A Imaculada Conceição: um dogma de fé
Há 150 anos em Lourdes, na França, Nossa Senhora apareceu para a menina Bernadette. Era o ano de 1858. Em 1854, o Papa Pio IX tinha proclamado solenemente o dogma da Imaculada Conceição de Maria. Então, quatro anos depois, a própria Virgem Maria, em pessoa, quis confirmar este dogma.
Foi quando, em 25 de março de 1858, na festa da Anunciação, revelou seu Nome a Santa Bernadette nas aparições de Lourdes. Disse-lhe ela:”Eu sou a Imaculada Conceição”. A partir daí, o padre Peyramale, que era o Cura de Lourdes, passou a acreditar nas aparições de Maria à pobre Bernadette, e com ele toda a Igreja.
A Nova Eva: Maria e a redenção da humanidade
Na plenitude dos tempos, diz o Apóstolo, Deus enviou Seu Filho ao mundo nascido de uma mulher (Gl 4,4). No ponto central da história da salvação, dá-se um acontecimento ímpar em que entra em cena a figura de uma Mulher. O mesmo Apóstolo nos lembra que não foi Adão o seduzido, mas a mulher (1Tm 2,14); portanto, devia ser também por meio da mulher que a salvação chegaria à Terra.
Para isso foi preciso que Deus preparasse uma nova Mulher, uma nova Virgem, uma nova Eva, que fosse isenta do pecado original, que pudesse trazer, em seu seio virginal, o Autor da salvação. A Mãe de Deus não poderia ter o pecado original. Como nenhum ser humano era livre do pecado e de Satanás, foi então preciso que Deus preparasse uma mulher livre, para que Seu Filho fosse também isento da culpa original, e pudesse libertar Seus irmãos.
A santidade de Jesus e a pureza de Maria
Assim, o Senhor antecipou para Maria, a escolhida entre todas, a graça da Redenção que seu Filho conquistaria com Sua Paixão e Morte. A Imaculada Conceição de Nossa Senhora foi o primeiro fruto que Jesus conquistou com Sua morte. E Maria foi concebida no seio de sua mãe, Santa Ana, sem o pecado original.
Como disse o cardeal Suenens: “A santidade do Filho é causa da santificação antecipada da Mãe, como o sol ilumina o céu antes de ele mesmo aparecer no horizonte.” O cardeal Bérulle explica assim: “Para tomar a terra digna de trazer e receber seu Deus, o Senhor fez nascer, na Terra, uma pessoa rara e eminente, que não tomou parte alguma no pecado do mundo e está dotada de todos os ornamentos e privilégios que o mundo jamais viu e jamais verá, nem na terra nem no céu”. (Con. Vidigal, Temas Marianos, p. 307).
O Anjo Gabriel lhe disse na Anunciação: “Ave, cheia de graça…” (Lc 1,28). Nesse “cheia de graça”, a Igreja entendeu todo o mistério e dogma da Conceição Imaculada de Maria. Se ela é “cheia de graça”, mesmo antes de Jesus ter vindo ao mundo, é porque é, desde sempre, toda pura, bela, sem mancha alguma, isto é, Imaculada.
A proclamação do dogma da Imaculada Conceição
Em 8 de dezembro de 1854, o Papa Pio IX declarava dogma de fé a doutrina que ensinava ter sido a Mãe de Deus concebida sem mancha por um especial privilégio divino. Na Bula Ineffabilis Deus, o Papa diz: “Nós declaramos, decretamos e definimos que a doutrina segundo a qual, por uma graça e um especial privilégio de Deus Todo-poderoso, e em virtude dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, a Bem-aventurada Virgem Maria foi preservada de toda a mancha do pecado original no primeiro instante de sua conceição, foi revelada por Deus e deve, por conseguinte, ser crida firme e constantemente por todos os fiéis.”
É de notar que, em 1476, a festa da Imaculada foi incluída no Calendário Romano. Em 1570, o Papa Pio V publicou o novo Ofício; em 1708, o Papa Clemente XI estendeu a festa a toda a Cristandade tornando-a obrigatória.
Os padres da Igreja e a Imaculada Conceição
Neste seio virginal, diz S. Luiz, Deus preparou o “paraíso do novo Adão” (Tratado da Verdadeira Devoção , n. 18). Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja e ardoroso defensor de Maria, falecido em 1787, disse: “Maria tinha de ser medianeira de paz entre Deus e os homens. Logo, absolutamente não podia aparecer como pecadora e inimiga de Deus, mas só como Sua amiga, toda imaculada” (Glórias de Maria, p. 209). E ainda: “Maria devia ser mulher forte, posta no mundo para vencer Lúcifer e, portanto, devia permanecer sempre livre de toda mácula e de toda a sujeição ao inimigo” (idem, p. 209).
