Os fiéis pedem a Deus, em oração, na Liturgia das Horas: “Dai-nos força para resistir à tentação, paciência na tribulação e sentimentos de gratidão na prosperidade”. A prece exprime o estado de espírito de quem se vê diante de Deus com suas limitações, entre as quais está a tentação, que se manifesta de muitas maneiras.
Com a publicação do Catecismo da Igreja Católica (CIC), em 1992, os fiéis entendem melhor o pedido que fazem no Pai-Nosso em relação à tentação: “Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza. (…) O Espírito Santo nos faz discernir entre a provação, necessária ao crescimento do homem interior em vista de uma ‘virtude comprovada’; e a tentação que leva ao pecado e à morte. Devemos também discernir entre ‘ser tentado e consentir’ na tentação. Por fim, o discernimento desmascara a mentira da tentação: aparentemente, seu objeto é ‘bom, sedutor para a vista, agradável’ (Gn 3,6), ao passo que, na realidade, seu fruto é a morte. (…)
Ao dizer ‘Não nos deixeis cair em tentação’, pedimos a Deus que não nos permita trilhar o caminho que conduz ao pecado. Este pedido implora o Espírito de discernimento e de fortaleza; solicita a graça da vigilância e a perseverança final. (…) A fortaleza é a virtude moral que dá segurança nas dificuldades, firmeza e constância na procura do bem. Ela firma a resolução de resistir às tentações e superar os obstáculos na vida moral.”
Por sua vez, o Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, publicado em 28 de junho de 2005, resume em que consiste o pedido “Não nos deixeis cair em tentação”: “Nós pedimos a Deus Pai que não nos deixe sós ao sabor da tentação. Pedimos ao Espírito que saibamos discernir, de uma parte, entre a prova que faz crescer no bem e a tentação que leva ao pecado e à morte; e de outra, entre ser tentado e consentir na tentação. Esse pedido nos une a Jesus que venceu a tentação com a sua oração. Solicita a graça da vigilância e da perseverança final.”
O YOUCAT (Catecismo Jovem da Igreja Católica), publicado em 2011, antes da Jornada Mundial da Juventude, explica aos jovens a razão do “Não nos deixeis cair na tentação”: “Por que corremos a cada dia e a cada momento o risco de negarmos a Deus e de pecarmos, pedimos a Ele que não nos deixe indefesos na violência da tentação. (…) O próprio Jesus foi tentado, sabe que somos pessoas fracas, que não conseguem resistir ao mal pelas próprias forças. Ele nos apresenta, então, o pedido do Pai Nosso que nos ensina a confiar no auxílio de Deus na hora da provação.”
Bento XVI se reportou às tentações no seu discurso aos seminaristas em Madrid: “Sim, há muitos que, julgando-se deuses, pensam que não têm necessidade de outras raízes nem de outros alicerces para além de si mesmo. Desejariam decidir, por si só, o que é verdade ou não, o que é bom ou mau, justo ou injusto; decidir quem é digno de viver ou pode ser sacrificado; em cada momento dar um passo à sorte, sem rumo fixo, deixando-se levar pelo impulso de cada instante. Estas tentações estão sempre à espreita. É importante não sucumbir a elas, porque, na realidade, conduzem a algo tão fútil como uma existência sem horizontes, uma liberdade sem Deus.”
No bojo de cada tentação há sempre uma proposta sedutora e enganadora, porque é isso, precisamente, que a caracteriza. A literatura eclesial já se refere às “tentações modernas” que têm a linguagem do momento, com apelos à negação de valores fundamentais como vida, dignidade, fidelidade, honestidade e estímulos à prática de antivalores como relativismo, indiferentismo, materialismo e hedonismo. O ser humano sempre esteve submetido às tentações, como ensina o Catecismo da Igreja Católica: “As tentações que vos acometeram tiveram medida humana. Deus é fiel; não permitirá que sejais tentados acima de vossas forças. Mas, com a tentação, Ele vos dará os meios de sair dela e a força para a suportar” (1 Cor 10,13). Essa certeza também existe em relação às “tentações modernas”.