Jesus é o grande orante, e só podemos seguir o Senhor sendo orantes como Ele.
Um dia, Jesus estava orando num certo lugar. Quando terminou, um de seus discípulos lhe pediu: “Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou a seus discípulos”. 36
Fica claro, nessa passagem, que Jesus parava para rezar. E nós só aprendemos a rezar estando com Jesus, por isso seus discípulos vão pedir para que Ele os ensine. Em seguida, Ele ensina a oração do Pai-nosso. É a oração de Jesus que desperta no discípulo o desejo pela oração. Assim, nós podemos participar da oração d’Ele.
Jesus nos ensina a orar, pois é a oração que nos aproxima d’Ele
A oração que o Senhor ensina nos permite ter um acesso ao Pai como Ele sempre teve. Jesus tinha uma relação pessoal e absoluta com o Pai. Como Ele nos ensinou a rezar, podemos também acolher essa relação. A oração implica relação filial.
Através da oração que o Senhor nos ensina, abre-se um caminho de conversão e verdade, pois a verdadeira oração nos abre à verdade e deve brotar da verdade.
A oração que Jesus nos ensinou nos põe na presença do Pai e deve gerar confiança em quem reza.
Quem reza precisa pedir ao Senhor que o ensine a orar, pedindo a graça e a luz para conseguir penetrar os segredos da oração, a fim de que consiga levar uma vida cristã autêntica e verdadeira. “Todas as coisas têm por fim a oração” (São Francisco de Sales).
O que é a escola da oração?
A escola de oração diz de aprendizado, ou seja, para rezar é preciso aprender. Todos os dias, precisamos aprender uma nova lição da oração; não é algo acabado. Nessa escola, Jesus é o Mestre que nos ensina a rezar.37 N’Ele, temos uma oração livre, verdadeira e autêntica. Ele sempre será o modelo e mestre.
Precisamos entrar na escola de Jesus, que é uma escola de oração. Jesus sempre teve um diálogo íntimo e constante com o Pai; a oração gera em nós esse diálogo íntimo e comunhão profunda.
Nessa escola de oração, não podemos esquecer que o homem precisa tomar consciência de si mesmo e de Deus. Quem reza precisa ser dependente de Deus, precisa entender quem é Deus e quem é o homem, além de saber qual o lugar de Deus na oração e o lugar de quem reza. Nesse sentido, podemos destacar três grandes personagens bíblicos que nos ajudam a entender o verdadeiro sentido da oração, de se colocar diante de Deus nessa escola de oração. Queremos olhar para a oração de Tobias,38 Judite39 e Ester40 como um modelo a ser seguido.
Eles confiaram na intervenção de Deus, mesmo tendo uma angústia ou aflição que os invadiam; eles não se desesperaram, mas rezaram e se colocaram na presença de Deus. O primeiro ponto é colocar-se na presença de Deus, reconhecer quem é Deus, os seus feitos, a sua ação na História, e como o Senhor se manifestou. Trata-se de reconhecer a identidade de Deus: O Senhor, Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel, que conserva a misericórdia por mil gerações e perdoa culpas, rebeldias e pecados, mas não deixa nada impune…41
Em seguida, eles se reconheceram como pecadores, como infiéis e dependentes de Deus. Olharam para sua condição de fraqueza, seus pecados e até onde haviam chegado por não observarem os mandamentos.
E para concluir, na oração eles pediam a intervenção poderosa de Deus diante da situação: “[…] ouve a minha súplica [… ]”,42 “agora, vem em auxilio a esta órfã […] e a nós, livra-nos das mãos dos nossos inimigos; converte o nosso luto em alegria e as nossas dores em salvação”.43
E rezamos por quê?
Porque nos interrogamos sobre nossa existência, porque queremos respostas, porque nos sentimos solitários e abandonados, porque nos sentimos encurralados pelo dilema entre bem e mal, pelo sofrimento e desespero, e isso nos impulsiona a buscar a Deus como solução definitiva, concreta; rezamos a fim de obter força interior para vencermos. Rezamos porque queremos ser íntimos e amigos de Deus. Rezamos porque queremos ter acesso à vida de Deus. O socorro sempre virá via oração.
Rezar nunca será fácil, pois requer um mover do homem em direção ao sobrenatural; e além de tudo, é um dom de Deus. Precisamos ter posição de gratuidade e gratidão, de dependência e humildade.
Na oração, o homem tem a possibilidade de abrir o coração de Deus. O dom da oração nos leva à conversão. Na oração, o Senhor nos revela quem somos e o que precisamos ser. Deus sempre dá o primeiro passo em direção ao homem em oração, porque Ele o ama.44
O homem não deve orar por orar, mas querendo ser ouvido. Não para ouvir a si mesmo, mas para que Deus lhe responda. Não para querer a resposta que brota do seu coração, e sim a resposta de Deus para a situação. A melhor resposta da oração é aquela que Deus dá.
Qual é a melhor oração?
A melhor oração é aquela em que o homem esquece de si mesmo e foca em Deus, mesmo que seu coração queira muitas respostas. Deus sempre será o começo, o meio e o fim de toda oração.
O Senhor nos faz a recomendação de orar sempre.45 Isso significa que precisamos viver em estado de oração como Ele. Com isso, a nossa vida deve ser toda permeada pela oração, em sintonia com Deus. Que façamos da nossa vida uma oração: ações, gestos, palavras etc. Façamos tudo em Deus, com Deus e para Deus.
Jesus não perdia tempo. Para o bom rendimento de sua missão e vida, Ele aproveitava todas as oportunidades para estar em oração.
Referência bibliográfica:
36Cf. Lc 11,1.
37Cf. Compêndio 541-547.
38Cf. Tb 3,1-6.
39Cf. Jt 9,1-14.
40 Cf. Est 4,17mss.
41 Cf. Ex 34,6-7.
42 Cf. Jd 9,12.
43 Cf. Est 4,17mm e 17hh.
44 Cf. CIC 2567.
45Cf. Lc 18,1.
Trecho extraído do livro “A oração move o céu”, de padre Reinaldo Cazumbá