Eu não me acostumei

Levei algum tempo para decidir se conseguiria escrever alguma coisa a respeito da passagem do padre Léo neste mundo. Levei um tempo ainda maior para tentar desvendar se eu poderia ser capaz, ou até mesmo de ter a autoridade para traduzir em palavras, os sentimentos de uma multidão. Sentimentos de milhares de pessoas que gostariam de encontrar, nas coisas que ficam, uma espécie de ungüento para a dor da saudade que agora nos invade.

Tive receio de ser egoísta ou até mesmo de não ser um artista à altura para pintar um quadro usando as tintas – que eram os seus ensinamentos –, porque nossos quadros da vida estão todos aí para serem coloridos, diariamente.

Apenas um motivo me impediu de escrever até agora: “eu não me acostumei”. Como diz a canção “Alô meu Deus”, a qual ele cantou em sua última pregação. Eu realmente não me acostumei. Não me acostumei a manter o silêncio, a me calar diante das coisas que aprendi com ele, dos gestos de Jesus, personificados na face de um homem que lutou contra a dor e tantas outras coisas.

Não, minha gente, eu não me acostumei a calar diante de tão magnífica entrega, de tão maravilhosa doação.

Eu não me acostumei a aceitar que, saudável como sou, ainda encontro desculpas para não ser o que deveria, o que Jesus gostaria que eu fosse. Ainda não consigo me acostumar, sabendo que carrego comigo a mazela do egoísmo, porque hoje, o que mais gostaria, era poder dar um abraço no padre Léo, como um abraço que se dá em um pai.

Eu não me acostumei a aceitar minha tamanha fraqueza diante de um homem que, mesmo em face da morte, mesmo sob as penúrias de uma doença, fez questão de nos mostrar que podemos até andar pelos vastos e sombrios campos do pecado, mas não podemos e nem temos o direito de rejeitar a fé que insiste em iluminar nossos caminhos.

Padre Léo abraçou com amor o seu calvário e extraiu dele toda a inspiração para nos mostrar que somos mais do que supomos, que conseguimos mais do que imaginamos, que não podemos deixar as fraquezas serem mais fortes que as nossas riquezas. Não, realmente não devemos nos acostumar. Nunca! Como ele dizia, “pode-se perder tudo nessa vida, mas a fé ninguém nos tira”.

Porém, faltava ainda alguma coisa para que eu pudesse iniciar a pintura que escolhi fazer em meu quadro. Até perceber que eu, hoje adulto, deveria reencontrar lá atrás, aquele “eu” que um dia foi menino, que era mais feliz, que era mais inocente, que era mais bondoso.

Aí me lembrei que certa vez um garoto chamado “Leão” saiu de um lugarejo no interior de Minas Gerais chamado Biguá e tomou uma “nave” para encontrar Jesus. O mesmo Jesus que hoje o recebe com as mesmas lágrimas nos olhos, que agora estão nos meus.

Luciano Vieira
lucianova1@yahoo.com.br
Paróquia São Leopoldo Mandic
Campo Grande/MS