Vamos refletir e aprender sobre o que diz a ‘Teologia da Prosperidade’
Jesus nunca ensinou que o Evangelho pudesse ser uma fonte de enriquecimento ou um meio de se levar uma vida regalada “em nome de Deus”; ao contrário, o Senhor ofereceu a renúncia e a cruz àqueles que O seguirem:
“Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz a cada dia e me siga. Porque quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la, mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Lc 9,23-24).
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com
Jesus fala de sacrifício, renúncia, de perder a própria vida; e diz que se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, não pode dar fruto (cf. Jo 12, 24). Isso está longe de ser um ensinamento de enriquecimento, porque se faz a vontade de Deus. Ele não é contra a riqueza justa e sabiamente usada para o bem de si mesmo e dos outros, mas isso está longe de justificar a ‘Teologia da Prosperidade’.
Teologia da Prosperidade
No entanto, os adeptos dessa teologia baseiam-se no Antigo Testamento para dizer que os homens de Deus foram ricos como Salomão, e que Jesus prometeu que veio para que tenhamos “vida em abundância”. (Jo 10,10)
Segundo a ‘Teologia da Prosperidade’, Deus concede riqueza e bens materiais a quem Lhe é fiel e paga o dízimo com generosidade; mas esta concepção está mal fundamentada. Todos os católicos devem dar a sua contribuição material à Igreja, para que ela possa prover suas necessidades materiais; isso é ensinado pelo Catecismo:
§2043 “Os fiéis cristãos têm ainda a obrigação de atender, cada um segundo as suas capacidades, às necessidades materiais da Igreja. O quinto mandamento [da Igreja] (“Ajudar a Igreja em suas necessidades”) recorda aos fiéis que devem ir ao encontro da necessidades materiais da Igreja, cada um conforme as próprias possibilidades (CDC, cân. 222)”.
O que diz o catecismo?
Nem o Catecismo nem outro documento da Igreja obrigam que o dízimo seja 10% do salário, embora muitos adotem isso na prática, o que é bonito. Mas o dízimo não pode ser uma troca com Deus; deve ser uma doação generosa de quem O ama gratuita e desinteressadamente.
Na mentalidade do Antigo Testamento, quando não se tinha uma noção clara da vida eterna, os antigos judeus julgavam que a recompensa de Deus para os bons seria neste mundo mesmo; mas esta concepção foi mudando, como se pode ver no livro de Jó, Eclesiastes, Daniel etc. A certeza da vida eterna e de uma recompensa muito melhor foi finalmente trazida por Jesus: “Dirá o rei aos que estiveram a sua direita: ‘Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde a fundação do mundo'”(Mt 25,26).
São Paulo completa: “O que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem jamais percebeu, eis o que Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2,9).
Leia mais:
.: Por que a Igreja cobra espórtulas e taxas?
.: O que Jesus sabe sobre o meu dinheiro?
.: Vamos falar de dinheiro?
.: A importância da esmola
Jesus não propôs riqueza nem prosperidade aos seguidores d’Ele. Prometeu sim, vida, e vida em abundância, não a vida mortal e sempre ameaçada que o homem conhece na terra, mas a vida imortal em comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A “Carta aos Hebreus” ensina que Deus nos corrige para o nosso bem: “É para a vossa educação que sofreis: Deus vos trata como filhos. Qual é, com efeito, o filho cujo pai não educa? Se sois privados da educação da qual todos participam, então sois bastardos e não filhos”. (Hb 12,7s)
Dessas palavras pode-se ver que é falso dizer que Deus paga em dinheiro e bens materiais a quem Lhe é fiel. São Paulo mostra os riscos do enriquecimento para quem não sabe se contentar com o que tem
; isto, o avarento: “A piedade é de fato grande fonte de lucro, mas para quem sabe se contentar. Pois nada trouxemos para o mundo, nem coisa alguma dele poderemos levar. Se, pois, temos alimento e vestuário, contentemo-nos com isso. Ora, os que querem se enriquecer caem em tentação e cilada, e em muitos desejos insensatos e perniciosos que mergulham os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desenfreado desejo alguns se afastaram da fé, e a si mesmos se afligem com múltiplos tormentos”. (1Tm 6,5-10)
Lição
E Jesus deu-nos uma lição importante quando do encontro com aquele jovem rico, que perdeu a coragem de segui-Lo por causa do dinheiro: “Jesus lhe respondeu: ‘Se quiseres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me’. O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso pois era possuidor de muitos bens. Então, Jesus disse aos seus discípulos: ‘Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus’. Ao ouvirem isso, os discípulos ficaram muito espantados e disseram: ‘Quem poderá então salvar-se?’. Jesus, fitando-os, disse: ‘Ao homem, isso é impossível, mas a Deus tudo é possível'”. (Mt 19,21-26).
O Brasil tomou conhecimento do triste caso do casal de “bispos” da igreja Renascer. Um juiz brasileiro, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, Paulo Antônio Rossi, decretou a prisão deles, em 11 janeiro de 2007 (Folha de SP), depois de terem sido presos nos EUA pelo FBI. O casal foi detido no aeroporto de Miami, na Flórida, em 9 de janeiro de 2007, pelo FBI, ao tentar entrar no país com US$ 56 mil não-declarados (mais de R$ 120 mil) em dinheiro vivo, que estava dentro de uma Bíblia, em um porta-CD e nas malas. No despacho, os promotores acusam Estevam e Sônia de continuar a praticar lavagem de dinheiro, dessa vez em solo norte-americano. Eles já respondem a esse mesmo tipo de crime na capital paulista.
No Brasil, Estevam e Sônia também são réus em processos por falsidade ideológica, estelionato e evasão de divisas. Desde então, já tiveram bens e contas bancárias sequestrados ou bloqueados pela Justiça. É o caso do haras em Atibaia (a 60 km de SP), comprado pela Renascer por R$ 1,8 milhão, e uma casa de praia, em Boca Raton, na Flórida, que vale US$ 470 mil (R$ 1,27 milhão).
Esses fatos confirmam os argumentos evangélicos apresentados de que a ‘teologia da prosperidade’ é uma farsa perigosa que tem enganado muitos. Pessoas bem intencionadas, às vezes desesperadas com os seus problemas, dão o que têm e, às vezes, o que não têm a essas “igrejas”; depois, ficam em situação pior ainda. Não é essa a vontade de Deus; Jesus alertou: “Cuidado com os falsos profetas! Pelos seus frutos os conhecereis”. (Mt 7,15-16)