A ameaça silenciosa que entra em casa pelas telas
A crise da saúde mental que assola a juventude contemporânea não é apenas um fenômeno sociológico, mas um profundo desafio espiritual e formativo para a família cristã. A psicóloga Adriana Poteschi, em sua análise incisiva, lança uma pergunta que ressoa como um sino de alarme: Por que, se os pais jamais ofereceriam substâncias nocivas como o cigarro eletrônico ou a cocaína a seus filhos, permitem o contato diário e desregulado com a tecnologia? A comparação, embora forte, é fundamentada na ciência: a dependência de eletrônicos, ao alterar a mesma área cerebral afetada por drogas graves, revela-se um vício com potencial destrutivo equivalente, minando a saúde mental e a própria essência do ser.
Consequências reais de um mundo virtual sem limites
Os dados são estarrecedores e exigem uma reflexão imediata. O aumento de 43% no TDAH, 37% na depressão e o assustador crescimento de 200% no risco de suicídio entre crianças e adolescentes não podem ser ignorados como meros números. Eles são o grito silencioso de uma geração que está sendo roubada de sua infância e de sua capacidade de desenvolver-se plenamente. O uso excessivo de telas não apenas causa déficits de atenção e atrasos cognitivos, mas também fomenta a impulsividade e a dificuldade em lidar com sentimentos, como a raiva, resultando em maior agressividade e, em casos extremos, em quadros como a anorexia emocional e a solidão profunda.
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Para a visão católica, a questão transcende a neurociência e toca o cerne da formação da alma. O isolamento no quarto, a fobia social e a automutilação são sintomas de um mal maior: o enfraquecimento da espiritualidade. O autor ateu Jonathan Haidt, em seu livro “A Geração Ansiosa”, oferece uma constatação poderosa: o uso desmedido de eletrônicos leva ao enfraquecimento da espiritualidade. Ele afirma que “ações virtuosas levam a pessoa mais perto de Deus, enquanto ações egoístas e repulsivas afastam de Deus e às vezes aproximam de uma antidivindade”.
A escravidão da gratificação imediata
Neste contexto, a tecnologia, quando não santificada e controlada, torna-se um veículo para o egoísmo e a manipulação. O vício treina o cérebro da criança e do adolescente a buscar a gratificação imediata e a manipular o ambiente, inclusive os pais, para manter o acesso ao aparelho. O “normal” de hoje, o isolamento e a recusa ao afeto familiar, é, na verdade, um sinal de que a sociedade, e por extensão a família, está doente.
A Igreja, como mãe e mestra, convoca os pais católicos a uma urgente retomada da presença e da autoridade formativa. Não se trata de demonizar a tecnologia, mas de restaurar a hierarquia de valores, onde o sagrado, o contato humano e a virtude precedem o digital. O afastamento de Deus e da própria essência é a maior tragédia desta geração. É imperativo que os pais resgatem seus filhos, tirando-os do domínio da “antidivindade” digital e reconduzindo-os ao caminho das ações virtuosas que os elevam ao encontro com o Sagrado. A salvação desta geração ansiosa passa, necessariamente, pela coragem dos pais em dizer “não” ao que vicia e “sim” ao que verdadeiramente forma o coração para Deus.






