Nesta catequese sobre a virtude da oração, meditaremos sobre um tema fundamental, especialmente neste ano dedicado à oração: a oração de Jesus. Tomaremos como base a catequese proferida pelo Papa Francisco em 28 de outubro de 2020.
Um modelo de humildade: oração e submissão à vontade do Pai
Nosso Senhor Jesus Cristo, o justo por excelência, para vivenciar a oração em sua plenitude, escolheu se rebaixar à condição humana. Sendo de natureza divina, Ele não dependia da oração. No entanto, ao assumir a natureza humana, tornou-se um de nós e, como tal, assumiu também a necessidade de orar.
O batismo de Jesus: expressão de humildade e justiça
O batismo de Jesus ilustra essa profunda identificação com a humanidade. Ao se submeter ao batismo de penitência pregado por João Batista, um símbolo de conversão e preparação para a vinda do Messias, Jesus demonstra a excelência da oração: um rebaixamento a nossa própria realidade.
Jesus, sendo justo, poderia ter se esquivado desse ato. Contudo, Ele escolheu se assemelhar a nós a ponto de desejar ser batizado por João. São João Batista, inclusive, estranhou o pedido de Jesus: “Eu que deveria ser batizado por vós!”. Mas Jesus, ciente da importância de cumprir a justiça em sua plenitude, sabia que este era um passo necessário em sua missão.
Filhos amados: o chamado à intimidade com o Pai
A partir do batismo de Jesus, o Espírito Santo desce sobre Ele na forma de pomba e ecoa a voz do Pai: “Eis o meu filho amado”. Essa declaração poderosa revela a profunda intimidade entre Pai e Filho e se estende a nós, que também somos chamados filhos amados de Deus.
Essa verdade enche nosso coração de alegria, pois é um convite a imitar a oração de Jesus: reconhecendo nossa filiação divina e a necessidade do Pai. Muitas vezes, a tendência é nos sentirmos indignos, presos à culpa e à exclusão, acreditando que não somos merecedores da graça e misericórdia divinas. Mas Jesus veio para nos mostrar justamente o contrário.
Confiar na misericórdia: abrir-se ao amor transformador
Por termos o Espírito de Cristo em nós, Deus nos vê através de Jesus. Somos filhos no Filho, amados e acolhidos em nossa miséria. É com essa confiança que devemos nos aproximar da oração: reconhecendo nossa humanidade fragilizada, mas também a grandeza da filiação divina que nos impulsiona a buscar o Pai.
Precisamos, portanto, viver esta certeza, levando-nos a acolher e amar o próximo, sem julgamento ou exclusão. É fácil rejeitar o outro por seus erros e pecados, assumindo uma postura hipócrita e farisaica. Jesus nos convida a sermos instrumentos da misericórdia divina, enxergando além dos pecados e reconhecendo a necessidade de salvação presente em cada coração.
A misericórdia não é negação do pecado
A misericórdia não consiste em fechar os olhos para o pecado ou ignorar a miséria humana. É preciso reconhecer a realidade do pecado, mas sem jamais perder de vista o poder transformador do amor de Deus. Assim como os peixes necessitam estar imersos na água para sobreviver, também nós precisamos estar mergulhados na misericórdia divina para experimentarmos a verdadeira vida.
Que, a exemplo de Jesus, que iniciou sua vida pública demonstrando humildade e necessidade do Pai, possamos também nós, reconhecendo nossa fragilidade e acolhendo a filiação divina, nos deixar inundar pela misericórdia de Deus e nos tornarmos instrumentos da redenção em um mundo que se esqueceu do Seu amor. Que sejamos capazes de levar essa graça aos que mais necessitam, compartilhando a alegria de sermos chamados “filhos amados”. Deus vos abençoe em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.
Padre Jonathas Fernandes de Souza
Sacerdote pertencente ao Vicariato Apostólico de Mitú, na Selva Amazônica Colombiana. Brasileiro que, há 9 anos, trabalha nessa missão. Sacerdote ordenado há seis anos.
Transcrito e adaptado por Jonatas Passos.