Os Evangelhos falam-nos da iniciativa de Jesus Cristo que, caminhando sobre a água, leva socorro e alívio aos Apóstolos, que se encontram na barca agitada pelas ondas do lago de Tiberíades (cf. Mt 14, 22-32)
Trata-se de um convite a vivificar a nossa plena confiança em Cristo. Ele repete também a nós a exortação que dirigiu aos navegantes: “Coragem, sou Eu, não tenhais medo” (Mt 14,27). Não nos deixemos amedrontar pelas dificuldades, tenhamos confiança Nele! A vocação sacerdotal, implantada com eficácia por Cristo em vós e por vós acolhida com humildade generosa, como terra fecunda, sem dúvida dará frutos abundantes.
Como Pedro, vamos também nós ao encontro de Jesus Salvador, fixando o nosso olhar no Seu rosto misericordioso: somente o olhar do Crucificado e Ressuscitado, contemplado na nossa oração e no recurso à Confissão sacramental, pode superar a força de gravidade da nossa pequenez, dos nossos limites e dos nossos pecados. São João Crisóstomo, comentando este trecho do Evangelho, recorda-o afirmando: “Quando falta a nossa cooperação, também a ajuda da parte de Deus deixa de subsistir” (Comentário ao Evangelho de São Mateus, n. 50).
Especialmente na Eucaristia, descobrimos de novo a verdade e a eficácia das palavras e da ação de Jesus Cristo: “Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro e disse-lhe: “Homem de pouca fé, por que duvidaste?”” (Mt 14,31). O braço de Deus sustém-nos e as águas obscuras, agitadas pela nossa soberba e pelo demônio, perderão o seu poder.
É da Eucaristia que nós havemos de haurir a força da caridade de Jesus Cristo. A este propósito, na Carta Encíclica sobre a Eucaristia, o Santo Padre escreveu: “Cada esforço de santidade, cada iniciativa para realizar a missão da Igreja, cada aplicação dos planos pastorais deve extrair a força de que necessita do mistério eucarístico e orientar-se para ele como o seu ponto culminante” (João Paulo II, Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 17 de Abril de 2003, n. 60).
Deus pede-vos, a vós sacerdotes diocesanos, missionários e religiosos, que vos prodigalizeis com entusiasmo neste ministério sagrado, em vista de redescobrir, especialmente na Eucaristia, a beleza da vossa vocação sacerdotal. Cada um se torne educador de vocações, sem ter medo de propor opções radicais na santidade.
Como afirmava o Santo Cura d Ars, conscientes de que “o sacerdote é o amor do Coração de Jesus” (Esprit du Curé d Ars, Maria Vianney dans ses catéchismes, ses homélies et sa conversation, Edition de Téqui, Paris, 1935, pág. 117), como deixar de recordar aqui que nada é mais exaltante do que um testemunho apaixonado da nossa própria vocação? “O Sacerdote, dizia ainda São João Maria Vianney, é algo tão imenso que, se ele mesmo o compreendesse, morreria” (Esprit du Curé d Ars…, op. cit., pág. 113).
Como sentinelas da Casa de Deus, que é a Igreja, velemos a fim de que em toda a vida eclesial das nossas paróquias se reviva o encontro com Cristo crucificado e ressuscitado. Evitemos os recifes do ativismo onde, por vezes, naufragaram os melhores projetos apostólicos e pastorais e onde se tornaram infecundas muitas vidas comprometidas num serviço não adequadamente irrigado pela Palavra de Deus e pela sua presença na Eucaristia. Com as palavras do Santo Padre, repitamos: “Nos sinais humildes do pão e do vinho transubstanciados no seu corpo e sangue, Cristo caminha conosco, como nossa força e nosso viático, e torna-nos testemunhas de esperança para todos” (João Paulo II, Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, 62).
Façamos com que os fiéis cristãos consigam reviver a experiência do Cenáculo que foi, num certo sentido, o primeiro curso formativo dos Apóstolos. No Cenáculo o Mestre, depois de ter instruído os Doze, lavou-lhes os pés e, antecipando o Sacrifício cruento da Cruz, entregou-se a si mesmo inteiramente e para sempre, nos sinais do pão e do vinho. No Cenáculo, na expectativa do Pentecostes, os Apóstolos encontravam-se “assíduos e concordes na oração, juntamente com… Maria, Mãe de Jesus” (At 1,14).
No corrente ano celebra-se o Sesquicentenário da definição dogmática da Imaculada Conceição de Maria, proclamada pelo Beato Papa Pio IX no dia 8 de Dezembro de 1854. Por conseguinte invoquemos com particular confiança a Bem-Aventurada Virgem Imaculada. Peçamos-lhe, a Ela, Mulher “eucarística”, que sustente sempre em nós o desejo de nos identificarmos plenamente com o Seu Filho, de sermos “ipse Christus, alter Christus”, a fim de sermos em todos os lugares arautos do Evangelho, peritos em humanidade, conhecedores do coração do homem contemporâneo, partícipes das suas alegrias e esperanças, das suas angústias e tristezas, e para sermos, ao mesmo tempo, contemplativos, apaixonados de Deus.
Dirijamo-nos a Maria, Rainha dos Apóstolos e Mãe dos sacerdotes. E peçamos-Lhe que nos acompanhe ao longo do nosso caminho ministerial, como acompanhou os Apóstolos e os primeiros discípulos no Cenáculo.
A Ela, Estrela da evangelização, dirijamo-nos com confiança a fim de que, pela sua intercessão, o Senhor conceda a cada um o dom da fidelidade à vocação presbiteral. Que a Imaculada Conceição resplandeça no centro das nossas comunidades eclesiais e as transforme num sinal elevado entre os homens, “como uma cidade construída sobre um monte”, e também como uma lâmpada colocada no candeeiro, que brilhe para a todos” (cf. Mt 5, 14-15)!
Carta do Cardeal Darío Castrillon Hoyos – Dia Mundial para a Santificação dos Sacerdotes (18/06/2004)
Fonte: www.vatican.va