Antes de colocarmos em pauta o Método de Ovulação Billings, existem algumas questões prévias que quero ressaltar aqui. Uma delas é clarear o conceito do que venha a ser sexo e sexualidade. Quando se fala de sexo e sexualidade, o que será que vem à mente das pessoas? Essas perguntas me fazem recordar uma atividade feita por uma educadora com adolescentes de treze anos e também com adultos de trinta, quarenta, cinquenta e sessenta anos.
A atividade era a seguinte: colocava-se na lousa a palavra sexo, fazia-se uma linha e, do outro lado, colocava-se a palavra sexualidade. Então as pessoas deveriam falar o que vinha à sua cabeça ao ler na lousa a palavra sexo, e elas poderiam dizer o que quisessem. Talvez, você esteja agora fazendo essa atividade com seu pensamento: ao falar a palavra sexo, o que vem à sua cabeça?
O que pensamos sobre sexo e sexualidade?
Bom, na atividade proposta, as palavras que surgiram denotavam a ideia de que sexo estaria estritamente correlacionado à prática sexual, ao uso indiscriminado dos órgãos genitais, tanto masculino como feminino, no estrito uso da genitalidade.
Em seguida, a educadora apresentou o significado do que é sexo, do latim sexus, conformação física, orgânica, celular, particular, que permite distinguir o homem e a mulher. Ao dar esse conceito, todas as palavras escritas na lousa, na coluna em que estava acima da palavra sexo, foram apagadas pelos próprios alunos. A partir daqui, começou-se a abrir o diálogo do que estavam entendendo sobre o tema.
Aos poucos, no decorrer da atividade, todos foram compreendendo que o sexo não é somente algo que se possui, no sentido de tomá-lo como um acréscimo, que se pode ter, colocar, tirar, mas que aponta a uma forma de ser, e que, por fim, não temos sexo, somos sexuados. A pessoa não somente tem um sexo determinado, mas é homem ou mulher.
Quando foram preencher as palavras no outro lado da lousa, onde estava escrita a palavra sexualidade, não surgiu quase nada, pois eles diziam não vir muitas palavras em suas mentes. Então a educadora conversou com eles, para que recordassem como iniciaram a atividade, todos eufóricos, pois se diziam entendidos do que era sexo, porém o silêncio da sala denunciava o que pode ser chamado de analfabetismo da sexualidade.
Sexo X Sexualidade
Vejam comigo que essa simples atividade revela alguns aspectos interessantes da nossa mentalidade sobre sexo e sobre a sexualidade. De fato, uma visão ainda reduzida, pois, se o assunto é sexualidade, normalmente a única coisa que se fala é sobre genitalidade e o encontro da genitalidade masculina e feminina. Porém, a sexualidade é um conceito muito mais amplo, é um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar o amor humano. A capacidade que você e eu temos de amar e ser amados.
Quando iniciamos nossa vida, preparamo-nos para um caminho de comunicação direto e relevante com todos os que se aproximam de nós. Aqui entra em ação a nossa sexualidade como uma força que permeia toda nossa realidade humana, ou seja, tem a ver com tudo o que somos.
Logo, transpiramos a sexualidade que vivemos da hora em que acordamos até a hora em que vamos nos deitar. Na sexualidade fica impresso todo o ser humano, aponta a nossa forma de ser e que está operante desde a origem, em nossa existência. É um ato de pessoa para pessoa, e não somente de corpo para corpo. O corpo do homem e da mulher tem, por conseguinte, por assim dizer, um caráter teológico, pois não é simplesmente corpo, e o que é biológico no homem não é só biológico, mas expressão e cumprimento da nossa humanidade. De igual modo, a sexualidade humana não está ao lado do nosso ser pessoa, mas pertence-lhe. Só quando a sexualidade se integra na pessoa, consegue dar um sentido a si mesma.
A sexualidade entendida como a capacidade que as pessoas possuem de dar e receber amor abre perspectivas e possibilidades de viver não somente instintivamente, como os animais, nem como coisas; pelo contrário, ela nos abre horizontes para nos admirarmos com as dimensões física, emocional, intelectual, social e espiritual que nos constituem e nos capacitam a viver como pessoa.
Método natural
E por que este conceito é prévio, antes de falar do método natural? Porque, por conta dessa mentalidade reduzida sobre sexo e o analfabetismo do que é sexualidade, muitos são os homens e as mulheres que rejeitam a proposta da vivência do método natural na vida sexual. E quais são as razões dessa rejeição? Eles se veem inconformados, pois não podem existir fronteiras que delimitam a atração sexual, e precisam viver como querem, de acordo com os seus instintos e impulsos. E a proposta do método natural oferece justamente um enriquecimento, uma amplitude na vivência sexual, e propõe ao homem e à mulher a possibilidade de viverem uma força capaz de guardar e proteger o amor entre eles, amor humano, tão frágil, tão suscetível aos ventos, às tempestades das paixões, da cobiça, da concupiscência da carne. Esta força é a castidade conjugal, transparência da interioridade do homem e da mulher, sem a qual o Amor não é amor. E ela é tão forte que, além de ser a guardiã do amor entre o homem e
a mulher, não comporta o empobrecimento das manifestações afetivas; pelo contrário, torna-as mais intensas, com a ternura, o respeito, a espera, o diálogo, e, por consequência, comporta a descoberta do sabor do amor.
