O Corpo de Cristo foi glorificado desde a Sua Ressurreição e adquiriu propriedades novas e sobrenaturais; não está mais sujeito ao tempo nem ao espaço; pode “atravessar paredes” como ao entrar no Cenáculo onde estavam os discípulos e se mostrar com feições diferentes à Madalena e aos discípulos de Emaús. Depois de ressuscitado, Jesus esteve, de fato, com os discípulos; eles o apalparam e com Ele comeram. Mostrou-lhes, assim, que Ele não é um espírito e que o Seu Corpo ressuscitado é o mesmo que foi martirizado e crucificado, pois traz as marcas da Paixão.
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Sua glória ainda permaneceu velada aos discípulos como se fosse um homem comum; e isso pode ser notado na palavra misteriosa que Ele disse a Maria Madalena: “Ainda não subi para o Pai, mas vai aos meus irmãos e dizer-lhes ‘Eu subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus’” (Jo 20,17). Isso mostra a diferença entre a glória de Cristo ressuscitado e a glória de Cristo exaltado à direita do Pai.
A Igreja ensina que a Ascensão de Jesus ao céu é, ao mesmo tempo, um fato histórico e transcendente. Daí para frente, Jesus não mais se apresentará aos apóstolos. Um caso excepcional é quando Ele se apresenta a São Paulo no caminho de Damasco, como ele disse: “como a um abortivo” (1 Cor 15,8), em uma última aparição que o constitui apóstolo. A subida de Jesus ao céu está unida à Sua descida do céu na encarnação. Ele disse que só aquele que “saiu do Pai” pode “retomar ao Pai” (cf.Jo 16,28). “Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem” (Jo 3,13). “Quando subiu ao alto, levou muitos cativos, cumulou de dons os homens” (Sl 67,19). Ora, que quer dizer “ele subiu”, senão que antes havia descido a esta terra? Aquele que desceu é também o que subiu acima de todos os céus para encher todas as coisas” (Ef 4,8-10). Por si mesma a humanidade não consegue chegar à “Casa do Pai”, à vida e à felicidade de Deus. Só Cristo pôde abrir esta porta ao homem. Ele disse que: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, também vós estejais” (Jo 14,2). O prefácio da Missa da Ascensão reza: “de sorte que nós, seus membros, tenhamos a esperança de encontrá-lo lá onde Ele, nossa cabeça e nosso princípio, nos precedeu”. Jesus Cristo é a Cabeça da Igreja, por isso nos precede no Reino glorioso do Pai, para que nós, membros de Seu Corpo, vivamos na esperança de estarmos com Ele na eternidade. A Igreja também nos ensina que a elevação de Jesus na Cruz significa e anuncia a elevação da ascensão ao céu. “E, quando eu for elevado da terra, atrairei todos os homens a mim” (Jo 12,32). É o começo da ascensão. Jesus é o Único Sacerdote da nova e eterna Aliança que entrou no céu. “Eis por que Cristo entrou, não em santuário feito por mãos de homens, que fosse apenas figura do santuário verdadeiro, mas no próprio céu, para agora se apresentar intercessor nosso ante a face de Deus”. (Hb 9,24) O nosso Catecismo ensina (§665-667) que, no céu, Cristo exerce Seu sacerdócio, como diz a Carta aos Hebreus: “por isso é capaz de salvar totalmente aqueles que, por meio dele, se aproximam de Deus, visto que ele vive eternamente para interceder por eles” (Hb 7,25). Jesus intercede, sem cessar, por nós como mediador que nos garante a efusão do Espírito Santo. E, como “sumo sacerdote dos bens vindouros” (Hb 9,11), ele é o centro e o ator principal da liturgia que honra o Pai nos Céus. Por isso São João pode escrever: “Filhinhos meus, isto vos escrevo para que não pequeis; mas, se alguém pecar, temos um intercessor junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo”. (I Jo 2,1)
Este é o quarto artigo de uma série de outros doze, explicando, resumidamente, cada um dos artigos do ‘Credo’.