O dia de Pentecostes, conforme descrito no livro dos Atos dos Apóstolos, foi um fato marcante para toda a Igreja, pois foi quando teve início a sua ação evangelizadora. Um ponto de partida para que todas as nações e línguas tivessem acesso ao Evangelho e à salvação mediante o poder do Espírito Santo de Deus.
Na tradição judaica, a festa de Pentecostes era a celebração da colheita do trigo e cevada, oferecidos a Deus como primícia após os 50 dias da Páscoa. Essa festa também era chamada “Festa das Semanas”. Uma comemoração também pela promulgação dos Dez Mandamentos entregues a Moisés no Monte Sinai. Com o Cristianismo, essa festa recebe um novo significado: 50 dias depois da Páscoa e após a Ascensão de Cristo, o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos reunidos no Cenáculo, no dia de Pentecostes.
Por que o Espírito Santo desce sobre os apóstolos precisamente neste dia, durante uma festa hebraica? Porque “o Espírito Santo está em ação com o Pai e o Filho do início até a consumação do Projeto de nossa salvação” (CIC 686). Ele nos concede, portanto, as “primícias” de nossa herança de salvação, e podemos, a partir da sua efusão, produzir seus frutos, conforme descreve São Paulo na carta aos Gálatas: “o fruto do Espírito é caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gl 5,22-23).
Como a festa de Pentecostes era um louvor pela colheita, esta celebração se transformou na grande festa cristã em que nós também comemoramos um agradecimento a Deus por todos seus dons, de modo especial, o dom da vida nova que o Espírito imprime em nossos corações. E, assim, este dom também pode alcançar e levar benefício a todos os homens da Terra.
Em Jerusalém, segundo a tradição, o Cenáculo permanece ainda na mesma localidade, no Monte Sião. Na “sala superior”, teria acontecido também a Última Ceia do Senhor com Seus apóstolos, mesma ocasião quando Jesus lavou os pés deles, como narra o evangelista João.
A vivência diária com o Espírito Santo nos leva a uma experiência cenacular
Do latim “cenaculum”, “cenáculo” significa “sala da ceia”, e já seria um lugar constantemente visitado por Cristo e os discípulos, e onde realizavam refeições. Para o judeu, sentar-se à mesa seria um ato apenas de pessoas íntimas e sempre representa um momento de celebração. Cada ceia simboliza um agradecimento, uma atitude de ação de graças.
Deste modo, o cenáculo se revela também a nós como um lugar de intimidade. Foi ali que Cristo deu Seu Corpo e Sangue, instituindo a Eucaristia, e ali também o Espírito Santo foi derramado. Em Atos, lê-se ainda que os apóstolos e a Virgem Maria continuaram indo ao Cenáculo, mesmo antes de Pentecostes. Ou seja, voltar ao cenáculo também significava para eles atualizar a experiência vivida com Cristo naquele local. Momentos que estavam impressos no coração.
De repente, muitos de nós não poderemos estar fisicamente no Cenáculo. Contudo, a vivência com a pessoa do Espírito Santo, em cada dia, a cada momento, nos leva a ter igualmente uma experiência “cenacular”. Uma vida renovada no Espírito é voltar sempre a essa experiência “cenacular”. É retornar à intimidade com a Eucaristia e o Santo Espírito. Ambos os fatos bíblicos não estão dissociados. Eles significam a comunhão plena de Deus com a humanidade.
Um pouco da história do Cenáculo
No período bizantino, foram construídos não só no Monte Sião, mas em diversos lugares da Terra Santa, santuários que delimitavam os lugares santos. Ali foi edificada uma grande Igreja chamada Santa Sião. O lugar passou por destruições e reconstruções. No período medieval, os franciscanos chegaram e estabeleceram o primeiro convento da Terra Santa. Foram expulsos no século XVI pelos turcos e retornaram em 1920.
Atualmente, o Cenáculo pertence ao estado de Israel, continua sendo uma grande sala em um nível superior e a Igreja Católica pode realizar celebrações apenas em dois momentos do ano: na Quinta-feira Santa, quando realiza-se o rito de Lava-pés, e no dia de Pentecostes, com a oração das vésperas. Acontece ainda uma celebração ecumênica na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos com todas as realidades cristãs da Terra Santa, entre os dias 18 e 25 de janeiro, conforme a data tradicional no hemisfério norte.
O Cenáculo está na rota das peregrinações em Jerusalém. Pessoas de várias partes do mundo se dirigem ao Monte Sião e vão sempre em busca da mesma experiência vivida pelos apóstolos: o derramamento do Espírito Santo, Senhor que dá a vida.