Cresci ouvindo falar de Dom Ávila. Minha mãe o conheceu no Movimento Eureka de Brasília/DF, ainda como Monsenhor. Quando nasci ele me batizou e assim foi com todos que nasciam na minha família: irmãos, primos…
Quando meu avô faleceu, também lá estava ele dando a unção dos enfermos e dando todo apoio para a nossa família. Celebrou missa dos meus 15 anos, crismou meus irmãos. Podíamos dizer: “a nossa família é amiga de um Arcebispo”. A medida do possível, acompanhávamos todas as suas atividades em Brasília e como Arcebispo militar.
Quando descobri meu chamado a viver em comunidade, na Canção Nova, por causa da minha mãe conversei com ele sobre isto. Ele perguntou a minha idade, na época estava com 16 anos, então me disse que ainda não tinha idade para pensar em Canção Nova, nem casamento e nem em vida religiosa. De uma forma muito serena e delicada, descartou a minha idéia, mas mesmo assim eu fui para a Comunidade e ele ainda fez a minha carta de apresentação.
Depois de um tempo, estava de férias e fui novamente visitá-lo. Encontrei Dom Ávila de cama por causa de uma hérnia de disco e, para a minha surpresa, estava impressionado com a Canção Nova. Em sua doença, ele não conseguia dormir e conheceu a TVCN de Brasília, onde começou a acompanhar e dizia sempre com muita satisfação “a Canção Nova é minha companheira…”
Em 2004, o convidei para celebrar o meu casamento no Rio de Janeiro. Sua presença foi um para mim mais um presente, ele ficou até emocionado durante a homilia e nos deu a receita de sempre na hora de dormir beijar a nossa aliança e buscar sempre a reconciliação, no caso de algum desentendimento, assim estaríamos renovando, a cada dia o nosso matrimônio. Foi uma celebração muito bonita que tocou a todos nós como também a ele.
Neste ano, estive novamente em sua casa para visitá-lo, devido ao agravamento da sua saúde. Ele ficou muito feliz e falava o tempo inteiro do meu casamento, que é realmente um casamento cristão, em todos os sentidos; também perguntou sobre a Canção Nova, e disse que precisamos trabalhar pela unidade da Igreja, e a unidade dos Movimentos da Igreja.
Pude perceber sua vontade de viver, como ele quis fazer mais pela Igreja, falou também de Papa João Paulo II, da sua amizade com ele, da sua morte e da sua santidade.
Depois de 15 dias, fui de novo com o nosso responsável de missão, o Marcos e o Padre Roger, levarmos para ele um livro com as nossas estruturas em Cachoeira Paulista/SP e com muita alegria ele nos disse que esteve lá. Viu as fotos do casamento e depois fomos embora, pois a visita tinha hora marcada. Esta foi a última vez que o vi.
No seu velório, pude me despedir agradecendo por todo o bem que ele tinha feito à minha família nestes 28 anos de amizade, e também agora por apoiar a minha vocação. Ainda me lembro da sua risada, com muitas saudades, mas sei que ele agora na vida eterna vai continuar a interceder por nós, com maior eficácia.
Termino lembrando suas palavras, extraídas do folheto litúrgico, Pastoreio Militar de 2003, que também estava como despedida do Pastor na Missa das Exéquias no dia 16/11/05:
“A Porta que se abre para a eternidade e nos coloca na eternidade chama-se morte. Não conseguimos ver a face de Deus, porque a face de Deus só a veremos na hora da morte. A morte é o mergulho da criatura em seu Criador. Haverá dia mais lindo do que este?”