Promover os valores essenciais
3 Sem Deus é muito difícil combater a violência. Sem a concepção de que cada pessoa traz em si uma marca de Deus, que ama a todos e os quer tornar felizes, não se conseguirá apresentar a violência como um ato desumano, pois toda a pessoa é uma criatura de Deus igual a mim próprio.
Sem a promoção e defesa dos valores essenciais, tais como a defesa da vida desde o seio materno, o amor e o respeito para com os outros, o «não faças aos outros o que não queres que te façam a ti», não só não diminuirá a violência como aumentará a tendência para a banalizar. Não é motivo de consolação afirmar que noutros lugares ainda é pior; é necessário combater a banalização da violência, o que não acontece quando não se promovem os valores essenciais.
Quando as principais instâncias de promoção dos valores – a família, a Igreja, a escola são desestabilizadas ou ridicularizadas, o que por vezes acontece com certos meios de comunicação, a violência aparece como um fato normal e é tida como inevitável. Este processo é muito perigoso, principalmente para as crianças e jovens, que vão identificar-se e imitar os seus heróis violentos.
Ganhar dinheiro, de preferência de uma forma fácil, é uma tentação para jovens e menos jovens de classes pobres, por vezes sem formação, que recorrem ao furto, ao esticão, ao ataque de pessoas idosas e indefesas, para os seus gastos consumistas e até perniciosos. A falta de uma formação que dê sentido à vida está na origem do tédio e vazio de jovens de todas as classes que podem cair nas malhas da violência.
A tentação de combater a violência com a violência é muito forte. Desta maneira perde-se a fé numa sociedade de paz e fraternidade. Não existem receitas simples e feitas, mas é necessário que continuem ou se iniciem mudanças na sociedade a começar pelas crianças e adolescentes. Os comportamentos morais são um dos elementos chave no processo de eliminação da violência e formação da juventude, não só dos indivíduos mas também dos grupos.
O desenvolvimento moral depende também de estruturas externas, tais como a família, a Igreja, a escola, a comunidade, clubes recreativos e culturais. Todos eles promovem mecanismos fraternos, solidários, democráticos. Nestas estruturas nascem e fortificam-se redes de solidariedade. É preciso valorizar cada vez mais a pessoa humana. O fundamento desta educação é o amor. Quem não foi amado dificilmente vai valorizar a própria vida e menos ainda a vida dos outros.
Aprender a amar e a respeitar os outros, aprender a agir com responsabilidade sem recorrer a leis para justificar a própria violência, criar condições para que a qualidade de vida melhore para todos, são formas cristãs e humanas para combater a violência. Não é colocando um polícia ao lado de cada pessoa violenta, que desaparece a violência, mas convertendo o coração, embora necessitemos cada vez mais dos defensores da ordem e da paz.
Quando a Igreja diocesana criou paróquias e constrói igrejas e estruturas de educação e promoção humana nas zonas intermédias entre a cidade a as partes altas, ela está a contribuir para comportamentos morais e promoção dos valores entre as novas gerações. A ajuda material que o governo da Região concede na construção destas estruturas é altamente compensada com a ação educadora e diminuição da violência em zonas que se podem tornar de alto risco. Não é dinheiro perdido aquele que se concede às redes tradicionais de solidariedade, que ajudam a criar uma sociedade mais humana e pacífica.
Funchal, 17 de Fevereiro de 2002