Poderia aqui apresentar relatos de homens e mulheres que, ao decidirem deixar de usar métodos que reduzem seu corpo a um mero objeto, dizem experimentar um enamoramento novo por aquele que está ao seu lado. Mas, ao mesmo tempo, é preciso ter consciência de que, ao escolher esta guardiã do amor, a clareza da consciência daquilo que nos movimenta e nos atrai para os apetites da carne será tão nítida como o sol que ilumina nossa vida. E aqui cada um sabe “onde a coisa aperta”.
Vida sexual
O ato sexual dá um salutar prazer, porém prazer maior é saber que a entrega nesse ato não é somente de corpo para corpo, mas do ser inteiro, e esta comunhão de corpo, alma e espírito requer uma purificação do coração, o qual leva o homem e a mulher a buscarem este encontro pelo bem que ele é em si mesmo.
Outro conceito é a abertura à vida e o respeito aos processos biológicos reprodutivos. Isso porque, na consciência das pessoas, de forma geral, existe a necessidade de fazer o “planejamento familiar”, o qual consiste em realizar os atos sexuais com uso de métodos contraceptivos para ter ou não filhos. Desta forma, faz-se um controle dessa natalidade, em uma perspectiva de fechamento à vida, interferindo, de forma arbitrária, nos processos biológicos reprodutivos.
O que é feito, então? Conforme o caderno de assistência do “planejamento familiar”, realiza-se uma ampliação do acesso de mulheres e homens à informação e aos métodos contraceptivos para que possam garantir o exercício dos direitos reprodutivos. Para que isto se efetive, é preciso manter a oferta de métodos anticoncepcionais na rede pública de saúde, para auxiliar a mulher a fazer sua opção contraceptiva em cada momento da vida. Percebe-se, então, que esses elementos vão como que forjando uma mentalidade contraceptiva de que a união sexual deve ser mantida, porém eliminando a consequência que se pode gerar através dela.
Mas ainda o que é mais relevante, a partir do acompanhamento que realizo, é verificar que, apesar de os métodos contraceptivos favorecerem a não concepção e a experiência de vários parceiros, a questão de fundo está no relacionamento, pois seria muito fácil se esta união sexual fosse estabelecida entre coisas e não entre pessoas. Como, por exemplo, eu uno o café ao leite, e se eu pus mais café do que leite, e eu não gostei, jogo fora. Ou como: eu uno uma massinha de modelar de uma cor à outra, porém não gosto da mistura que se formou, e então jogo fora. No entanto, a união sexual se estabelece entre pessoas, e quando essa relação se desumaniza e acaba se dando como se o outro fosse um objeto, isso pode vir a gerar muitas consequências na mentalidade da mulher, do homem e da sociedade.
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Mulher X Homem
Para a mulher:
• o amor não existe e tudo é uma mentira;
• o respeito por ela mesma fica diminuído, pois não há a preocupação com o seu equilíbrio físico e psicológico;
• adolescentes e jovens aprendem que a relação sexual não pode estar apenas no casamento, porque ele mesmo já não é necessário;
• a relação sexual começa a ser dominada apenas por instinto, “desejo fazer o que quero, seguir os meus instintos”;
• a contracepção passa a ser requisito obrigatório, pois ela ajudará a se livrar da possível consequência desse ato: o filho.
A mulher é vista, então, como um simples instrumento de prazer egoísta, o que dá abertura para um caminho amplo e fácil de viver relações com múltiplos parceiros, mas não pertencendo a nenhum.
Para o homem:
• a relação sexual passa a significar um parque de diversões;
• os jovens precisam ser, desde muito cedo, estimulados a iniciar sua vida sexual para se sentirem maduros;
• o comando é seguir os instintos e satisfazer suas necessidades;
• estímulo ao uso de preservativos;
• o sexo é visto como algo somente físico e separado das outras dimensões da pessoa;
• concordam com a contracepção e, muitas vezes, exigem-na.
Para a sociedade:
• reforça o exagero da busca pelo prazer, do bem-estar acima de tudo. A felicidade sem dificuldades. Uma vida sem problemas;
• a cultura do bem-estar passa a ser um fator que estimula também a contracepção. Consequentemente, não é difícil entender o porquê de tantos casais viverem dificuldades na vida sexual, infidelidades e insatisfação;
• o filho é visto como uma ameaça, um risco, uma carga, um mal, que, por vezes, gera atitudes de rejeição à vida: propagação do aborto, suicídio, eutanásia, perda de sentido da vida, rejeição da própria identidade sexual.
Vejam quantos assuntos surgem ao se falar do Método de Ovulação Billings. Esses conceitos de sexo, sexualidade, abertura à vida e respeito aos processos biológicos reprodutivos formam um alicerce para o melhor entendimento de o porquê tanta resistência e rejeição à proposta de uma mentalidade nova sobre
a vida sexual e a transmissão da vida.
Método de Ovulação Billings
Penso que, para isso, seja importante, antes de tudo, reconhecer: qual é a minha mentalidade sobre esses conceitos? Como eu fui educado? O que eu trago na minha genética, nas minhas experiências pessoais, do meu entorno social, para ter tal? Nada melhor do que partir da realidade em que vivo e estou.
Sabendo onde estou, posso deslumbrar aonde quero ir. E, talvez, assim, o Método de Ovulação Billings possa ser visto como um caminho, uma maneira pedagógica de sair de um ponto focado para uma compreensão mais aberta.
Se propusermos aqui o método pelo método, torna-se mais difícil ver sua beleza e sua necessidade de ser internalizado na vida cotidiana, de se encantar e se admirar com a queda das águas da cachoeira.
Trecho extraído do livro “Gerar a vida no amor com responsabilidade”, de Fabiana Azambuja