Espera-se que os namorados conversem muito sobre os mais variados assuntos que os conduzam a um conhecimento mútuo. Eles falam sobre suas vidas, seus gostos, preferências, decepções e vitórias; suas crenças, espiritualidade, experiência de encontro com Deus, caminho de santidade; também sobre a família, origens, como foi a infância, juventude, início da vida adulta; experiência com estudos, trabalho, preferências de lazer, hábitos adquiridos; namoros anteriores, se houve, paixões, desilusões, e, claro, sexo. Este pode parecer um assunto dentre vários, mas não é. A minha vida de solteiro pode comportar, em sua inteireza, experiências familiares, de trabalho, de lazer etc. Toda a lista apresentada acima, enfim, pode ter lugar de maneira natural e completa para um solteiro, com exceção do sexo. Sendo ainda mais claro: a plenitude da vida sexual não tem espaço na vida de um solteiro, visto que foi pensada por Deus para ser vivida dentro do casamento. Consequentemente, se a plenitude da sexualidade não tem lugar no namoro, a expressão acerca da vida sexual também não pode ser plena.
Tal afirmação pode gerar situações aparentemente conflitantes, que colocariam em xeque a necessidade de viver a partilha e a transparência no namoro, mas adianto que não é esse o caso. Basta imaginar que um dos namorados – ou os dois – tenha vivido experiências sexuais em outros relacionamentos. Como foi dito antes, solteiros não deveriam ter essas experiências, já que elas são próprias do casamento, mas sabemos que isso infelizmente não tem impedido tantos e tantos namorados de viverem como se fossem casados. O que devem fazer os namorados num caso desses? Contar para o outro ou não? Ter tido uma vida sexual ativa antes do namoro não é o único ponto relevante acerca da sexualidade a ser partilhado. Um dos dois pode ter o vício em pornografia ou masturbação, por exemplo, ou apresentar um trauma relacionado a um abuso sexual ocorrido no passado que muito possivelmente venha a causar impacto numa futura vida como casados. Mais uma vez impõe-se a pergunta: contar para o outro ou não?
Mas é necessário falar sobre sexo com meu namorado (a)?
Nos dois casos, a resposta é sim, mas é necessário acrescentar um “como”. É nesse momento que importa ressaltar duas realidades fundamentais:
1) Um católico de verdade namora sempre de maneira honesta e espontânea em busca de uma esposa. Um jovem namora tendo o matrimônio à sua frente, ainda que não seja com a atual namorada.
2) Por conta disso, a atual namorada de alguém pode ser a futura esposa de outra pessoa. Obviamente, um namoro não é – e não deve ser mesmo – garantia de casamento, ainda que haja essa intenção desde o princípio.
Ter essas duas realidades em mente me faz saber que há coisas que pertencem ao namoro, outras, ao noivado, e muitas outras que só poderão se fazer presentes no casamento. Antecipar para o namoro o que é próprio do casamento trará prejuízos a você, à sua namorada e, consequentemente, ao próprio namoro. Para ilustrar bem isso, recorro ao sacerdote João Mohana1, quando fala do carinho, que é uma expressão legítima num namoro honesto e espontâneo. Mais do que isso, a Igreja ensina que é um direito e, em certa medida, um dever dos namorados
expressar carinho mútuo compatível com a condição de namorados. Devemos prestar atenção especial a esse complemento, pois há carinhos próprios e adequados a namorados, a noivos e a casados. De maneira similar, diz o autor, nós não cumprimentamos nossa namorada com a mesma expressão de carinho que cumprimentamos a mãe de um amigo, nem um esposo cumprimenta sua esposa da mesma forma que cumprimenta a professora de seu filho.
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É preciso prudência
Há, portanto, um lugar para cada carinho, assim como há um lugar para cada conversa. Há um modo de falar de sexualidade quando se é namorado, noivo ou casado. Sim, namorados devem conversar sobre namoros anteriores, experiências sexuais que tiveram, mas sem se aprofundar demais em detalhes. Da mesma maneira, traumas relacionados à sexualidade, vícios ou compulsões sexuais devem ser partilhados, mas sem esmiuçar muito. Um bom termômetro para o nível de aprofundamento dessas conversas é refletir, em oração, até que ponto falar sobre isso o ajuda a guardar a castidade dentro do seu namoro. Expor determinados detalhes, trazendo à memória cenas marcantes, pode excitar seus sentidos e os da sua namorada e prejudicar a castidade no seu namoro. O Espírito Santo vai sinalizar isso de maneira bem clara, se você se mantiver sempre em oração. É preciso pedir muito o discernimento ao Espírito Santo para rechaçar uma tendência que é bem comum entre namorados que tenham feridas em sua sexualidade: achar que o outro é o responsável pela sua cura ou libertação nessa área. Claro que tudo começa com o próprio casal de namorados, que precisa dialogar com sinceridade, ser transparente um com o outro.
Ao mesmo tempo, contudo, é preciso buscar ajuda, seja de um diretor espiritual, do confessor, de algum casal maduro na fé que acompanhe o namoro, ou mesmo ajuda profissional de um terapeuta, se for o caso. É preciso lembrar que se de um lado há um processo de cura em andamento na afetividade e sexualidade, muito provavelmente outro processo similar está ocorrendo também com a outra pessoa. Ao me deixar levar pela ideia de que minha namorada é a responsável pela cura dos meus afetos e da minha sexualidade, posso partilhar situações que atrapalham o processo dela e comprometem a nossa vivência da castidade, o nosso diálogo, o processo de santidade de cada um. O que parecia ser um caminho de cura e crescimento acaba causando mais feridas e afastamento entre os dois.
Viver a partilha e a transparência deve ser regulado – como tudo na vida do cristão, aliás – pela virtude da prudência. O Espírito Santo ensina os namorados a serem prudentes nas suas manifestações de carinho, dando aquele aviso interior que todos nós conhecemos, como uma luz vermelha que se acende, quando elas deixam de ser adequadas. O mesmo Espírito lhes dará prudência para partilharem suas vidas, suas experiências, sua afetividade e sexualidade, de forma espontânea e honesta, sem correr o risco de despejar sobre o outro coisas que um namorado ou namorada jamais deveria receber. A Palavra de Deus nos diz que existe um tempo para cada coisa. Viver o que é próprio do tempo do namoro também nas conversas é canal de graça e de conversão para a vida dos namorados.
Referências:
1 MOHANA, João. A vida sexual dos solteiros e casados. São Paulo: Edições Loyola, 2014.