São Bernardino de Sena (1444) diz a Maria: “Antes de toda criatura fostes, ó Senhora, destinada, na mente de Deus, para Mãe do Homem Deus. Se não por outro motivo, ao menos pela honra de seu Filho, que é Deus, era necessário que o Pai Eterno a criasse pura de toda mancha” (GM, p. 210). Diz o livro dos Provérbios: “A glória dos filhos são seus pais” (Pr 17,6); logo, é certo que Deus quis glorificar Seu Filho humanado também pelo nascimento de uma Mãe toda pura.
São Tomas de Vilanova (1555), chamado de São Bernardo espanhol, disse em sua teologia sobre Nossa Senhora: “Nenhuma graça foi concedida aos santos sem que Maria a possuísse desde o começo em sua plenitude” (GM, p. 211).
Leia mais:
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.: Segredos da Virgem Maria | Maria no Antigo Testamento
.: Segredos da Virgem Maria | Maria no Novo Testamento
.: Segredos da Virgem Maria | Maria na Igreja
A visão dos santos sobre a Imaculada Conceição
São João Damasceno, doutor da Igreja (749), afirma que “Há, porém, entre a Mãe de Deus e os servos de Deus, uma infinita distância” (GM, p. 211). E pergunta S. Anselmo, bispo e doutor da Igreja (1109), e grande defensor da Imaculada Conceição se “Deus, que pôde conceder a Eva a graça de vir ao mundo imaculada, não teria podido concedê-la também a Maria? A Virgem, a quem Deus resolveu dar Seu Filho Único, tinha de brilhar numa pureza que ofuscasse a de todos os anjos e de todos os homens e fosse a maior imaginável abaixo de Deus” (GM, p. 212).
É importante notar que Santo Afonso de Ligório afirma: “O espírito mal buscou, sem dúvida, infeccionar a alma puríssima da Virgem, como infeccionado já havia com seu veneno a todo o gênero humano. Mas louvado seja Deus! O Senhor a preveniu com tanta graça, que ficou livre de toda mancha do pecado. E dessa maneira pode a Senhora abater e confundir a soberba do inimigo” (GM , p. 210).
Maria, concebida sem pecado
Nenhum de nós pode escolher sua Mãe; Jesus o pode. Então pergunta Santo Afonso: “Qual seria aquele que, podendo ter por Mãe uma rainha, a quisesse uma escrava? Por conseguinte, deve-se ter por certo que a escolheu tal qual convinha a um Deus” (GM, p. 213).
Quando Deus eleva alguém a uma alta dignidade, também o torna apto para exercê-la, ensina São Tomás de Aquino. Portanto, tendo eleito Maria para Sua Mãe, por Sua graça a tornou digna de ser livre de todo pecado, mesmo venial, ensinava São Tomás; caso contrário, a ignomínia da Mãe passaria para o Filho (GM, p. 215).
Nesta mesma linha, afirmava Santo Agostinho de Hipona, Bispo e doutor da Igreja (430), já no século V: “Nem se deve tocar na palavra pecado em se tratando de Maria; e isso por respeito Àquele de quem mereceu ser a Mãe, que a preservou de todo pecado por sua graça” (GM, p. 215).
Maria, Cheia de Graça
Pergunta São Cirilo de Alexandria (370-444), bispo e doutor da Igreja: “Que arquiteto, erguendo uma casa de moradia, consentiria que seu inimigo a possuísse inteiramente e habitasse?” (GM, p. 216). São Bernardino de Sena ensina que Jesus veio para salvar a todos, inclusive Maria. Contudo, há dois modos de remir: levantando o decaído ou preservando-o da queda. Este último modo Deus aplicou a Maria.
Podendo o Espírito Santo criar Sua Esposa toda bela e pura, é claro que assim o fez. É dela que fala: “És toda formosa minha amiga, em ti não há mancha original” (Ct 4,7). Chama ainda Sua Esposa de jardim fechado e fonte selada (Ct 4,12), onde jamais os inimigos entraram para ofendê-la.
Ave, cheia de graça! Aos outros santos a graça é dada em parte, contudo, a Maria foi dada em sua plenitude. Assim a graça santificou não só a alma, mas também a carne de Maria, a fim de que com ela revestisse depois o Verbo Eterno, afirma São Tomás (GM, p. 220).
Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!