Era uma tarde de verão, o cenário que me cercava era envolvente, tanto pelo som, como pelas pessoas que estavam comigo, como pelas notícias que não paravam de chegar através de cinco aparelhos telefônicos.
Falo de uma experiência entre milhares, que já vivi, como locutora de rádio. As notícias que não paravam de chegar eram, na maioria, pedidos musicais, oferecimentos, respostas à “pergunta do dia”, etc. Nesta tarde, enquanto lia os “recadinhos”, um me chamou mais a atenção. Era uma senhora que estava pedindo uma música e oferecendo para ela mesma, pois era seu aniversário. Ela estava em casa, sua única companhia naquele dia era a Rádio. Dizia-se feliz por estar nos ouvindo e até tecia um delicado elogio, dizendo que o programa estava muito bom.
Quando li o recado, algo estremeceu em minha alma, fiquei comovida com a situação daquela ouvinte, sozinha em pleno aniversário! Meu desejo era ir correndo até a casa dela e fazer uma festa surpresa com muita gente, homenagens e vários presentes. Lembrei-me dos meus aniversários que, mesmo de maneira simples, sempre são comemorados com muito carinho e a presença marcante de pessoas queridas. Em fração de segundos pensei em várias coisas, mas podia fazer pouco, ao menos no momento. Atendi com atenção ao seu pedido musical, desejei felicidades e segui em frente, afinal os telefones continuavam disparados e, no microfone estava eu, frente ao desafio que assumo a cada dia: evangelizar e alegrar os corações, revelar a presença de Jesus que está no meio de nós!
O certo é que eu nunca mais esqueci aquela senhora, aquela situação. Aliás, mesmo que eu quisesse não conseguiria esquecer, pois a cena quase sempre se repete de uma forma ou outra.
Uma das funções marcantes do Rádio, é fazer companhia; quem o escuta, nunca está só, o locutor ocupa um espaço invisível mas real e envolve de um jeito que, sem perceber, o ouvinte acaba rindo ou chorando influenciado pelo que ele fala.
Não raras vezes atendo ouvintes que buscam um meio de fugir da solidão. Esses homens e mulheres têm sede de existir, de serem amados e acolhidos com dignidade. São preciosos como eu e você, portanto merecem amar e serem amados, assim vencendo a solidão!
É certo que os meios de Comunicação quando bem utilizados tornam-se remédio eficaz contra o isolamento. E não é difícil concordar que a solidão é um dos males que atuam em nosso século. Acredito que a mídia mal utilizada, contribui para isso, uma vez que permite ao ser humano isolar-se do contato direto com as pessoas.
Somos uma geração treinada para resolver tudo clicando, ou acionando botões. Assim vamos de um lugar a outro em questão de segundos. Sabemos tudo que está acontecendo a milhares de quilômetros, mas não somos capazes de compreender o que se passa no coração que bate agitado do nosso lado. As experiências que tenho vivido a cada dia, têm me ajudado a entender que nada substitui o amor, a fraternidade, a partilha… e que eu, você e cada um de nós podemos fazer mais para curar o mundo desta tal solidão.
Arrisco-me dizer que a receita é ser presença! Da maneira que se pode, mas, ser presença. Cada um fazendo a sua parte sem medo, sem respeito humano; “…há mais alegria em dar do que em receber”!
Quem deseja vencer a solidão não pode esperar que outros venham ao seu encontro, ao contrario; deve ir ao encontro de tantos que precisam de ajuda. Perdemos muito quando achamos que precisamos ser amados e esperamos que nos amem, o que nos cura e nos faz melhores é, na verdade, o ato de amar. Uma vez que fomos feitos com amor e para o amor; amar é uma necessidade natural do homem! Disposição gratuidade e coragem são as vias para um relacionamento puro e frutuoso, acredito que a felicidade passa por aí. Não deixemos para amar depois, o amor é agora!