Quanto absurdo existe em castigar um inocente! Apesar disso, os açoites impiedosos dos soldados de Pilatos não foram suficientes para aplacar o ódio da parte dos judeus. Sua estratégia de sanar a fúria dos acusadores de Jesus por meio de um grande castigo havia falhado. Pilatos, então, partiu para o plano B. Ele apresentou aos que estavam na praça do pretório a possibilidade de escolher a quem libertar: Jesus, um homem sabidamente inocente, ou Barrabás, um criminoso conhecido por todos os que acompanhavam aquele grotesco e humilhante julgamento. Um plano perfeito, afinal, quem teria a audácia de condenar um homem inocente? Infelizmente, mais uma estratégia de Pilatos acabara de falhar. Eles preferiram libertar o criminoso.
Assim, após uma noite de dor, desprezo e muitos sofrimentos, já debilitado pela impiedosa flagelação, Jesus foi conduzido para ser crucificado. Uma morte dolorosa dessas era reservada apenas aos piores criminosos. A caminhada para o local de Sua crucificação mal havia iniciado e todos perceberam que Jesus já estava muito fraco para carregar sozinho a Sua cruz. Ora, onde estariam os Seus discípulos e seguidores? Muitos dos que, até pouco tempo, declaravam amor a Jesus estavam ausentes. Se ao menos um único discípulo estivesse perto de Jesus, Seus sofrimentos poderiam ser minorados. Bartolomeu, Tomé, Filipe, Tadeu… Onde estavam esses homens? Nem mesmo Simão Pedro permaneceu ao lado de Jesus.
Jesus fez por amor
A realidade era bastante perversa. Não se encontrava um único conhecido benevolente que O ajudasse a carregar o lenho até o local da crucificação. Tantos milagres Jesus operou, tantas pessoas curadas, tantas famílias beneficiadas, nenhum que pudesse ajudá-Lo naquele momento de dor. Seu benfeitor, inusitadamente, foi um estranho que passava pelo local e, além disso, fora constrangido a ajudá-Lo por meio da força. O travessão menor e mais leve, o estranho transeunte carregou. Já a parte mais pesada, Cristo a levou sozinho. O maior peso, de fato, Cristo carregou por amor. O amor não correspondido, aliás, foi a cruz mais pesada que Jesus poderia ter carregado. O amor não correspondido recebeu como resposta um amor incondicional.
Naquela condição desoladora em que o Senhor se encontrava, um pequeno gesto de amor fez toda a diferença. Uma mulher aproximou-se de Jesus com um pano nas mãos e limpou o Seu rosto banhado por sangue e suor. Aquela admirável mulher não teve medo da ira dos inimigos de Jesus, não teve repulsa ao vê-Lo tão desfigurado, não teve respeito humano. Ela fez aquilo que sua consciência pedia. O rosto de Jesus não ficou impresso apenas no tecido daquela mulher, mas também em sua alma.
Aquele gesto de caridade certamente aliviou, mesmo que por um instante, o sofrimento de Jesus. Assim, Ele recomeçou a Sua caminhada. Alguns metros à frente, Jesus avista um grupo de mulheres chorosas. Ele, que humanamente precisava de consolo, fez-se consolador. Jesus não apenas consolou aquelas mulheres que choravam por Ele, mas as chamou ao verdadeiro arrependimento. Eis um gesto de quem tinha total consciência de Sua missão redentora.
Como você está carregando a sua cruz?
Não bastou todo o sofrimento e a injusta condenação que Jesus sofreu, Ele havia ainda sido colocado entre dois autênticos ladrões. Por um lado, a reação dos ladrões ao carregar a cruz pôde ser registrada na memória apenas daqueles que presenciaram tal ocasião, por outro, a reação de Jesus suplantou os séculos de modo que podemos tirar dela grande lição. As cruzes da vida podem ser vistas como aborrecimento ou como redenção. Assim, existem mil maneiras possíveis de como carregá-las. Ela pode ser carregada com revolta, ódio ou com uma profunda indisposição. Porém, ela pode ser arcada também com resignação e sentido. De que forma estamos carregando as nossas cruzes de cada dia?
Na via crucis que Jesus estava experimentando, havia outra mulher. O encontro com ela ultrapassou todas as barreiras físicas e temporais. Assim que o olhar de Jesus se cruzou com o da Virgem Maria, Sua amabilíssima Mãe, houve, por assim dizer, a materialização de uma passagem bíblica que diz: “Olhem para mim! Será que existe uma dor igual à minha?” (Lm 1,12). Naquele instante, a Mãe do inocente réu, por meio de seu olhar sofrido e incomparavelmente terno, ofereceu-Lhe um pouco de alívio e consolo.
Leia mais:
.:Olhar de Jesus para Maria. O que ele nos diz hoje?
.:Jesus Cristo, Rei diante de Pilatos
.:A negação de Pedro: o choro amargo de um amigo arrependido
.:O solene cortejo do rei que chorou em seu jumentinho
O triunfo da vida
A partir daquele momento, Sua Mãe não O deixa escapar de sua vista, ela O acompanha até o final do trajeto. Talvez existisse, no interior daquela mulher, uma chama de esperança que a fazia acreditar que algo extraordinário ainda pudesse acontecer, e, então, ela levaria seu Filho com vida para sua casa. De fato, o mais extraordinário aconteceu, embora o lampejo de esperança daquela Mãe não tenha se realizado. Assim, mais uma profecia acabara de se cumprir ao pé da letra: “Quanto a você [Maria], uma espada atravessará a sua alma” (Lc 2,35).
Poucos minutos depois, Jesus se encontrava no alto de uma colina de Jerusalém chamada Gólgota, cuja tradução é “caveira”. Ali, no alto do monte, todos poderiam assistir ao ato final daquele espetáculo sinistro. Até mesmo os que se encontravam mais distantes puderam avistar um corpo esguio sendo crucificado. Para muitos, era o fim, porém, para os que têm fé, uma simples passagem de alguém que foi fiel à vontade do Pai. Aos olhos do mundo, deu-se o triunfo da morte. Aos olhos da fé, o triunfo da vida sobre a morte.
Deus abençoe você e até a próxima!