Para responder a pergunta do título deste artigo, podemos refletir sobre a catequese proferida pelo Papa Bento XVI na Audiência geral do dia 24 de outubro de 2012. Apresentam-se, pois, a seguir, de maneira sintética, as suas reflexões sobre a fé.
O Papa começava com estas três perguntas muito atuais: o que é a fé? Ainda tem sentido a fé, num mundo em que ciência e técnica abriram horizontes até há pouco tempo impensáveis? O que significa crer hoje?
A fé ainda tem sentido?
Começamos considerando que o desenvolvimento maravilhoso da ciência moderna e de suas aplicações técnicas sempre mais variáveis e prodigiosas, representa o acontecimento fundamental do nosso tempo. Eis, a seguir, alguns exemplos, indicando, ao mesmo tempo, a grandeza das descobertas e os possíveis riscos. Foi realizada a fissão do átomo; sendo assim, esta era foi também chamada de era atômica; foi possível realizar o voo espacial, sendo, então, esta era chamada de era espacial. É possível fazer projeções e simulações, sendo nossa era chamada de era do projeto e do futuro.
No campo médico, estamos vendo a realização não apenas das máquinas que exploram os raios, as radiações atômicas e a captação da energia nuclear no organismo, mas realizam-se hoje a telemedicina e a computadorizarão no acompanhamento do doente. Outras consequências da era tecnológica são previstas na relação homem-ambiente pelas crescentes consequências de exploração, poluição (até radioativa) e de possíveis mutações biológicas e genéticas com a aplicação das tecnologias de engenharia genética. Chega-se a falar até em modificações genéticas dos seres humanos com a hipotética possibilidade de ‘produzir’ uma geração de super-humanos.
Daí percebe-se que, apesar da grandeza das descobertas da ciência e dos êxitos da técnica, o homem não parece ter-se tornado verdadeiramente mais livre, mais humano; subsistem muitas formas de exploração, de manipulação, de violência, de prepotência, de injustiça. Além disso, um certo tipo de cultura educou a mover-se só no horizonte das coisas, do realizável, a acreditar unicamente naquilo que se vê e se toca com as próprias mãos.
Por outro lado, aumenta também o número daqueles que se sentem desorientados e que procuram ir além de uma visão apenas horizontal da realidade.
A fé é a entrega confiante a Deus
Neste contexto, sobressaem algumas interrogações fundamentais: que sentido tem viver? Há um futuro para o homem, para nós e para as novas gerações? Para que rumo orientar as opções da nossa liberdade, para um êxito bom e feliz da vida? O que nos espera além da morte?
Na verdade, nós temos necessidade não só do pão material, mas precisamos de amor, de significado e de esperança, de um fundamento seguro, de um terreno sólido que nos ajude a viver com um sentido autêntico também na crise, nas obscuridades, nas dificuldades e nos problemas quotidianos. A fé oferece-nos precisamente isto: é um entregar-se confiante a um ‘Tu’, que é Deus, o qual me confere uma certeza diversa, mas não menos sólida daquela que provém do cálculo exato ou da ciência. A fé não é simples assentimento intelectual do homem a verdades particulares sobre Deus; é um gesto mediante o qual me confio livremente a um Deus que é Pai e que me ama; é adesão a um ‘Tu’ que me dá esperança e confiança.
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Crer e confiar
De fato, Deus revelou que o seu amor por cada um de nós é incomensurável: na Cruz, Jesus de Nazaré, o Filho de Deus que se fez homem, mostra-nos do modo mais luminoso até que ponto chega este amor, até ao dom de si mesmo, até ao sacrifício total. Com o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, Deus desce até o fundo na nossa humanidade para elevá-la à Sua altura. A fé é crer neste amor de Deus que não diminui diante da maldade do homem, perante o mal e a morte, mas é capaz de transformar todas as formas de escravidão, oferecendo a possibilidade da salvação.
E esta possibilidade de salvação através da fé é um dom que Deus oferece a todos os homens. Nós podemos crer em Deus, porque Ele se aproxima de nós e nos toca, porque o Espírito Santo, dom do Ressuscitado, nos torna capazes de acolher o Deus vivo.
Crer é confiar-se com toda a liberdade e com alegria ao desígnio providencial de Deus sobre a história, como fez o patriarca Abraão, como fez Maria de Nazaré. E este ‘sim’ transforma a vida, abre-lhe o caminho rumo a uma plenitude de significado, tornando-a assim nova, rica de alegria e de esperança confiável. Sim, esta fé aproxima o homem de Deus.