dá bons frutos; toda árvore má dá maus frutos. Uma árvore boa não pode dar maus frutos; nem uma árvore má, bons frutos. Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo. Pelos seus frutos os conhecereis.” (Mt 7,17-20)
A santificação do trabalho
“Eu, qual ser infinito, quero ações infinitas, amor infinito. Desejo que as mortificações e demais exercícios corporais sejam considerados como meios, não como fins. Se neles repousar o inteiro afeto da pessoa, serme-ia dado algo de finito, à semelhança de uma palavra que, ao sair da boca, já não existe, quando é pronunciada sem amor. Só o amor produz e revela a virtude!” (Santa Catarina de Sena)
Quando o trabalho é encarado apenas como um meio de sobrevivência ou de realização pessoal isolada, ele corre o risco de se tornar algo passageiro e sem substância. Contudo, se cada ação estiver impregnada de amor — amor a Deus, ao próximo e à verdade —, ela adquire um valor eterno. Assim, o sentido da vida profissional não está apenas na produtividade ou no sucesso externo, mas na disposição interior de transformar o cotidiano em expressão concreta de caridade e amor a Deus.
Ora et Labora
“Em todo o segundo livro dos Diálogos de Gregório, ilustra-nos como a vida de São Bento estivesse imersa numa atmosfera de oração, fundamento portanto da sua existência. Sem oração não há experiência de Deus. Mas a espiritualidade de Bento não era uma interioridade fora da realidade. Na agitação e na confusão do seu tempo, ele vivia sob o olhar de Deus e precisamente assim nunca perdeu de vista os deveres da vida quotidiana e o homem com as suas necessidades concretas” (Bento XVI).
Mesmo o trabalho mais simples pode ser santificado, desde que realizado com um coração que busque a virtude e tenha o desejo sincero de que cada ação seja um caminho para Deus. O que dá sentido às tarefas do cotidiano não é sua grandeza aos olhos do mundo, mas a intenção com que são feitas e os frutos que elas geram.
Matheus Eleutério – estudante de jornalismo