Caro leitor, até o momento, nós tivemos a oportunidade de falar sobre os três primeiros sacramentos da iniciação cristã: Batismo, Confirmação e Eucaristia. Agora, vamos entrar noutra categoria de sacramentos, a saber, os sacramentos de cura. Comecemos por esse maravilhoso sacramento que a Igreja nos o administra, sinal da Sua infinita misericórdia: a Penitência ou Reconciliação. Antes, porém, gostaria de pontuar que trataremos neste artigo da confissão individual (não a coletiva).
Por meio desse sacramento, o próprio Deus nos oferece o seu perdão. Da parte de Deus, o perdão; da nossa parte, a mudança de vida e o regresso a Ele. Afinal de contas, vai nos atestar o apóstolo São João, que ninguém pode dizer que não possui pecado e, caso o diga, está se enganando (cf. 1Jo 1,8). Além do mais, o próprio Senhor nos ensinou a suplicar “perdoa-nos os nossos pecados” (Lc 11,4). Dessa forma, a reconciliação com Deus se faz necessária.
Embora o Batismo tenha apagado todos os nossos pecados, o original e os pessoais, e também todas as penas devidas a eles, entretanto, a nova vida recebida no Batismo não suprimiu a fragilidade e a fraqueza da natureza humana, nem mesmo a famigerada inclinação ao pecado. A essa má inclinação, a tradição da Igreja chama de “concupiscência”. Assim, a Igreja jamais se cansa de nos dar a graça do perdão.
Originalmente, a palavra “Penitência” significa doer-se, arrepender-se. Este sacramento, assim como os outros seis, foi instituído por Nosso Senhor: “aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados” (Jo 20,23). Por meio dele, Cristo socorre a fraqueza do homem que o traiu e o negou e, reconcilia-o com o Pai e com a Igreja. No instante dessa reconciliação, recria o ser humano como uma nova criatura devolvendo a ele sua semelhança com o Criador, que fora arranhada pelos pecados.
A matéria e a forma do sacramento da Penitência
De todos os sacramentos que tratamos até o momento, fomos capazes de perceber claramente a matéria necessária para que ele acontecesse validamente. No caso específico do sacramento da Penitência, ocorre algo peculiar tornando um pouco mais difícil determinar o sinal externo, uma vez que neste sacramento não há nenhum sinal visível como a água (no Batismo), o óleo (na Confirmação) e o Pão e o vinho (na Eucaristia).
Diante dessa situação, o Concílio de Trento, na sua décima quarta sessão, afirma que “os atos do penitente são como que matéria deste sacramento”. Esses “atos” compreendem-se: o arrependimento, a confissão e a penitência. No caso dos dois primeiros atos (arrependimento e a confissão), trata-se de matéria essencial para a validade do sacramento. No caso do último (a penitência), a sua ausência não invalida o sacramento, porém, o torna não totalmente íntegro. Com relação à forma, essa é mais simples de perceber. Seguindo o mesmo padrão dos sacramentos já mencionados até aqui, a forma consiste naquelas palavras de absolvição pronunciadas pelo ministro após o penitente dizer os seus pecados: “Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”.
Algo muito importante a ser lembrado é que o pecado, mesmo que pessoal, fere também a Igreja, uma vez que o pecador tem responsabilidade perante ela. São João Paulo II, na sua Exortação Apostólica Reconciliação e Penitência, fala do “pecado social”: “Todo o pecado se repercute, com maior ou menor veemência, com maior ou menor dano, em toda a estrutura eclesial e em toda a família humana. Segundo esta primeira acepção, a cada pecado pode atribuir-se indiscutivelmente o caráter de pecado social”.
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Existe pecado imperdoável?
Diante desse quadro de tamanha relevância para nós cristãos, é preciso recordar que o sacramento da Penitência não cura a alma somente daquele que se confessou, mas exerce também um efeito vivificante sobre toda a vida da Igreja que sofrera com o pecado de um de seus membros. Cabe relembrar que, preocupada com a vida espiritual de seus filhos e desejosa que todos alcancem o céu, a Igreja estabelece a lei que obriga cada católico a confessar-se ao menos uma vez a cada ano.
Por fim, jamais podemos nos esquecer que não existe pecado imperdoável. A esse respeito, São João Paulo II disse em duas oportunidades: “Devido ao amor e à misericórdia de Cristo, não há pecado tão grande que não possa ser perdoado; não há pecador que seja repelido. Quem quer que se arrepende, será recebido por Jesus Cristo com perdão e amor imenso”; “Não existe nenhum pecado que não possa ser perdoado, se nos aproximamos do trono da misericórdia com coração humilde e contrito. Nenhum mal é mais forte do que a infinita misericórdia de Deus”.
Deus abençoe você e até a próxima!