Discernimento na amizade: reconhecendo quem nos aproxima de Deus
Um amigo fiel “não tem preço, e o seu valor é incalculável, é remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão”, diz a Bíblia no capítulo 6 do livro de Eclesiástico. Imaginemos dois santos amigos, como o foram Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier. Penso em quantas palavras edificantes e motivadoras para a santidade entre os dois, partilhas cheias de amor e visão sobrenatural da vida.
Santo Inácio e São Francisco Xavier: unidos pela amizade e pela fé
Interessante considerar que, no começo do relacionamento, eles não se entendiam tão bem. A princípio, Francisco considerou Inácio antipático, porque sempre repetia a frase de Cristo: “Que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?”. Pouco a pouco, o jovem deixou de lado a sua vaidade e fez os exercícios espirituais criados pelo fundador da Companhia de Jesus (Jesuítas). Em 1540, o Papa Paulo III aprovou a criação da Ordem e Santo Inácio foi escolhido como seu primeiro Superior Geral, enquanto São Francisco Xavier partiu como missionário para Índia e Japão. Vejam, a amizade foi um dos alicerces da vocação e santidade desses dois grandes homens da Igreja católica.
Amigos que edificam, amigos que não edificam: discernindo as amizades
Isso nos faz refletir sobre as amizades em nossa vida, que nos edificam assim e naquelas que não nos ajudam a crescer como pessoa e como filhos de Deus. Identifica-se logo aqueles amigos que eram sinceros e corajosos em apontar com caridade nossos erros, não mimam nas dificuldades, encorajando-nos a enfrentar e superar, e também os círculos de amizades que não passam de rodas de murmuração e maledicência, aos quais nos juntamos apenas porque não nos contradizem e aprovam tudo o que fazemos e falamos. Mas há sabedoria própria para lidar com opiniões divergentes, “a amizade verdadeira supõe também um esforço cordial por compreender as convicções dos nossos amigos, ainda que não cheguemos a partilhá-las nem a aceitá-las”.
Amizade: espelho da alma e oportunidade de crescimento
Uma amizade, por si só, já tem o grande valor de, em sendo o amigo sincero e autêntico, ajudar a ver os fatos da vida sob outra perspectiva e enxergarmos a nós mesmos, colocando mais luz sobre nossas sombras.
Precisamos ter muito cuidado com a tendência a nos aproximar de quem pensa como você e tem a mesma opinião sobre as realidades. e cuidado para que os encontros entre amigos não sejam apenas lugar de ‘vomitórios’, mas que seja um lugar de aprendizado como diz o Papa Francisco: “A amizade é uma escola de diálogo e de comunhão, que nos ensina a superar os preconceitos e as incompreensões.” A amizade é das coisas mais belas que Deus nos presenteou , é a relação de pessoas que abrem a porta do coração e compartilham tudo dizendo ‘tudo é seu’. A amizade é, de fato, a oportunidade de encontrar-se com um dom de Deus, onde vamos poder chorar, sorrir e sonhar juntos. Um amigo genuíno sabe, partindo do positivo e com caridade, apontar em nós tudo o que precisa ser restaurado. A verdadeira amizade cria um tal clima de confiança onde não há receio de se expor, não há julgamentos nem superiores. Pelo contrário, há admiração mútua, amor.
Que tipo de amigo você é?
Dessas afirmações, podemos extrair vários questionamentos sobre nossa postura nas relações de amizade, Que tipo de amigo eu sou? Sou digno de confiança? Tenho admiração por meus amigos, vejo suas qualidades? Sei exortá-lo, partindo do positivo? E, nessa mesma linha, refletir sobre cada relação de amizade e quais as consequências dessa amizade na sua vida. Os amigos o ajudam a se conhecer melhor, a não agir por impulsos, eles o exortam e contradizem?
Paciência e presença: os pilares da amizade autêntica
Claro que a essa altura já podemos supor que uma amizade assim precisa ser forjada, construída com paciência e presença. Paciência e presença: os requisitos para contruir uma amizade autêntica. A confiança que é o motor de toda amizade verdadeira não nasce de um dia para o outro. É preciso estar junto, muito diálogo. O Papa Francisco adverte: “Quando se ama alguém, está-se ao lado, cuida-se, ajuda-se, diz-se o que se pensa, sim, mas não se o deixa frustrado. Assim é Jesus conosco, nunca nos deixa frustrados”. Essa frase do Papa me fez lembrar de São José Maria Escrivá, que, na amizade, nunca pode entrar a indiferença; os verdadeiros amigos sabem se colocar no lugar do outro. Que o Senhor nos dê a graça de encontrar tamanho tesouro, via de vida eterna!
Edvânia Duarte Eleutério – Missionária da Comunidade Canção Nova desde 1997, é formadora de namorados e casais, entre outras funções. Possui especialização em gestão de pessoas, counseling e bioética. Autora do livro ‘Por que (não) eu?