Recordo-me claramente daquela noite, quando pela primeira vez participei de um grupo de oração e experimentei os efeitos do amor de Deus em minha vida. Saí do lugar com uma sensação diferente, semelhante a que sentimos quando estamos apaixonados, o mundo parecia ter um colorido especial e apesar dos problemas serem os mesmos, já não tinham tanto peso. Não sei explicar ao certo o que aconteceu, mas passei por uma profunda mudança interior. De imediato, comecei a empenhar-me para que cada vez mais pessoas pudessem experimentar a mesma graça e, desde então, grande parte de minha vida é empenhada nesse objetivo. Sou feliz vivendo assim e realizo-me ao perceber que, por intermédio do meu ninistério, Deus chega ao coração de tantos dia a dia.
Porém, partilho com você uma experiência desconcertante que vivi dias atrás enquanto fazia o estudo diário da Palavra.
Em Apocalipse 2, 10 o Senhor diz: “Conheço as tuas obras e o teu trabalho… sofreste, e tens paciência; trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Porém tenho contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te, e volta […]”.
Levei um susto ao perceber que Deus falava diretamente comigo naquele trecho da Sagrada Escritura e tenho rezado pedindo a graça de um reavivamento interior. Então, com este propósito, comecei a ler e a refletir a respeito da perseverança. Foi quando encontrei a seguinte história: “Conta-se que um religioso, nos primeiros cinco anos de seu ministério, manteve um quadro em sua escrivaninha que dizia: ‘Ganhe o mundo para Cristo’. Nos cinco anos seguintes, trocou o quadro para: ‘Ganhe um ou dois para Cristo’. Depois dos primeiros dez anos de seu ministério, o quadro de sua escrivaninha dizia: ‘Tente não perder muitos’. Até que um dia enquanto organizava seu armário encontrou o primeiro quadro e ficou surpreso ao perceber o quanto havia se afastado da meta, fez uma revisão de vida e voltou a colocar o primeiro quadro de volta em sua escrivaninha.”
É só uma história, mas nos leva a pensar em nossos propósitos de vida cristã e nos propõe recomeçar. Fico pensando, enquanto escrevo, nas vezes em que me comprometi diante de Deus, e a partir de coisas simples, levada por inúmeras situações, acabei por me esquecer.
Pense agora nas vezes em que você afirmou, por exemplo: “Eu nunca mais faço isso!” Ou ainda: “Daqui para frente vou agir diferente”… Conseguiu cumprir o propósito? A resposta nem sempre é positiva, ou seja: falta-nos perseverança. E esse é um dos graves problemas que afetam nossa geração. Somos constantemente estimulados a buscar o prático, o imediato e o fácil. Tudo que nos custa sacrifício, tendemos a rejeitar. Desde esperar um pouco mais na fila do banco até cultivar uma planta ou lavar uma roupa à mão, escrever uma carta, etc.
A perseverança é uma das mais belas e exigentes virtudes encontradas na vida cristã, é considerada a base para alcançar as vitórias. Aliás, acredito que o motivo de encontrarmos tantas pessoas infelizes, frustradas e desmotivadas, em nossos dias, está ligado também à falta dessa virtude [perseverança]. Quem não lutou por conquistar algo, não tem muito o que comemorar.
O problema é que quem deseja perseverar, deve saber que precisa renunciar algumas coisas. O atleta que pretende perseverar na carreira, certamente vai ter de renunciar ao grande consumo de chocolate, por exemplo. O cristão, por sua vez, se deseja perseverar em sua “carreira”, deve renunciar a tudo que o impede de viver dignamente como filho amado de Deus, inclusive quando se trata de relacionamentos.
Não é tarefa fácil, a renúncia sempre causa dor, mas só se alcança a vitória lutando por ela.
Continuando a ler a passagem em Apocalipse 2, encontramos no versículo 13 o seguinte: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida.” Ou seja, persevere que vale a pena! E tudo isso tem a ver com o primeiro amor, porque sem perseverarmos não conseguiremos manter acesa a chama da caridade em nossa alma, e sem a caridade, nada tem sentido.
Talvez as inúmeras atividades que fomos assumindo tenham nos afastado da meta e de nossos primeiros propósitos, mas Deus nos oferece a chance de recomeçar. E este é o momento! Lembrando que o Senhor está muito mais interessado em nosso coração do que nas obras que realizamos em nome d’Ele. Façamos uma revisão de vida e deixemo-nos conduzir por Seu amor.
Proponho vivermos a experiência daquele religioso da história. Vamos organizar nosso “armário interior” e procurar o quadro onde nosso primeiro propósito está escrito. Quando o encontrarmos, tenhamos a coragem de colocá-lo de volta na nossa “escrivaninha” e retomemos, com coragem, nosso propósito inicial. Se dermos os primeiros passos com decisão o Senhor nos ajudará a perseverarmos.
Estamos juntos!