Jesus após receber o batismo de João, “o Espírito o impeliu para o deserto” (cf. Mc 1,12). A pergunta é: por qual motivo? Talvez porque um lugar como o deserto fosse o ambiente adequado para aquele momento. E afinal, do que a experiência do Senhor serve para nós?
Morando na Terra Santa, tenho a oportunidade de nesse tempo quaresmal ir ao deserto da Judéia. Jesus passou nesse local por quarenta dias, onde era conduzido pelo Espírito Santo e tentado pelo Diabo ( cf. Lc 4,1-2). [veja vídeos]
O Espírito O conduziu. Aqui está algo essencial: Jesus caminhou pelo deserto ao lado do Espírito Santo. Ele sendo homem, experimentou a aridez, o cansaço, o perigo, mas também o silêncio absoluto, a graça de estar em um local extremamente belo e, ao mesmo tempo, terrível para se viver.
O deserto é um ambiente onde só os humildes suportam. Existe em nossos dias os chamados Beduínos, que há séculos vivem nessas terras. Mesmo quando aparece a oportunidade de deixá-lo, eles não o fazem. A vida no deserto forma homens simples, fortes, humildes, atentos a si mesmos e à realidade que os circunda. Em um local assim, torna-se fácil escutar e discernir nossos “barulhos” interiores. Assim como se torna fácil se encontrar consigo mesmo e, acima de tudo, encontrar-se com Deus.
Na Terra Santa a chuva rega o solo durante apenas três meses em todo o ano. Podemos nesses dias contemplar o deserto coberto por uma rala camada verde em vários pontos. A paisagem é linda. Em meio às pedras, encontra-se verdadeiros jardins com pequenas flores de diversas cores e tipos. O que me surpreende é justamente no tempo da Quaresma o deserto estar assim!
Bem, o Espírito conduziu Jesus para lá a fim de que o Senhor fizesse a experiência de se aprofundar em Sua missão, colher a Vontade do Pai em um tempo de profunda intimidade e adquirir forças para iniciar Sua vida pública.
Para nós, a experiência de Jesus nos leva a querer estar a sós com Deus, a escutá-Lo em sua Palavra, a buscá-Lo na santa Missa para sermos alimentados por Ele. É tempo de conhecer melhor a Deus e a nós mesmos para servir com maior eficácia os que estão ao nosso lado.
Cada um pode criar o seu própro deserto. Basta separar aquele tempinho em que procuramos no silêncio nos deixar conduzir pelo Espírito, colocando-nos como estamos diante da presença divina.
Podemos dizer que a Quaresma é um tempo de visita de Deus em nossas vidas. No deserto só podemos contar com Ele. As experiências de sofrimento, de angústia, de tentação fazem parte da vida cristã. Deus nos formar por meio delas. Ele, que conduziu Jesus, tem poder para nos libertar de toda tentação e fazer brotar vida onde para nós seria impossível.
