O que vai valer mesmo não é a quantidade de amigos que você tem ou acha que tem
“Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar…” Quem não conhece essa música do Roberto Carlos? É muito bonitinha mesmo, tem um ritmo alegre e refrão “superbonder” (basta passar uma vez pela sua cabeça, para ficar grudado). Será que é bom mesmo ter um milhão de amigos? Você teria tempo para todos eles? Conseguiria responder os recados de e-mail (e de tantas outras redes sociais) de um milhão de pessoas? Será que você conseguiria ter intimidade e sentir-se livre para revelar seus maiores segredos para um milhão de pessoas? Vamos descobrir se alguém consegue, realmente, ter um milhão de amigos?
Fico me perguntando o que se passa na cabeça de uma pessoa que, ao encontrar alguém que não conhece e, muitas vezes, de quem nem sabe o nome nem jamais ouviu uma só palavra sobre sua história, de repente, começa um diálogo, chamando-o de “amigo”.
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Sabe quando você está perdido e não consegue chegar a determinado lugar, mas encontra alguém e lhe diz: “Amigo!”; chama um garçom ou recepcionista e lhe pede: “Amigo, por favor…”
Amigo? Que história é essa? Você conhece, de verdade, o significado dessa palavra? Talvez, existam outras fomas de tratamento mais adequadas para essas pessoas, como senhor (a), você…
A palavra “amigo” é sagrada. São João Paulo II disse que “Cristo é o maior amigo e, simultaneamente, o educador de toda a amizade autêntica”. Se Ele é um educador, pode nos ensinar como descobrir quem são nossos verdadeiros amigos. Não é difícil os descobrir, basta pegar a Bíblia e abri-la em Jo 15,15b.
Quatro características básicas de uma autêntica amizade
Jesus disse: “Eu vos chamo amigos”. Você acha que Ele disse isso para quantas pessoas? Será que o Senhor chamava o balconista da hospedaria de amigo? Ou o beduíno que lhe deu uma informação no meio do deserto? Não. Ele só falou isso para um grupo bem seleto de 12 pessoas, as quais possuíam, pelo menos, quatro características básicas:
1º – Escolha divina: não existia essa história de amizade forçada, pois essa não se inventa, mas é descoberta;
2º – Tempo: só depois de terem passado um bom tempo juntos, Jesus os chama de “amigos”. Essa história de amigo de rede social ou um “amigo” que conhecemos hoje, e já é nosso amigo amanhã,não dá, não é bem por aí, não!;
3º – Liberdade: os doze não ficaram falando na cabeça de Jesus: “Diz que eu sou seu amigo, por favor” ou “Eu sou seu melhor amigo?”. Não se esqueça de que o amor só pode florir no solo regado pela liberdade;
4º – Intimidade: Jesus disse: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi do meu Pai”. O dom da intimidade (recíproca) é característica básica de amizades autênticas.
Os amigos íntimos de Jesus
Jesus tinha também “amigos íntimos”. Alguns os chamam de melhores amigos, mas talvez não seja esta a melhor forma de se referir a eles, no entanto, é uma forma de diferenciá-los. Sabe quem são? Pedro, Tiago e João. É só observar como Jesus os levava para situações-chave da Sua vida, como a Transfiguração (cf. Mt 17,1-9), o Monte das Oliveiras (cf. Mc 14,33) etc.
Leia mais:
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.: As três fases para formação da amizade
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O mais interessante é que, mesmo que Jesus tivesse amigos íntimos, Ele amava todos – amigos, discípulos, o povo etc.! Não Lhe importava o “tipo de relacionamento”. Portanto, se você não é o amigo íntimo de alguém ou não consegue tratar todos os amigos da mesma maneira, fique tranquilo, porque isso é normal, chama-se “ser humano”; ser diferente disso é o problema, pois se chama falsidade. “Eu quero ter um milhão de amigos…”. Você quer?
No fim das contas, o que vai valer mesmo não é quantidade de amigos que você tem ou acha que tem, mas se você vai fazer com os amigos que Deus lhe concedeu o mesmo que Jesus fez com os d’Ele: “Eu os amei até o fim (Jo 13,1)”.
Padre Sóstenes
Missionário da Comunidade Canção Nova