Conversão

A essência da Quaresma, o tempo de renovação e conversão

Da perseguição à penitência, a evolução de Quaresma

Nos primeiros séculos da Igreja, não havia Quaresma como preparação para a Páscoa, havia apenas um jejum realizado nos dois dias anteriores. Isso porque os primeiros cristãos viviam tão intensamente a sua entrega ao Senhor, que preferiam ser mortos a terem que negar sua fé em Jesus. Uma vez que eram tempos de perseguição, não dava para ser cristão “morno” ou por mera conveniência; era perigoso demais e, portanto, não fazia sentido a necessidade no batismo.

Só mais tarde, com o fim das perseguições, quando muitos foram se tornando menos empenhados em viver a fé, é que se notou o quanto seria importante dedicar um tempo mais largo para exortar os fiéis a terem uma vida de maior coerência com a graça que receberam. Nascia assim a Quaresma.

Créditos: Daniel Xavier/cancaonova.com

A palavra “Quaresma” vem do latim quadragésima, referindo-se aos 40 dias que antecedem a Páscoa . Período inspirado nos 40 dias que o Senhor passou no deserto, jejuando e orando, antes de iniciar publicamente seu ministério (Mt4,1-11). Assim como Jesus planejou o Tentador e se preparou para sua missão, você e eu também precisamos nos purificar e fortalecer nossa fé para as lutas que teremos que travar.

A urgência da conversão nos dias atuais

Hoje, mais do que naquela época, tornou-se urgente chamar todos à conversão, sobretudo os que, um dia, receberam o batismo. É muito importante viver esse tempo de resgate, cura interior e fortalecimento para que cada um de nós, cristãos feridos pelo pecado, convertamos a Deus nosso coração, abandonando as obras das trevas para experimentar a graça daquela que disse: “Eu sou a luz do mundo”.

Para a Palavra de Deus, conversão significa uma mudança de vida. Erra quem confunde mudança de vida com mudança de moral ou de comportamento. A moral de uma pessoa só vai mudar quando ela muda primeiro sua vida (seu coração). A conversão é algo muito mais poderoso e profundo que uma simples mudança na maneira de alguém se conduzir.

Uma troca

Há um exemplo que ajuda a entender melhor isso: se tenho uma moeda que está se desvalorizando cada vez mais, posso resolver esse problema “convertendo-a” em outra que não se desvalorize. Levo minha moeda até o banco e troco por uma moeda forte que não perde valor. A conversão foi o processo em que entreguei algo e recebi em troca uma coisa diferente.

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Mas quando falamos de pessoas, e não de moedas, significa que entregamos nossa vida tal como está, desvalorizada por muitos erros, desgastes, mágoas e pecados. Entregamos uma vida carcomida pelo pecado e, em troca, recebemos das mãos de Jesus sua própria vida, única, que não se desvaloriza, não se corrompe nem se perde. Essa vida que o Senhor nos dá, sem a menor dúvida, vale a pena viver, porque é uma vida de alegria, confiança, justiça e fé.

Verdadeira conversão

A conversão não é simplesmente deixar os erros do passado para viver como uma pessoa de bem. Também não é cumprir ao pé da letra as determinações que estão na Bíblia. É algo extraordinariamente mais grandioso e feliz, é entrar na amizade de Deus, é passar de servo a amigo, é passar de cumpridor da lei às condições de filho, é escolher, a partir de então, não mais fazer o mal para deixar Deus agir como quiser em nossa vida. A verdadeira conversão acontece quando uma pessoa experimenta o amor de Deus.

É quando, sentindo uma grande alegria em ser amada por seu Criador, diante do qual teme e treme, atreve-se amar-Lhe de volta; a partir daí, passa a ter recebimento de desrespeitar ou desagradar esse amor, mesmo se não tivesse que responder por isso. Nas palavras de Santo Agostinho : “E toda a minha conversão consistiu nisto: não querer o que antes eu queria e querer o que Deus queria.”

Márcio Mendes
Trecho retirou o livro ‘A Luta de Cada dia’, Retiro Quaresmal 2025

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