Uma vez, me lembro bem, escrevi sobre o amor… lembro me das últimas palavras: “Não se perde nada em amar, então ame, ame sem medo, pois amando, você estará salvando e sendo salvo!”
O amor é redenção, porque Deus é amor e a manifestação mais profunda do Seu amor se deu na entrega de Jesus que nos redime.
Olhando para Jesus, acredito: “A maior característica de quem ama é o abandono” e quem se abandona faz a experiência mais profunda do amor.
Não é verdade que quando nos vemos, tendo que encarar determinadas situações, ficamos amedrontados? Principalmente se forem coisas relacionadas a mudanças? De repente um emprego novo, uma casa nova, escola nova… enfim, o novo assusta. De repente, você tem, hoje, de se adaptar a uma outra realidade.
E isso lhe causa dor porque implica perdas. Aprendi e tenho experimentado com a minha vida de consagrada que, nessas horas o melhor é o abandono, encontrar a Liberdade em Jesus – “fazer dos seus braços estendidos na cruz asas pra voar, voar no amor a Deus e aos irmãos” (São Francisco de Assis).
Lembro-me bem de quando saí do noviciado, saí do “ninho”, pois tive que deixar irmãos tão queridos, que foram gerados e nasceram comigo para o carisma Canção Nova. E nos dividimos em casas pequenas. Fui morar numa casa com outras pessoas da comunidade com mais tempo de vida consagrada; foi um desafio, uma aventura… E lá eu fui muito feliz, fui amada e amei muito, morei com elas durante 1 ano: Simone, Fátima Lima, Érica Trindade, Enilda, Carmelita, Celeste e Adelita. Outras também passaram por essa casa durante esse tempo, nos tornamos grandes amigas e, num determinado tempo, constatamos que nos amávamos de verdade, marcamos a vida uma das outras, vivemos juntas… nos conhecíamos mutuamente… Mas, como nossa vida é um constante desinstalar-se (e isso gera santidade), precisávamos nos separar e aí o meu coração ficou apertado; pensei, será que vou conseguir viver tudo que vivi aqui? Será que vou conseguir superar a experiência? E foi quando comecei a descobrir a graça do abandono.
Então, disse a mim mesma: “É isso Deborah! Superar! Você precisa se superar no amor!” Naquele dia, arrumei minhas malas, já sabendo onde seria minha casa nova e parti. Eu estava vivendo muitas coisas, mas deixo para contar em outra oportunidade. Nesse tempo, a conquista se deu pela partilha e pela transparência, afinal, tudo se conquista assim, sobretudo o amor. Era preciso fazê-las participar da minha vida, da minha história, me conhecer, e elas me conheceram na alegria e também na dor bendita dor que me aproximou ainda mais de pessoas tão importantes para mim, fazendo com que eu me abrisse, me fez entender que a cura se dá quando o coração se alarga.
Eu já não era e não sou mais a mesma pessoa, o amor gera mudanças, conversão e nesse apartamento carinhosamente chamado de “OIKOS 7” (OIKOS = lugar da graça) e a gente, no calor da santa bagunça, cantávamos: “OIKOS 7, o mais lindo! OIKOS 7, o mais feliz!” Era assim que nos sentíamos e todas nós queríamos viver assim, tínhamos nos decidido por amar. Nossa casa era muito movimentada e barulhenta também. Que lindo! Contagiamos os irmãos, era constantemente visitada pelas moças e rapazes da comunidade; oferecíamos jantares, lanches no fim da tarde… era uma casa festiva, alegre e feliz! E se não bastasse, ficávamos até tarde acordadas e acolhíamos alguns irmãos que, depois da faculdade, iam tomar um chocolate quente ou somente conviver; nossa porta ficava sempre aberta.
Nas nossas reuniões de formação sempre surgia uma idéia nova para acolher melhor os irmãos, o amor que vivíamos entre nós era tanto, que não cabia na casa queríamos que todos experimentassem e, vou confessar uma coisa a vocês: fizemos o possível para que todas as pessoas daquele prédio, ou quase todas, passassem pela nossa casa e fossem amadas por nós.
Descobri que o amor é sempre novo. E que somos felizes quando optamos pelo bem sempre, por amar… e, olha só, eu terei que me mudar de novo, mais uma vez meu coração se aperta em ter que deixar essas irmãs tão queridas: Marilena (a quem sou profundamente grata) Marlene, Patrícia, Cintia, Érica Trindade, Shirleia e todas as outras que passaram por essa bela casa. Mais uma vez, tive que arrumar as malas e partir, mas levo no meu coração, cada uma. Posso dizer: marquei a vida delas, e elas a minha, e isso não tem preço Olhando para o Novo, lá vou eu, mais uma vez me superar no amor até a próxima!
Com orações