O outro é sempre mais importante. Este princípio condensa as riquezas das inúmeras indicações que a fé cristã aponta como condição de sua vivência autêntica e fecunda. O gesto da Mãe Maria, a Mãe do Senhor, deixando a sua casa e partindo, apressadamente, para a região montanhosa, a uma cidade da Judeia, revela o seu coração de autêntica discípula do Filho Amado. Esta autenticidade se comprova no gesto de eleger o outro como mais importante.
Uma importância que emoldura com relativizações as próprias condições e direitos, fazendo valer tão simplesmente o que conta e o que garante o bem do outro. Não foi sem razão que Isabel encheu-se de admiração e encantamento com a chegada de Maria, sua parenta, na sua casa. Outra não poderia ser a pergunta que nasceu do fundo do seu coração: Como posso merecer que a mãe do meu Senhor me venha visitar? Outra não pode ser a resposta senão aquela da importância que cada um possui diante de Deus. Uma importância que faz de cada outro diante de cada um o servidor. Maria ficou durante três meses com Isabel. Uma permanência que se fez em serviço. Um serviço que foi anunciado logo na sua chegada, bastando constatar esta qualidade no pular da criança, no ventre da mãe Isabel, e o seu coração que se encheu do Espírito Santo. Um serviço que se torna o dom maior e fonte de todo sustento: o Espírito Santo.
Ficou cheia do Espírito Santo
O serviço da Mãe Maria é completo. É o serviço da verdadeira discípula. Não é um favor qualquer e circunstancial. É o serviço da vida. O serviço da vida que responde às necessidades muitas das circunstâncias do dia a dia e aponta na direção da vida que não passa. Há de se presumir que Isabel, grávida, necessitasse de ajuda e cuidados especiais. São muitas preocupações e afazeres, providências e encaminhamentos. Tudo conta como importante para a chegada de um outro.
Cada outro é importante como se fosse único. Esta solidariedade faz parte da vida de tantas pessoas. A vida é vida, de verdade, na medida em que a esta solidariedade preside os gestos, escolhas e as prioridades do tempo que se tem como presente de Deus para se viver. Para além destes serviços que criam condições confortáveis e concretizam os direitos insubstituíveis da dignidade humana nos contextos da vida, a saudação de Maria, ouvida por Isabel, encheu o seu coração do Espírito Santo. Eis o grande e mais importante serviço do coração do discípulo à vida do outro. É no Espírito Santo de Deus que se pode compreender que a vida ultrapassa as raias do tempo para localizar-se no horizonte infinito da presença amorosa de Deus.
Uma vida que jamais acabará pela força do amor de Deus. A alegria de Isabel nasce da compreensão da vida que nasce, ela esperava o seu filho, e desabrocha plenamente no coração de Deus pela força do Espírito Santo. A alegria de Isabel, diante da presença da Virgem, ouvindo sua saudação, comprova a íntima ligação do coração de Maria com o coração de Deus, conhecedora, pela clarividência de sua fé, da vitória final desta vida sobre toda morte. Uma sabedoria que se sustenta pela ação invisível e amorosa do Espírito Santo, o mestre da santidade, cuja força amorosa é a ação redentora do Pai, em Cristo, arrancando seus filhos todos, como o fez com o seu Filho Amado, da morte, e garantindo a vida que não passa. A presença de Maria na casa de Isabel é muito mais do que a chegada de uma parenta amiga. É o verdadeiro anúncio da vida que gera a alegria duradoura. A alegria que nasce da vitória da vida sobre a morte. Uma alegria que se ancora na certeza da vitória da ressurreição do Senhor.
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Bem aventurada aquela que acreditou
Quando Isabel exclama, Bem-aventurada aquela que acreditou, comprova sua compreensão desta maravilhosa da ação de Deus, pelo Espírito Santo, modificando tudo e criando as condições, para além de toda previsão humana, para que a vida seja plena. Isabel testemunhou que compreendera que só é possível alcançar este estágio de encantamento no Senhor e de encantamento para com os outros, tudo concretizando em gestos solidários de serviço e de oferta generosa, na medida em que se vive a fé como compromisso e como intimidade profunda com o coração de Deus. Uma intimidade que se faz presidida pela ação invisível e amorosa do Espírito Santo.
Não há outro caminho, a não ser o caminho da fé, como entrega, escuta e intimidade, para que se possa compreender a vida como serviço, na consciência clara e convicta de que a vida verdadeira já está garantida, possibilitando nesta que passa a alegria de espalhar o bem e distribuir tudo o de que os outros têm necessidade. A fé é a fonte do serviço e as raízes de sua nobreza. Quando Maria, em seguida à exclamação de Isabel, canta, ela compartilha com o coração de sua parenta as verdades e as raízes de sua fé, gerando nos corações esta certeza. A certeza da presença amorosa de Deus criando coragem de viver elegendo esta razão como única para se viver e garantir por ela a vitória que todos buscam, sem deixá-la ofuscar por interesses outros ou por cálculos enganosos. E nas circunstâncias concretas da vida, como de Isabel, a Mãe do Senhor anuncia a vida que não passa, vitória definitiva sobre esta, por ela experimentada na sua Assunção ao Céu.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo