🌟 Verbo silencioso

No presépio e no coração da Igreja, o silêncio de Maria convida à contemplação

A palavra de Maria que segue ecoando através dos séculos

Uma das coisas de que mais gosto de observar ao fazer meu estudo bíblico ou quando estou contemplando algum dos mistérios da vida de Cristo é perceber como as coisas, de algum modo, “autoexplicam-se”. E em relação ao silêncio de Maria, seja no presépio ou em qualquer outro momento da vida de Cristo não é diferente.

Créditos: Arquivo CN.

Talvez seja um equívoco dizer que Maria estivesse em silêncio no presépio, porque eu não tenho autoridade para afirmar. Mas quando dizemos que a Virgem Maria é a Mãe do Verbo de Deus encarnado, que Jesus é a Palavra de Deus, a Palavra se fez Carne e habitou entre nós. Para mim, significa que Maria disse a Palavra mais importante de toda a história da humanidade, uma Palavra que continua ecoando através dos séculos. Compreende? Uma Palavra que tem um para quê, uma missão, uma finalidade. Portanto, silêncio e Palavra têm uma relação muito profunda em Maria.

Ela, ao gestar o menino Jesus, ao dar à luz o Filho de Deus, faz, por assim dizer, o seu discurso mais contundente, o qual torna desnecessária qualquer outra palavra. Em seguida, o que podemos contemplar em Maria é um grande silêncio de contemplação, pois a Palavra, uma vez dita, não volta sem cumprir o seu papel. Mal comparando, é como quando alguém faz um grande discurso e, a cada palavra forte, faz aquela “pausa” para que as pessoas possam compreender o que se falou. Percebe? Maria acabou de falar e está se permitindo compreender o que disse, pois essa Palavra não veio somente dela, como quando a gente fala algo e percebe, enquanto fala, que aquela ideia só pode ter sido uma inspiração divina, sabe?

Maria estava contemplando a Palavra de Deus “pronunciada” através de si

Deus falou através da Virgem Maria algo que ela não compreendia por completo; e quando isso acontece, somos chamados a contemplar para compreender. São poucas as citações de Maria falando na Sagrada Escritura, e isso também tem um significado: quando Deus fala conosco, é inútil multiplicar as palavras; e a Virgem Maria compreendeu isso muito bem.

Quer ver um outro detalhe que me chama muito a atenção? No Evangelho de São João, na passagem das bodas de Caná, quando Nossa Senhora diz: “Eles estão sem vinho!”, Jesus fala para ela: “Mulher, para que me dizes isso? A minha hora ainda não chegou”. Ela responde: “Fazei o que Ele vos disser”.

Como já dissemos, Jesus é o Verbo, e nós sabemos que o verbo é uma ação. Jesus veio para fazer algo, Ele tinha uma missão. Nossa Senhora, que contemplava o Verbo desde a “sua pronúncia”, desde o seu nascimento, sabia que o “Verbo precisava agir”. E assim como Maria dá à luz o Verbo, ela também o coloca em ação. Assim como o Pai quis a “ajuda” de Maria para a encarnação do Verbo, assim também o Filho a quis.

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Maria nos convida a contemplar a ação de Deus

Mais uma vez, Maria fica em silêncio, ela “pausa para a contemplação”. Ela estava vendo, observando, contemplando o agir de Deus por meio de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. E por que depois da morte e ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo não está cheio de “palavras de Maria” na Bíblia? Porque o Verbo continua agindo no meio da Igreja, e Maria continua tendo a mesma postura de contemplar a ação de Deus.

Maria, no presépio ou na Igreja, convida-nos a silenciar e a contemplar a ação de Deus. Contemplar é, falando com as minhas palavras, a capacidade de olhar e colocar-se dentro de uma certa realidade, observá-la a partir de dentro, fazendo-se parte daquela realidade.

Quando contemplamos os versículos bíblicos, por exemplo, somos convidados a entrar na cena, observar gestos, atitudes, palavras, cenários. Às vezes, numa contemplação, somos inseridos no contexto e até participamos ativamente: falamos, respondemos e podemos perguntar, mas estamos num outro tipo de silêncio. Externamente, estamos em silêncio, mas, internamente, estamos em colóquio profundo com Deus, em oração. E assim compreendemos a passagem de Lc 2,19 que diz: “Maria, porém, guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração”.

Em silêncio contemplativo, a Virgem Maria nos ensina, no presépio, que, assim como Ela, a Igreja deve sempre contemplar Jesus.

A contemplação silencia tudo o que não é a voz de Deus para nós, e então seremos capazes de cooperar com a obra, com a ação de Deus na nossa vida e na vida da Igreja.

Nossa Senhora do Silêncio, ensina-me o seu modo de silenciar.

 


Carla Picolotto

Carla Picolotto é natural de São José das Missões (RS). Membro da Canção Nova desde 2009, Carla passou pelas missões de Lavrinhas (SP), Cachoeira Paulista (SP), Rio de Janeiro (RJ), Fortaleza (CE) e Queluz (SP). Neste último, ela fez parte da equipe de Formação do discipulado. Atualmente, está na missão de São José dos Campos (SP).