1902 – O vôo da confiança!

Sabe aquele dia em que temos a impressão de que todos resolveram viajar exatamente para o mesmo lugar para onde estamos indo? Pois é, aconteceu isso comigo. Ao sair de férias, dias atrás, peguei um vôo de Guarulhos (SP) a Natal (RN). O dia só estava começando, mas o aeroporto já estava movimentadíssimo, todos com pressa seguiam em alguma direção. No salão de embarque fiquei surpresa ao perceber a quantidade de gente que estaria no meu vôo; e daí, como era de se esperar, a aeronave decolou lotada, ou melhor, quase lotada. É que do meu lado, por incrível que pareça, não havia ninguém; no início fiquei meio desconfiada, mas depois compreendi que era providência divina.

Quando estava nas alturas, e tudo parecia tranqüilo, resolvi pegar a Bíblia e fazer o estudo da Palavra seguindo o exemplo do monsenhor Jonas Abib. Ao procurar uma caneta na bolsa, encontrei vários cartõezinhos e mensagens de amigos, alguns até antigos, nem sei ao certo porque estavam lá. Como tinha bastante tempo de vôo, resolvi ler todas as mensagens e assim fui contemplando o que realmente faz sentido nesta vida: amar! Por instantes, observei os companheiros de viagem e tentei imaginar como seria cada um, seus sonhos, lutas, o motivo da viagem, as pessoas que talvez tivessem deixado em casa, os compromissos… Enfim, como seria a vida de cada um deles fora daquela aeronave.

Lembrei-me de tantos vôos, como aqueles que se tornaram famosos por terem sido vítimas de desastres. Por que será que ninguém sequer comenta quando o vôo dá certo?

Na Europa há um costume que admiro: quando a aeronave pousa, os passageiros aplaudem em agradecimento pela vida, por terem feito boa viagem; mas, no Brasil, nem isso fazemos. Mal o avião aterrissa e começa a inquietação dos passageiros para pegar os pertences e sair o mais rápido possível, como se fosse a coisa mais normal do mundo ter voado durante horas nas alturas.

Bem sei que a tecnologia tornou tudo isso comum, mas não posso me acostumar com a bondade de Deus. Sei que para além do que meus olhos vêem existe uma mão firme que me sustenta, esteja eu onde estiver. Enquanto voava, contemplando as nuvens, cidades, prédios, casas, estradas, tudo tão pequeno que parecia de brinquedo, pensei: como somos pequenos e frágeis diante da grandeza de Deus! Por que será que tantas vezes nos esquecemos disso e pensamos o contrário?

A Palavra de Deus diz que não devemos colocar nossa confiança nos homens, mas sim, no Senhor: “Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor! Bendito o homem que confia no Senhor e põe nele sua esperança” (Jeremias 17, 5.7).

Podemos, diante disso, rever em quem temos colocado nossa confiança: na nossa inteligência, cultura, emprego, economias, status, pessoas? O que realmente tem sido importante em nossa vida? Será que temos tido tempo para dizer às pessoas o quanto elas são importantes para nós? E se tivéssemos morrido durante nossa última viagem? O que sobraria de cada um de nós? Quais lembranças teriam nossos parentes, colegas e amigos de nós? Será que estaríamos prontos para nos encontramos com o Senhor?

É certo que a instabilidade – causada por diversos fatores – atinge de cheio nossa era. Temos carência de confiança! Muitas vezes, até queremos crer nas pessoas, mas, infelizmente, baseados em experiências negativas, temos dificuldade para isso. Há até quem diga: “Devemos confiar, mas sempre desconfiando”. Contudo, com Deus é diferente! Constatamos, pela fé e pela Palavra d’Ele, que n’Ele podemos confiar.

O poeta faz – no Salmo 71,5 – uma linda declaração de confiança absoluta no Senhor: “Pois Tu és a minha esperança, Senhor Deus, a minha confiança desde a minha mocidade”.

Acredito que é uma confiança assim que nos põe de pé a cada dia e nos dá o verdadeiro sentido na vida. Estejamos nas alturas, no mar ou em terra firme, creio que nossa segurança é o Senhor!

Perceber – nos detalhes dos acontecimentos ordinários – os traços da presença divina dá a cada “viagem” nossa uma única direção: o coração de Deus. Conscientes ou não é para lá que estamos voltando.