A busca por fotos, vídeos de pornografia na internet podem levar à desordem da própria sexualidade, no sentido de não a orientar para as relações de respeito, responsabilidade e amor. A Congregação para a Educação Católica afirma que:
“A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, que é o único a torná-la verdadeiramente humana. Preparada pelo desenvolvimento biológico e psíquico, cresce harmonicamente e realiza-se em sentido pleno somente com a conquista da maturidade afetiva, que se manifesta no amor desinteressado e no total dom de si”.1
Quando “desodernada”, a sexualidade despersonaliza, desumaniza e pode provocar a destruição da pessoa. Um indivíduo desintegrado é uma pessoa em pedaços, desencontrada, dividida, que não se sente realizada porque não sabe como harmonizar (conduzir) seus sentimentos, tensões, desejos; não sabe como conviver com eles e orientá-los para um bem maior.
O crescimento no amor, enquanto implica o dom sincero de si, é ajudado pela disciplina dos sentimentos, das paixões e dos afetos que nos fazem chegar ao autodomínio. Ninguém pode dar aquilo que não possui: se a pessoa não é senhora de si – por meio da virtude e, concretamente, da castidade – falta-lhe aquele autodomínio que a torna capaz de se dar.2 A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, como forma de torná-la verdadeiramente humana. Conforme o Catecismo da Igreja Católica, a castidade “significa a integração da sexualidade na pessoa. Inclui a aprendizagem do domínio pessoal”.3
Pornografia e frustração
Pessoas feridas e fragilizadas, profundamente carentes, com uma sexualidade não bem integrada em seu projeto de vida, sem ter experimentado a beleza de amar e ser amada, irão com certa facilidade fazer do “outro” objeto do seu prazer. O uso da pornografia nos aplicativos de mensagens é justamente o uso do outro, da outra como objeto de prazer, é a “coisificação” da pessoa que está do outro lado e que se expõe.
Muitos jovens e casais unidos pelo matrimônio, reproduzem nos seus relacionamentos o que assistem nos vídeos eróticos. Reproduzir o pornô na vida do casal pode ter um efeito desagregador. Aquilo que se veem nos filmes são atores interpretando uma fantasia, e o casal é real. A realidade é muito diferente. Quando o interesse estiver na tentativa de ser aquilo que o filme mostra, a expectativa pode até mesmo atrapalhar a vida sexual do casal. A pessoa que usa pornografia tem grandes chances de se frustrar com seu próprio resultado sexual.
O uso destes vídeos eróticos pode levar à busca cada vez maior de material excitante, pornografia pesada, causando dependência virtual e até confusão entre a fantasia e a realidade. É preciso estar vigilante aos condicionamentos que
essa fantasia está exercendo na consciência da pessoa. A necessidade do uso de filmes eróticos é um sinal de que alguma coisa não está bem, já que um estímulo externo está substituindo o natural.
Consequências
O uso de pornografia tem grandes consequências. A compulsão por vídeos pornô tem sido tratada como um vício real, que pode gerar ansiedade, insônia, depressão. Para alguns especialistas, pode ser tão prejudicial quanto a dependência em cocaína ou crack, fazendo a pessoa perder a vida social. A probabilidade de adotar comportamentos
antissociais crescerá à medida em que este processo prossegue. Existe uma linha tênue que separa o natural do vício. O consumo de pornografia pode prejudicar as relações com a família, com namoradas, namorados e/ou no trabalho, quando um “simples” ato se tornou um vício.
Nos acompanhamentos que faço com casais, quando a pessoa descobre que o outro, a outra está continuamente consumindo vídeos pornográficos, dizem se sentirem cada vez mais desrespeitadas, inseguras, traídas etc. O comportamento da pessoa viciada em pornografia muda bastante, isolamento constante, dificuldade de relacionar-se com amigos e amigas, muitos ficam mais violentos na hora da relação sexual, querem fazer coisas que fogem da relação de respeito.
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Ilusão do sexo
Pessoas viciadas em sexo podem ter namorado(a) e, mesmo após se casarem, ainda procuram a pornografia. O casamento não resolve o interesse pela pornografia para os que são viciados em sexo. A principal causa, em muitos casos, não está relacionada diretamente com sexo, mas com a “ilusão” do sexo, com a fantasia e com a autoestima. O problema do vício em pornografia é mais profundo e, por isso, a solução deve envolver estratégias também mais profundas e terapêuticas.
Quanto mais a pessoa entra nesse contexto de vídeos pornográficos, os próximos vídeos a aparecerem serão mais violentos e violentos (cf. via Instagram @recuseaclicar). A pessoa que toma consciência do seu vício deverá buscar um profissional para ajudá-la a libertar-se. É possível também encontrar grupos de apoio.
Pornografia está relacionada com controle, domínio, consciência e temperança. É preciso admitir que perdeu o controle, ter o desejo de libertar-se, buscar ajuda, receber conselho correto, ético e, para os que tem fé, buscar na graça de Deus as forças necessárias para vencer o vício da pornografia. Para sermos fortes precisamos contar com a graça de Deus; como afirma o apóstolo Paulo, consciente de sua fraqueza e miséria, mas confiante na presença e força de Deus: “Tudo posso naquele que me dá força” (Fl 4,13).
Virtude da Fortaleza de vivência da sexualidade
Certas situações da vida precisamos da virtude da Fortaleza para convivermos bem com nossos impulsos a partir dos valores que configuram nossa consciência de cristãos. Conforme o Catecismo da Igreja Católica, no número 1808, Fortaleza é, “a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral”. É preciso resistir ao poder dos impulsos que podem nos destruir e, em determinadas situações, partir para a resistência.
É pela fortaleza que preservamos o bem e conquistamos o equilíbrio diante dos impulsos sexuais. É a fortaleza que equilibra e direciona os impulsos da pessoa, de agressividade, de violência, o estado de ânimo, da sexualidade. Sua missão é de regular estas paixões e de as sujeitarem ao domínio da razão. É a fortaleza que nos dá coragem para resistirmos aos impulsos desordenados da sexualidade.
As pessoas fogem de qualquer esforço, não existe mais a vontade de vencer a tentação. Lutar contra todo tipo de pecado exige esforço, renúncia, boa vontade, combate interior, e isso muitos já acham desgastante e desnecessário. Por isso, a virtude da Fortaleza exige sempre algum esforço e a superação da fraqueza humana.
A Fortaleza sustenta uma vida equilibrada, justa, de domínio dos instintos, ou seja, temperada. Temperante é o homem que é dono de si, inclusive da sua sexualidade; é aquele que as paixões não predominam sobre a razão, a vontade e até o coração; que sabe dominar-se a si próprio. A intemperança é a autodestruição.
O sentido da temperança é colocar no homem a ordem interior, que gera a tranquilidade de espírito. Portanto, temperança quer dizer realizar ordem na própria pessoa.
Referências:
1 CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA. Orientações Educativas sobre o Amor Humano: Linhas gerais para uma educação sexual. São Paulo: Salesiana Dom Bosco, 1984, n. 6.
2 PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA. Sexualidade Humana: Verdade e significado. Orientações educativas em família. 3. ed. São Paulo: Paulinas, 2002, n. 16.
3 CIC, 2395.