“Esperarei no Deus da minha Salvação” (Mq 7,7).
Começamos na Sagrada Liturgia o Tempo Comum. Depois do Advento, do Natal e do Tempo do Natal, iniciamos com fé e esperança o Tempo Comum. O Tempo do Natal foi até a Festa do Batismo de Jesus, na última segunda feira, dia 8 de janeiro. Vale a pena relembrar que o Batismo tem duas finalidades fundamentais: o perdão do pecado original e a agregação ao povo de Deus, quando podemos, em família, em comunidade, chamar Deus de Pai.
Quando começamos a refletir sobre o Batismo de Jesus, nos perguntamos: “Mas, Jesus precisava ser batizado?” Ainda mais que o Batismo de João Batista, era o Batismo de conversão?” Assim como podemos nos questionar: “Diante do sentido atual do Sacramento do Batismo, Jesus precisava passar por este ritual?” Jesus foi igual a nós em tudo, menos no pecado. Então não precisava nem do perdão nem da conversão. Jesus é o Filho Unigênito de Deus Pai. Por esta razão, não precisava ser mergulhado na água para se tornar Filho. Ele já veio a terra sendo Filho de Deus. Então, Ele não precisava ser batizado. E por que Ele se deixou batizar por João Batista no Jordão? Seguramente, ao nos aprofundarmos nesta reflexão muitas respostas surgirão. Mas, basicamente, podemos dizer que Jesus se deixou batizar para nos dar dois grandes ensinamentos. O primeiro é o da humildade e o segundo é o da necessidade.
Jesus, sendo Santo e Filho Unigênito de Deus Pai, passou pelo Batismo para nos deixar claro que o caminho do seguimento, que leva ao Pai , é o caminho da humildade e não o da arrogância ou o da prepotência. Com esta atitude de Cristo, nós aprendemos que ninguém é tão santo, que não tenha de se santificar; ninguém é tão sábio, que não tenha o que aprender; ninguém é tão rico, que não tenha algo para receber. A humildade de Jesus nos deixa admirados. Esta admiração precisa nos conduzir ao desejo de imitá-Lo. É por isso que rezamos: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso”. Por humildade, Jesus se deixou batizar. Seguindo os passos d’Ele, vivamos na humildade, pois é nela que percebemos as coisas do Alto. A Virgem Maria reafirma este ensinamento no Cântico do Magnificat: “O Senhor derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes” (Lc 1,52).
Jesus nos ensina com a própria vida a necessidade de mergulharmos na “água” do amor de Deus, para pertencermos à Família do Senhor. Sendo assim, é certo dizer que o Batismo é necessário para o cristão que quer seguir Jesus. É necessário porque por meio deste sacramento, recebemos a marca de Deus. E para sempre estaremos “assinalados” por Ele. É necessário, porque poderemos, em família, recorrer à misericórdia de Deus, nosso Pai. O Batismo é necessário, porque com Cristo nós passamos a pertencer para sempre a Deus. Pela graça do Batismo, nós recebemos a fé. E pela fé nós aprendemos e vivemos cada dia na certeza de que Jesus Cristo é a nossa esperança. Fora d’Ele não há felicidade verdadeira nem salvação eterna.
Ao longo do Tempo Comum, nós vamos rezar e cantar, clamando por Jesus, que é a nossa esperança. A palavra “comum” dá idéia de algo simples ou trivial. Mas, na Liturgia, o significado deste tempo é muito profundo, mesmo porque é o maior do Ano Litúrgico. O Tempo Comum é formado por trinta e quatro semanas. Ele vai se encerrar na Festa de Cristo Rei, quando vamos celebrar o Dia do Leigo e da Leiga, que são todos os fiéis que receberam o Batismo, vivendo-o na Igreja e no mundo.
A cor litúrgica do Tempo Comum é o verde. É esta cor que veremos em cada santa Missa de que participarmos. Tanto os paramentos do sacerdote, como as alfaias e toalhas da Mesa da Palavra e da Eucaristia, serão predominantemente verdes. E nós bem sabemos o significado desta cor. O verde é a cor da esperança. Para nós, que fomos batizados com a água e em nome da Santíssima Trindade, temos o Senhor como Caminho, Verdade e Vida, e sobretudo, professamos por palavras, gestos e atitudes que Jesus é a nossa esperança.
Ao longo do Tempo Comum, estaremos meditando o Evangelho de São Lucas, que é o Evangelho da Misericórdia de Deus. É neste Evangelho que encontramos, no capítulo 15, as Parábolas da Misericórdia. A moeda que foi encontrada; a ovelha que foi resgatada e o filho que foi aceito de volta com beijo, perdão e festa pelo Pai que sempre o esperou. É por isso que Jesus é a nossa esperança. Ele é o Apóstolo do Pai Eterno que veio ao mundo para nos encontrar, resgatar e acolher com o “abraço do Pai”!
Todos os homens e mulheres estão sujeitos à fraqueza. E mais cedo ou mais tarde, acabam se decepcionando com alguém, assim como já possam ter decepcionado outras pessoas. Nós todos somos falíveis. As ideologias falham. As políticas são insuficientes. As teorias deixam a desejar. Os cientistas e os intelectuais se equivocam. Nada e ninguém pode nos oferecer total segurança. Só Cristo é a nossa segurança. Só n’Ele é que podemos esperar a realização de nossos sonhos e a cura de nossas enfermidades. Só em Cristo é que podemos buscar e encontrar o nosso “porto seguro”. Ele pode realizar o impossível, cicatrizando as nossas feridas do corpo e da alma.
Por isso, tenhamos a absoluta certeza e convicção: Jesus é a nossa esperança!