Tic-tac, tic- tac… Esse som passou a embalar meu sono todas as noites. Olhe que eu não estou falando do tic-tac silencioso do tempo sustentado em meu pulso, que durante todo o dia me faz ir para lá e para cá.
Essa é uma verdade inegável: “O tempo rege a vida do homem”. Mas, não quero falar do inventor do relógio ou do relojoeiro que fica na esquina da minha casa. Quero falar do tempo que dispensamos para amar. Amar no tempo certo, com a conjugação certa, sem se preocupar com o gênero.
Perdemos tempo muitas vezes com coisas pequenas e fúteis e esquecemos de ajustar o nosso coração ao coração daqueles que durante o dia trocam palavras, olhares e ações conosco.
– Posso falar com você?
– Depois nós marcamos. Estou muito ocupado no momento.
“Trim! Trim!”
– Alô!
– Alô! Oi, liguei porque estava com saudade.
– Que bom, mas você pode me ligar mais tarde? Daí marcaremos um jantar.
– Você tem um minuto para mim? Preciso te falar algo.
– É rápido? Estou atrasado para o trabalho.
É assim que muitas vezes nos comportamos com o ajustar do nosso tempo à necessidade do outro. Rubem Alves diz que “os gregos, mais sensíveis do que nós, tinham duas palavras diferentes para indicar esses dois tempos: Chronos e Kairós. Chronos é um tempo sem surpresas. Kairós, ao contrário, vive de surpresas.”
O tempo do relógio é insensível às batidas do coração. O Kairós bate no ritmo da vida.
Um minuto. Se você tivesse apenas um minuto para amar as pessoas, o que você faria? Peguei-me com essa interrogação na cabeça. Quis me desesperar e tentar recuperar aqueles que se perderam por minha falta de tempo. Pensei em ligar para todos que eu amo, em sorrir para todos, dar “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite” ou talvez um “oi”.
Inúmeras coisas passaram pela minha cabeça, mas senti que o que passou, passou. O importante é recomeçar. Retomar o “Kairós” que mede a vida pelo pulsar do meu coração, que passa a ser o ponto de encontro do amor. Amor verdadeiro, como o de Jesus, que perdoa, acolhe, não nega um olhar, um sorriso ou uma palavra. Refletir sobre “Chronos”, sabendo que nada me pertence. Nem eu mesmo me pertenço, mas posso me fazer pertencer pelo coração do outro.
Dedico, hoje, para os que amo e aos quais me esforço para amar, um minuto de amor que se fixa no tempo e na história com o gosto de horas. Por isso, não perca tempo. Tic-tac, tic-tac…